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Dante Senra

Prolapso da válvula mitral: entenda mais sobre e saiba se é um problema

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

05/10/2019 04h00

No passado, o diagnóstico era um objetivo desafiador da medicina. Hoje, para parte da população que tem acesso a medicina diagnóstica moderna, ele acontece mais facilmente e por vezes por falta de informação ou distorções de avaliação podem se tornar assustadores. É o que ocorre com o chamado prolapso da válvula mitral.

Para entendermos o prolapso é necessário entender o que é, e qual a função da chamada válvula mitral.

O coração possui quatro câmaras: dois átrios e dois ventrículos. O coração também possui quatro válvulas: válvula aórtica, válvula mitral, válvula tricúspide e válvula pulmonar. Essas válvulas são estruturas localizadas na saída de cada uma das quatro câmaras cardíacas e impedem que o sangue bombeado retorne para a câmara que o expulsou.

A válvula mitral é assim chamada por causa do seu formato que lembra a cobertura que os religiosos usam na cabeça (uma espécie de chapéu). A mitra mais famosa é a que o Papa utiliza. Esta válvula é uma estrutura do coração que separa as câmaras superior e inferior do lado esquerdo desse órgão. Ela é composta por dois folhetos que se abrem como aquelas portas dos bares dos filmes de Velho Oeste.

Quando o sangue passa por essa válvula e o átrio (parte de cima do coração) se esvazia, esses folhetos se fecham, encostando firmemente um no outro, vedando completamente a passagem e impedindo que esse sangue retorne do ventrículo (câmara inferior do coração) para o átrio (câmara superior). Deste modo, o sangue segue sempre em uma direção apenas, ou seja, em direção ao ventrículo.

Quando isso não acontece e o sangue retorna para uma das câmaras acontece a chamada regurgitação ou insuficiência da válvula mitral.

O que é o prolapso?

O prolapso da válvula mitral é uma das causas de regurgitação (um tipo de refluxo) mitral, onde os folhetos se empurram e não vedam completamente a passagem de sangue. É um defeito congênito (ou seja, um defeito que surge quando a válvula mitral está sendo formada ainda no útero) no tamanho dos folhetos, que faz com que a válvula não consiga se fechar adequadamente.

Na literatura tem sido citada uma incidência variável desta situação, mas acredita-se que ocorra em 5 a 7% da população e embora acreditava-se que fosse mais comum nas mulheres, hoje sabe-se que ocorre igualmente em ambos sexos.

Hoje com a realização de um ecocardiograma, que é um exame não invasivo, pois trata-se de um ultrassom do coração este diagnóstico é bastante frequente. Também o uso de um estetoscópio por um médico treinado detecta um estalo característico.

Quais os sintomas?

A grande maioria das pessoas não manifesta sintoma algum. E não, o prolapso não causa infarto, parada cardíaca ou morte súbita.

Entretanto, alguns podem apresentar palpitações (que podem ser manifestações de arritmias), dor no peito e até falta de ar (se houver refluxo importante de sangue através da válvula para o átrio).

É preciso tomar cuidado para não se atribuir toda dor no peito ao conhecido prolapso da válvula.

Os médicos geralmente não recomendam restrições ao estilo de vida ou quaisquer limitações no que diz respeito à prática de exercícios físicos.

Apesar de ser uma alteração benigna na maioria dos casos, em torno de 10% dos portadores de prolapso de válvula mitral vão apresentar piora progressiva da válvula e do refluxo de sangue e, portanto, um acompanhamento médico é aconselhado. Nas situações mais graves, onde o refluxo tornou-se importante, pode haver necessidade de correção cirúrgica, mas em muitos casos hoje já se pode corrigi-lo pelo cateterismo, ou seja, sem a necessidade de abrir o peito.

Sabe-se, entretanto, que essa alteração na anatomia da válvula é mais sujeita a infecções e, portanto, converse com seu médico para esclarecer quando e se há necessidade de uso de antibiótico para preveni-la. Habitualmente, nas manipulações dentárias as bactérias da boca podem cair na circulação e se assestar na válvula com prolapso e com frequência o antibiótico está indicado para se impedir que isso ocorra.

Recomenda-se que os portadores de prolapso de válvula devem conhecer o seu grau de comprometimento cardíaco, realizar exames periódicos para avaliar a evolução do quadro