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Edmo Atique Gabriel

Infarto do coração não escolhe idade

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

12/01/2020 04h00

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Durante muito tempo, os indivíduos com menos de 50 anos pouco ou nada se preocupavam com um "fantasma" chamado infarto agudo do miocárdio. Havia o conceito de que o indivíduo jovem poderia até morrer de uma forma acidental, mas não de uma doença que era sinônimo de cabelos brancos e rugas no rosto.

Ledo engano! As mudanças culturais e epidemiológicas da população, que visivelmente repaginaram a figura do homem moderno, trouxeram à baila um novo perfil de adulto jovem —indivíduo muito estressado, com muitas responsabilidades financeiras e profissionais, que se alimenta mal e que não se cuida rotineiramente.

A tragédia estava então mais do que anunciada, espreitava-se um desfecho absolutamente desfavorável: a população jovem começou a morrer em larga escala por infarto agudo do miocárdio.

A fisiologia cardíaca ensina que, quando ocorre entupimento de uma artéria coronária, vaso sanguíneo responsável pela irrigação do músculo cardíaco, o provimento de fluxo ainda assim pode ser satisfatório, graças a existência de pequenos vasos sanguíneos colaterais. Simplificando, quando existe circulação colateral no coração, as pessoas podem suportar e inclusive sobreviver a ocorrência de um infarto miocárdico.

Eis o fulcro do problema. A circulação colateral demanda tempo para se constituir no músculo cardíaco e desempenhar o fundamental papel de compensar eventuais entupimentos arteriais. Demandar tempo implica em longevidade, em maior quantidade de anos de vida com qualidade associada.

Assim, dentre as escassas desvantagens da juventude, pode-se destacar a insignificante quantidade de circulação colateral no coração.

Essa é a causa mais determinante do infarto agudo do miocárdio em indivíduos com menos de 50 anos. O aspecto mais agravante é que, na população jovem, o infarto miocárdico costuma ser fulminante, ou seja, mata nas primeiras horas, sem muitas possibilidades de salvamento ou tratamento complementar.

Algumas medidas podem ser adotadas, visando confrontar esta nefasta realidade de elevadas taxas do infarto miocárdico fulminante em indivíduos jovens. A primeira medida é jamais abandonar a prática regular de exercícios físicos.

E aqui vai uma dica relevante —exercício físico não implica necessariamente em estar frequentando regularmente uma academia. Todos nós podemos e somos capazes de criar opções saudáveis de exercícios na rotina diária, como por exemplo substituir o carro pela caminhada ou bicicleta, utilizar mais as escadas do que elevadores e realizar atividades que agreguem a movimentação corpórea e o relaxamento mental. Todo este esforço é válido, uma vez que a regularidade da atividade física promove incremento na circulação colateral do coração.

A segunda medida essencial, para induzir a formação de vasos colaterais, requer cuidados com a alimentação diária, evitando o consumo exagerado de gorduras saturadas, gorduras trans e alimentos ricos em açúcares refinados. Considerando que muitos alimentos e suas propriedades antioxidantes têm sido indicados para longevidade saudável, é interessante procurar profissionais que possam orientar acerca destes conceitos nutrológicos.

Contudo, somente manter a prática regular de atividade física e alimentação equilibrada podem não garantir resultados ótimos, se alguns hábitos deletérios forem mantidos. Neste contexto, é mandatório enfatizar que a população jovem consome demasiadamente álcool, fuma desenfreadamente e muitas pessoas ainda acrescentam, a esta maléfica rotina de vícios, o consumo de drogas ilícitas.

Sendo assim, os indivíduos jovens precisam tomar uma decisão —buscar a longevidade saudável, sendo mais produtivos intelectualmente ou verdadeiramente sucumbir a limitação biológica de seus corações, encerrando precocemente seu ciclo produtivo. Que o bom senso prevaleça, permitindo que os indivíduos jovens valorizem a vida e a força motriz da juventude.