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Edmo Atique Gabriel

Como está sua circulação sanguínea? Risco de trombose é real na pandemia

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

06/09/2020 04h00

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Em tempos de pandemia, um assunto que tem despontado e amedrontado todas as pessoas é o índice elevado de tromboses. E aqui já cabe uma primeira observação —as tromboses podem acometer as veias (trombose venosa) ou as artérias (trombose arterial). Ambos os tipos de trombose são perigosos, podendo culminar com eventos fatais.

O conhecimento médico acerca das propriedades patológicas do coronavírus permite estabelecer uma relação entre o processo inflamatório desencadeado pelo vírus e a maior ocorrência das tromboses. A despeito desta realidade, vamos discutir e focar nos efeitos da mudança de estilo de vida que a pandemia tem acarretado e a influência direta destes efeitos no índice elevado de tromboses venosas e arteriais.

Para fins de compreensão do que seria uma trombose venosa e trombose arterial, podemos pontuar que um trombo consiste num agregado de células e resíduos, exercendo um efeito de "rolha " dentro das veias ou artérias, ou seja, entupindo o vaso sanguíneo e interrompendo a passagem do sangue.

Existem diferenças clínicas entre a trombose venosa e a trombose arterial. Quando o entupimento é venoso, os principais sinais e sintomas são inchaço, vermelhidão da pele, aumento da temperatura da pele no local afetado e dor.

No caso do entupimento arterial, as principais manifestações são palidez da pele no local afetado, pele fria e dor geralmente mais intensa e limitante quando comparada a dor do entupimento venoso.

Os fatores causais de ambas as tromboses estão intimamente correlacionados a mudança de estilo de vida produzida pela pandemia. Basicamente, a necessidade de permanecer mais tempo em casa, de forma mais restrita, associada a impossibilidade de manter a prática regular de atividade física, é o principal aspecto prejudicial a qualidade de nossa circulação sanguínea.

O segundo aspecto de destaque é que, ficando mais tempo em casa, o peso corpóreo das pessoas aumentou e alguns hábitos como tabagismo e etilismo tornaram-se menos censurados. A pandemia tem causado muitas alterações emocionais e, muitas vezes, o escape encontrado pelas pessoas para obter algum alívio tem sido por meio da comilança de gorduras e açúcares, consumo desordenado de bebidas alcoólicas e cigarro.

Imaginando este cenário de isolamento dentro das casas, os maiores "companheiros" das pessoas têm sido o sofá, a cama, os seriados, os programas de televisão e, considerando o trabalho em home office, muito tempo sentado(a) na mesma posição.

Esta questão postural totalmente inadequada é a maior causa de lentidão do fluxo sanguíneo dentro de veias e artérias. Podemos chamar esta lentidão de fluxo de uma estase da circulação, ou seja, o sangue começa a ficar represado e armazenado por mais tempo dentro de uma veia ou artéria, gerando turbilhonamento do fluxo e consequente formação de um trombo.

A qualidade da circulação sanguínea depende dos movimentos do corpo, do deslocamento tanto dos membros inferiores como superiores. No caso dos membros inferiores, os músculos da panturrilha ("batata da perna") desempenham papel fundamental no bombeamento do sangue e, em virtude desta função, são chamados de "coração periférico".

Mas o adequado bombeamento por parte destes músculos depende de movimentos ativos do corpo durante o dia. Isto explica, por exemplo, maior ocorrência de tromboses em pessoas acamadas, debilitadas ou incapazes de caminhar por alguma restrição motora.

E qual seria o tratamento para obtenção de uma circulação sanguínea mais ativa e mais dinâmica?

Os remédios não deveriam ser a primeira opção. O melhor a se fazer é caminhar bastante, fazer atividades físicas, alongar os membros inferiores e superiores e buscar algumas práticas que aumentem a capacidade de bombeamento de nosso "coração periférico", tais como nadar e andar de bicicleta.

As medicações seriam utilizadas num segundo momento, quando absolutamente necessário, sendo que a aspirina e a heparina poderiam ser cogitadas neste plano profilático e terapêutico.

Os erros da alimentação, associados aos efeitos deletérios do etilismo e tabagismo, precisam ser corrigidos de forma imediata, primeiramente considerando o bem-estar individual e a longevidade saudável. Por meio de uma clara conscientização, as pessoas deveriam priorizar os alimentos mais saudáveis como saladas, castanhas, frutas, carnes brancas e carboidratos integrais.

Além disso, consumir mais água e sucos naturais, em detrimento dos refrigerantes e bebidas alcoólicas. Existem estudos mostrando que o baixo consumo de água, menos de 1 litro ao dia, pode aumentar o risco de tromboses.

Não é interessante depositar toda a confiança em remédios que controlem os níveis de açúcar e gorduras no sangue, sem que as pessoas façam também a sua parte, cuidando de seus hábitos alimentares.

Este cenário de maior sedentarismo provocado pela pandemia, tem favorecido o ganho de peso corpóreo e maiores taxas de obesidade, acometendo pessoas de todas as faixas etárias. As pessoas obesas têm maior dificuldade para caminhar devido a possíveis problemas nas articulações e baixa capacidade respiratória. Dessa forma, é indiscutível que as pessoas obesas apresentem maior propensão para tromboses.

As tromboses venosa e arterial, como comentado anteriormente, apresentam manifestações clínicas consideráveis, podendo inclusive aumentar o risco de morte. E é exatamente isto que eu gostaria de salientar, como mensagem final, caso ainda haja dúvidas sobre a necessidade de se fazer de tudo para prevenir uma trombose.

Todos já devem ter ouvido falar sobre embolia pulmonar, uma patologia tenebrosa que mata em larga escala. Os casos de embolia pulmonar estão diretamente correlacionados com a formação de trombos, principalmente trombose venosa dos membros inferiores.

Quando um trombo se forma dentro de uma veia dos membros inferiores, existe a iminência de descolamento deste trombo, alcançando a circulação dos pulmões e causando a embolia pulmonar, a qual consiste na interrupção do fluxo sanguíneo para os pulmões. Embolia pulmonar muitas vezes é fatal porque o baixo fluxo sanguíneo para os pulmões gera sobrecarga no coração e este, por sua vez, pode seguir dois caminhos: suportar esta sobrecarga por mais tempo até falir ou parar de bater muito rapidamente.

Esta correlação entre trombose venosa e embolia pulmonar tem sido frequentemente identificada em pessoas que usam, como automedicação, hormônios como anticoncepcionais e anabolizantes.

Qualquer quadro de trombose requer atenção especial quanto a percepção precoce dos sintomas e a implementação de medidas profiláticas e terapêuticas. Não devemos, também, subestimar as consequências de uma trombose e, para isto, entender que trombose pode matar é fundamental.

Em tempos de pandemia, o risco de trombose acompanha nossa rotina, sendo primordial restabelecer a prática de caminhadas e atividades físicas, mesmo que dentro de casa, além de atentar para a qualidade de nossa alimentação.

Caso queira ler mais sobre saúde do coração, acesse meu site: https://coracaomoderno.com.br/.