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Dante Senra

O vírus do medo: a pandemia vai passar, até lá, tente não se desequilibrar

NIAID-RML/AP
Imagem: NIAID-RML/AP

Colunista do UOL

21/03/2020 04h00

Apesar de o conhecimento ser fundamental para nos munir contra qualquer agressão, o fluxo constante de informações, que muitas vezes vêm acompanhadas de previsões catastróficas, costumam gerar grande angústia e desespero.

Estamos, sim, diante de uma pandemia. Negá-la seria irresponsabilidade absoluta.

Medidas de cautela, higiene e proteção são todas pertinentes e absolutamente bem-vindas. Servem, não somente para proteção pessoal, mas de pessoas idosas, com comorbidades e que são as mais suscetíveis a complicações.

Protegem a todos, mas, sobretudo, quem sempre fez muito por nós. Isolamento de quem tem sintomas e agora de todos nós. Refúgio em casa e evitar aglomerações são medidas fundamentais que redefinem o mapa de contaminação, mas obviamente exigem uma reconfiguração de nossas vidas.

Mas será que já não é chegada a hora disso, com ou sem vírus?

Uma pesquisadora holandesa chamada Li Edelkoort afirma que a epidemia talvez seja uma chance (não precisava tanto estímulo) para "revermos nossos valores e reais necessidades".

Ficar mais em casa, trabalhar menos ou de lá quando possível, cancelar as atividades não essenciais, nos entretermos com familiares e amigos próximos e reduzir o consumo (já que as prateleiras ficarão vazias de produtos chineses pelo menos por enquanto), já é necessário.

Segundo ela, o "impacto do vírus será mais cultural e crucial para a construção de um mundo alternativo e diferente".

Não sei se tanto.

Óbvio que ao prestarmos mais atenção no prazer que o convívio próximo com nossos familiares pode nos proporcionar, ao termos em mente aquelas imagens de satélite da mudança brusca e intensa da poluição na China com a redução da produção, fazendo as pessoas respirarem novamente ar com alguma qualidade, haverá um impacto sobre nós. A questão é saber quanto tempo durará e se faremos uma avaliação correta da situação.

Todos sentiremos de alguma forma esse momento. O impacto econômico é de tal magnitude que teremos mais pessoas "falidas do que falecidas". Mas sairemos desta crise como pessoas melhores, com mudanças em nossa ambição material desmedida e, portanto, em nossos valores.

Resta-nos recomeçar. Com a certeza de que as relações verdadeiras com amigos e familiares são mais valiosas do que a bolsa de ações que sobe e desaparece na mesma velocidade. Mas o refúgio de nosso lar e familiares sempre estará lá, à nossa disposição.

Mas e até lá? Antes precisamos passar por isso. Não há outra alternativa. Cada um de nós precisa fazer sua parte para reduzir a circulação do vírus que se beneficia do nosso estilo de vida "que não pode parar".

Ação enérgica, mas com temperança emocional. Difícil demais.

Este malfadado vírus, que já acabou com nossa saúde mental, nossa economia e ainda ameaça nossas vidas.

Vamos tentar analisar mais friamente.

Tivemos a "sorte", melhor dizendo, a possibilidade desse vírus ter chegado aqui depois de outros países. Pudemos observar e aprender. Não fomos pegos de surpresa como a Itália e China. Temos menos idosos. Embora não seja um fator determinante, nosso clima quente e úmido nos favorece. O Ministério da Saúde tem dado mostras de envolvimento, compromisso e competência.

É preciso que a população faça sua parte. Fique em casa. Se não houver o que falar, se cale, apenas ore. Não espalhe fake news, não espalhe mais pânico. Depressão, angústia e negativismo não são remédios para se enfrentar momentos de crise.

Talvez novas medidas de isolamento sejam necessárias. Precisaremos de equilíbrio. Cuide do seu emocional e dos outros.

Em tese, teremos uma parcela menor de contaminados, sendo que a grande maioria terá um quadro gripal frustro.

Lastimáveis perdas virão. Novos tratamentos já estão sendo testados e alguns com bons resultados. Tentemos ao máximo com compromisso reduzir as mortes ao mínimo.

Esta é a realidade dos fatos. Isso também vai passar, como outras epidemias.

Tentemos dessa forma passar por esse momento sem nos contaminar, quer seja pelo malfadado vírus, quer seja pelo desequilíbrio de alguns.