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Edmo Atique Gabriel

2020 está aí: ansioso por soluções concretas para as doenças do coração

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

15/12/2019 04h00

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A medicina cardiovascular não pode parar. E 2020 está aí, ansioso por novidades, inovações e soluções concretas para tantas doenças cardiovasculares com altíssimo índice de mortalidade.

A pesquisa em ciências da saúde, notadamente no âmbito cardiovascular, requer a contínua integração entre ciências básicas, ciências clínicas e a indústria. O maior incentivo para esta integração é a realidade de que as doenças cardiovasculares não escolhem faixa etária nem classe social e, quando diagnosticadas em estágio avançado, são inexoravelmente letais.

O espocar de um novo ano não deveria consolidar o conformismo, mas por outro lado sedimentar a inquietude dos centros de pesquisa e pesquisadores, na busca de mais soluções e inovações.

Existem ainda desafios complexos a superar e certamente existe demanda de tempo para isto. Obviamente que não podemos atribuir ao ano de 2020 todo este fardo, mas podemos implementar novas metas, ações e soluções se efetivamente os três pilares —ciências básicas, ciências clínicas e indústria— estiverem atuando em equilíbrio, compensando as limitações de um com as iniciativas do outro.

Ainda enfrentamos a doença de Chagas, uma patologia descrita em 1909 e que tem relação direta com as condições de moradia e higiene. Nas últimas décadas, temos notado que o câncer e as terapias para tal são extremamente prejudiciais à boa função cardiovascular —em outras palavras, o câncer e a doença cardiovascular se uniram para nos matar em maior escala.

A insuficiência cardíaca e o transplante de coração ora se casam, ora se divorciam, lamentavelmente não vivem a paz de um matrimônio eterno e, em meio a isto, os dispositivos mecânicos ou "coração artificial" ainda requerem mais pesquisas, mais análises de custo e mais desburocratização.

A cirurgia cardiovascular tem vivenciado a era das técnicas de mínima invasão, por meio de incisões menores e incorporação tecnológica. No entanto, um dos sustentáculos da cirurgia cardiovascular —a chamada circulação extracorpórea— ainda se comporta de forma dicotômica.

Explicando melhor —por meio da circulação extracorpórea, o cirurgião cardiovascular consegue parar o coração, esfriar e esquentar a temperatura corpórea, abrir o coração e operá-lo. Fantástico!

Porém este circuito artificial de circulação gera um processo inflamatório que, quando acentuado, pode até matar. Ainda precisamos buscar soluções concretas e efetivas. A pesquisa cardiovascular deve buscar cirurgias cada vez menos invasivas, mas é mister que haja também cada vez menos carga inflamatória.

Algumas terapias que constantemente permeiam o universo de várias especialidades médicas, como a imunoterapia e as células-tronco, poderiam ter mais destaque em 2020, sendo úteis não para algum tipo de patologia cardiovascular, mas preferencialmente com maior amplitude de aplicação clínica.

O ano de 2020 já deve estar cansado. Afinal, ele nem começou e a ele tantas atribuições e metas foram alocadas. Não há outra alternativa, pois as doenças cardiovasculares permanecem firmes e novas soluções precisam aparecer.

Os centros de pesquisa e pesquisadores brasileiros têm talento inquestionável para isto e as pessoas, sobretudo as mais carentes, geralmente têm pouco tempo para esperar. Talvez seja esta a perspectiva magna para 2020, quanto a medicina cardiovascular: a produção de soluções tem de superar a velocidade do tempo.