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Dante Senra

O que fez a expectativa de vida aumentar no mundo? Tenacidade humana e mais

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

10/01/2021 04h00

Parece indiscutível que um dos maiores indicadores de desenvolvimento é o aumento da longevidade. A causalidade entre renda e saúde é facilmente estabelecida ao se comparar a expectativa de vida dos países ricos e pobres.

Nas primeiras décadas do século 19 a expectativa de vida na Europa Ocidental rondava os 35 anos, enquanto nos continentes asiático e africano permanecia em torno de 28 anos.

Desde então, a população mundial ficou, em média, oito centímetros mais alta e o planeta, que era habitado por 1 bilhão de pessoas, agora tem esse número multiplicado por sete. Assistiu ainda, a teoria Malthusiana, ou Malthusianismo, que defendia que a população cresceria em ritmo acelerado, superando a oferta de alimentos, esvair-se e perder o fundamento (há alimentos, o que não há é distribuição de renda).

Atualmente, embora a expectativa de vida tenha triplicado desde então, a marca do desenvolvimento é bastante clara. A África é o único continente com nações onde a expectativa de vida média está abaixo dos 60 anos. Dos 54 países africanos, 28 se encontram nesta situação.

O país do mundo onde se vive menos é Serra Leoa, onde a expectativa média é de apenas 46 anos de idade.
O Japão é o país que se vive mais, em média, 84 anos. Logo abaixo estão países com média de idade de 83 anos, como Austrália, Suíça, Itália e Singapura.

No Brasil, a expectativa média é de 74 anos; na Argentina, 76, no Uruguai, 77 e no Chile, 80 anos.

Óbvio que aqui não se fala de qualidade de vida, até porque nem sempre há uma correlação clara entre o aumento do PIB (produto interno bruto) e felicidade. Se assim fosse, as taxas de suicídio não seriam maiores nos países de alto IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Trata-se aqui de viver muito, e aí sim o PIB per capita parece ser um elemento fundamental.

Então é somente dinheiro?

Não é bem assim. Falamos de desenvolvimento social e embora ande junto com dinheiro, claramente não é a mesma coisa. A humanidade deve sua longevidade a inúmeros fatores.

Melhores cuidados de higiene

Investimentos em saneamento básico reduzem drasticamente a mortalidade infantil. Os dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) apontam que 10% das doenças registradas ao redor do mundo poderiam ser evitadas se os países investissem mais em acesso à água, medidas de higiene e saneamento básico.

Mesmo assim, o último relatório divulgado pela OMS e pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) afirmou que cerca de 4,5 bilhões de pessoas no mundo não têm acesso a saneamento básico seguro.

O relatório intitulado de "Progress on Drinking Water, Sanitation and Hygiene", ainda afirmou que 2,3 bilhões de pessoas ainda não têm acesso a nenhum serviço de saneamento.

Alimentação

O desenvolvimento da agricultura e da pecuária com alimentos mais nutritivos foram fundamentais para que estas populações tenham criado maior resistência às doenças, contribuindo para a redução das taxas de mortalidade. Entretanto, mais de 820 milhões de pessoas no mundo ainda passavam fome em 2018.

Ainda, considera-se outro indicador que vai além da fome. Esse, chamado de insegurança alimentar, fornece uma estimativa do número de pessoas sem acesso estável a alimentos nutritivos e suficientes durante todo o ano.

Quando consideramos o número de pessoas com insegurança alimentar severa, ou seja, as pessoas que passam fome, junto com as pessoas com insegurança alimentar moderada, a FAO estima que o número chegue a 2 bilhões de pessoas no mundo. Os dados constam no relatório o Estado da Insegurança Alimentar e Nutricional no Mundo em 2019, lançado pela ONU.

Para piorar, novo documento da Oxfam revela que até 12 mil pessoas podem morrer de fome por dia no mundo este ano devido à pandemia. O Brasil está entre os prováveis epicentros globais da fome, juntamente com Índia e África do Sul.

Medicina e tecnologia

Outro fator responsável pelo aumento da longevidade é o desenvolvimento da medicina com facilitação dos diagnósticos médicos e à utilização de novos medicamentos. Será?

Segundo relatório do Banco Mundial e da OMS, pelo menos metade da população mundial não tem acesso a serviços essenciais de saúde e as populações com acesso gastam grande parte do orçamento com despesas médicas.

Nos países de baixa e média renda, apenas 17% das mães de crianças em lares mais pobres recebem as intervenções de saúde básica para o cuidado de crianças, como testes essenciais e vacinas.

Já nos países de renda alta, esse índice é bem maior: 74% das famílias têm acesso a serviços básicos durante a maternidade. Louvado seja nosso SUS. Mas que tenacidade é essa do ser humano que continuamos vivendo mais? Como diz o filósofo e escritor norte-americano Elbert Hubbard, sorte é tenacidade de propósito.

Imunização

Por falar em vacinas, disso podemos nos orgulhar, apesar do nosso momento. Esperamos que possamos continuar dizendo isso. A descoberta das vacinas marcou uma mudança importante na expectativa de vida da humanidade.

Considerada uma conquista do mundo moderno, ela foi responsável pela erradicação, por exemplo, da varíola no mundo, doença que matou mais de 300 milhões de pessoas no planeta.

Doenças como a poliomielite, rubéola, febre amarela, sarampo, difteria, coqueluche, tétano e gripe deixaram de ser grandes ameaças devido a eficientes campanhas de vacinação em nosso país. Também eficiente para nos proteger contra alguns agentes bacterianos como tuberculose e alguns tipos de meningite.

Para se ter uma ideia, entre 1940 e 1998, a expectativa de vida ao nascer dos brasileiros aumentou em cerca de 30 anos graças à imunização. De acordo com dados da ONU, as campanhas de vacinação evitam de 2 a 3 milhões de mortes ao ano. Além de garantir proteção pessoal, as vacinas diminuem a circulação desses agentes causadores, colaborando para que outras pessoas não sejam infectadas.

O momento, entretanto, é difícil.

As vacinas são indiscutivelmente vítimas de seu próprio sucesso (a redução dos casos de infecção por atuação das vacinas dando a falsa sensação de que não há mais necessidade de imunização), e também de calúnias criminosas que já associaram a vacina MMR (eficaz contra sarampo, caxumba e rubéola) a casos de autismo (em 1998, um artigo publicado na revista The Lancet por um gastroenterologista chamado Andrew Wakefield, defendia esse vínculo hipotético, provavelmente ação premeditada, intensamente refutado e que o fez perder sua licença médica e que infelizmente é ainda alimentado pelas redes sociais), agora ganham um novo e injustificado elemento: o preconceito.

Como lembrava o filósofo francês iluminista Denis Diderot: "A ignorância não fica tão distante da verdade quanto o preconceito".

Triste época!