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Edmo Atique Gabriel

REPORTAGEM

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Qual a importância da febre para nossa saúde? Entenda por que ela é aliada

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

11/09/2021 04h00

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Algumas manifestações clínicas atuam como verdadeiros sinais de alerta em relação a nossa saúde. Umas delas seria a febre, um sinal indicativo de algo errado que está acontecendo e apontando para necessidade de buscar orientação médica, visando interpretar adequadamente tudo o que pode estar ocorrendo em nosso corpo.

Nosso corpo produz calor de uma forma fisiológica e natural, a partir de alguns gatilhos, como nossa alimentação e também a prática de algum tipo de atividade física. Esta produção natural de calor denomina-se termogênese, a qual não pode ser confundida com a febre.

Vamos entender melhor: quando nos alimentamos no dia a dia, para fins de sobrevivência e de suporte para nosso metabolismo, estamos ingerindo nutrientes que, quando digeridos em nosso sistema digestivo, produzem energia e calor para nossas funções orgânicas. Quando praticamos alguma atividade física, induzimos uma ativação de nossa circulação sanguínea e maior velocidade das reações químicas orgânicas, gerando também calor.

No caso específico da febre, a temperatura do corpo atinge valores crescentes (geralmente acima de 37,4 graus) e muitas vezes proporcionais à magnitude do processo patológico que está acometendo nosso organismo.

Tecnicamente a febre não é um sinal clínico derivado do consumo alimentar, nem de uma prática esportiva saudável. Existe uma estrutura em nosso cérebro que, quando estimulada por um agente patológico, determina a elevação da temperatura, exatamente como uma forma de mostrar que existe algo acontecendo que não é "normal".

Outro aspecto muito importante e interessante sobre a febre é que temos a tendência de achar que, quando alguém está febril, necessariamente existe algum germe (bactérias, vírus e fungos) em nosso corpo. Nem sempre isto acontece, porque um processo inflamatório, sem associação com germes, também é capaz de produzir febre.

Querem ver um exemplo clássico de febre sem associação com germes: o câncer. Alguns tipos de câncer, como os linfomas por exemplo, caracterizam-se por alguns sinais clínicos como a presença de nódulos em alguns pontos específicos do corpo e um quadro febril comumente mais perceptível no fim da tarde.

Recentemente, o ex-jogador de futebol Caio Ribeiro, hoje comentarista da TV Globo, declarou estar enfrentando uma luta contra um certo tipo de linfoma, que apresenta este comportamento febril.

Ao longo da vida, teremos de conviver com a febre, de tal forma que ela deve ser considerada como nossa aliada para instruir tanto a melhor precisão diagnóstica como o melhor direcionamento terapêutico. A febre pode se apresentar em situações corriqueiras como em alguns quadros mais complexos. Vejam adiante:

Situação 1

A criança está em desenvolvimento e seus primeiros dentes começam a aparecer.

Situação 2

As crianças podem conviver com muitos episódios de infecção de garganta, devido a inflamação das amígdalas.

Situação 3

Você vai passar um feriado na praia e come algum alimento contaminado com germes como Salmonella. Começa a apresentar vários episódios de diarreia associados com febre.

Situação 4

Você vai jogar futebol com os amigos e, durante uma disputa de bola, recebe um chute muito forte. O local atingido começa a ficar avermelhado e inchado, e você começa a apresentar episódios de febre.

Situação 5

Você está muito debilitado devido ao excesso de trabalho e estresse. Devido às mudanças climáticas, você fica gripado e começa a apresentar muita prostração e febre.

Situação 6

Retomando o caso do ex-jogador Caio Ribeiro. Um certo dia você sente a presença de um nódulo estranho em seu corpo. Este nódulo, popularmente conhecido como "íngua" pode estar presente na região do pescoço, atrás da cabeça e nas virilhas. Associado ao nódulo, você nota um certo grau de prostração, inapetência e presença da chamada febre vespertina —presença de elevação da temperatura nos finais de tarde.

Situação 7

Você é uma pessoa que pratica atividade física com muita intensidade e transpira de forma profusa. No entanto, você não se preocupa com a questão da hidratação e cada vez mais perde água e sais minerais pela transpiração excessiva. Este quadro de desidratação pode causar febre.

Situação 8

Uma pessoa portadora de doenças que causam deficiência das defesas orgânicas, como a Aids (síndrome da imunodeficiência adquirida), pode conviver com a queda acentuada de seus glóbulos brancos no sangue e episódios de febre.

Situação 9

Em tempos de pandemia, você se contamina com o coronavírus e, alguns dias depois, começa a apresentar sinais de pneumonia, insuficiência respiratória e febre. Lembrando que o coronavírus pode ser considerado como um agente patológico "novo" e que ataca nossos pulmões inicialmente, a febre sem dúvida seria uma condição de alerta para este diagnóstico.

Situação 10

Ainda sobre a pandemia, você vai se vacinar contra o coronavírus. Algumas horas após ter sido vacinado(a), você começa a sentir mal-estar, prostração e febre.

A popular "febre interna"

Por fim, gostaria também de comentar sobre o conceito de "febre interna". Embora seja um conceito mais popular, o que se chama de "febre interna" seria a sensação de calor no corpo, com sintomas associados, sem que haja a confirmação desta febre pelo termômetro.

Podemos dizer que a "febre interna" representaria a luta de nosso organismo contra algum agente inflamatório ou infeccioso, seria uma determinada etapa deste processo de luta, na qual a febre, do ponto de vista da mensuração no termômetro, não estaria estabelecida. Mas já existe um aumento da temperatura corpórea nitidamente perceptível por quem está apresentando este quadro.

Precisamos desmistificar que febre é indicativa de doença. A febre deve ser encarada como nossa aliada, ainda que sua presença corresponda ao insucesso de um tratamento previamente estabelecido. A febre deve ser vista como um parâmetro para avaliar melhor as hipóteses diagnósticas, o planejamento terapêutico e o prognóstico de muitos quadros.

Para saber mais sobre a saúde do coração, me acompanhe no Instagram: @edmoagabriel.