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Edmo Atique Gabriel

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Covid-19 em crianças: afinal, o que precisamos saber?

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

22/01/2022 04h00

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Diante de tantas polêmicas e discussões acerca da aplicação das vacinas nas crianças, é quase impossível não retomar a discussão acerca da covid-19 e suas particularidades. Só que desta vez quero trazer um enfoque mais aprofundado sobre o impacto desta pandemia nas crianças e quais seriam as perspetivas futuras para o público infantil.

Na rotina de consultório, muitos pais têm procurado diferentes especialidades médicas fazendo uma pergunta muito direta: "devemos vacinar nossos filhos"? Em decorrência de tantas informações, algumas comprovadas e outras não, ainda existem motivos para que haja esta apreensão por parte dos pais.

Desta forma, algumas informações já estabelecidas entre a covid-19 e as crianças merecem compartilhamento. Todas estas informações apresentadas a seguir são oriundas de vários estudos populacionais realizados a partir de janeiro de 2020 e, portanto, não refletem um posicionamento particular ou individual.

Informação 1

Do ponto de vista populacional global, existe uma menor prevalência de infecção por covid-19 nas crianças em comparação com adultos.

Informação 2

Crianças com covid-19 não costumam apresentar sintomas acentuados nem necessitar de hospitalização.

Informação 3

As crianças não parecem ser importantes transmissores da infecção por covid-19.

Informação 4

Os principais grupos de risco, na faixa etária infantil, para infecção por covid-19, seriam crianças com câncer, crianças que foram submetidas a um transplante de medula, crianças portadoras de uma doença chamada fibrose cística e crianças com algum quadro de imunodepressão (redução da imunidade por efeito de algum medicamento ou por doenças).

Informação 5

Os principais sinais/sintomas de uma infecção por covid-19 em crianças costumam ser febre, coriza (corrimento nasal), tosse, sintomas digestivos, dor de cabeça e mialgia (dores musculares).

Informação 6

As crianças com covid-19 costumam adquirir a doença por uma transmissão oriunda de um adulto; muito ocasionalmente a partir de outra criança.

Informação 7

O coronavírus já foi identificado nas fezes de populações infantis. Apesar disto, a ocorrência de transmissão orofecal (quando os hábitos de higiene podem determinar a transmissão) do coronavirus não tem sido significativa. A transmissão por meio das gotículas respiratórias ainda tem sido predominante em crianças e adultos.

Informação 8

Apesar das crianças não serem aparentemente importantes transmissores da infecção por covid-19, as regras de isolamento e de restrição, quando recomendadas, têm englobado igualmente crianças e adultos.

Informação 9

A resposta imunológica das crianças é diferente em relação aos adultos e isto poderia explicar uma menor suscetibilidade da população infantil, no tocante a infecção por covid-19.

Informação 10

Uma das principais complicações da infecção por covid-19 nas crianças, tem sido a síndrome inflamatória multissistêmica. Consiste em um quadro inflamatório acentuado, comprometendo estruturas como pele e órgãos da digestão e podendo resultar em um estado de choque —quando o fluxo sanguíneo e a oxigenação dos tecidos orgânicos ficam significativamente reduzidos.

Após estas ponderações, todas fundamentadas em estudos populacionais, tenho certeza de aquela questão muito frequente nos consultórios, acerca de aplicar a vacina ou não aplicar nas crianças, continua causando certa apreensão.

No entanto, quando consideramos que as crianças estão retomando sua rotina de socialização nas escolas, que o risco de transmissão existe mesmo sendo de menor grau e que a infecção por covid-19 pode comprometer uma criança de acordo com seu estado de imunidade, seria mais prudente vacinar as crianças e permitir que, caso haja um contato mais denso com o coronavírus, as defesas orgânicas destas crianças estejam potencializadas.

Quando o assunto é coronavírus na população infantil, precisamos primeiramente conhecer aquilo que já está bem estabelecido e documentado sobre este assunto, mas jamais abrir mão da prudência e da precaução.