Taise Spolti

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Opinião

Dois fatores que atrapalham muito a busca por um intestino saudável

Para quem trabalha com saúde intestinal, dois fatores estão entre os mais difíceis de serem manejados e, vira e mexe, atordoam e bagunçam o percurso do tratamento: o manejo do estresse e a falta de água em boas condições de consumo.

Essas duas variáveis, hoje, estão entre as que mais afetam a saúde intestinal do brasileiro. Note que o Brasil é um dos países mais ansiosos do mundo e o saneamento e tratamento de água para consumo ainda são uma barreira que divide a população. O norte do país ainda é o mais afetado, no censo de 2022 estimou-se que apenas 22% da população têm acesso à coleta de esgoto e tratamento de água.

Uma saída para a grande parte da população, mesmo quem vive em grandes centros e que possuem o percentual mais alto de tratamento de água e esgoto, é o consumo de água mineral em garrafinhas de plástico, mas até isso poder ser um problema —que explico mais adiante.

Estresse e ansiedade

O estresse hoje é presente irrefutável na vida do adulto brasileiro. Um relatório global de 2024, o World Mental Health Day, revelou que o Brasil é o quarto país mais estressado do mundo, sendo que 42% dos brasileiros relataram se sentir estressados e 31%, ansiosos.

O estresse afeta a saúde intestinal de diferentes formas, mas a mais entendida e complexa é por meio do nervo vago.

O nervo vago é o grande responsável pelo eixo intestino-cérebro, comandando ações como motilidade e peristaltismo. Ele é um dos que determina, por exemplo, se você vai ter dor de barriga ao ir no dentista ou ficar constipado quando está fora de casa ou sob estresse.

O nervo vago também estimula a secreção digestiva para produção de bile, ácidos gástricos e enzimas pancreáticas. Quando o organismo está sofrendo com o estresse ou a ansiedade, há uma estimulação desregulada do nervo vago, que causa má digestão e, como consequências, efeitos gastrointestinais.

Por isso, uma pessoa com ansiedade crônica pode apresentar sintomas gastrointestinais sem uma patologia evidente no intestino (pois o problema pode ser um tônus vagal baixo). Pessoas com síncope vasovagal também tendem a ter crises de síndrome do intestino irritável. A disfunção vagal pode mascarar ou exacerbar sintomas tanto digestivos quanto emocionais, dificultando o tratamento isolado de ansiedade ou de disfunções intestinais.

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Sendo assim, em uma população estressada e ansiosa, o manejo da saúde intestinal deve ter como foco uma abordagem que auxilie o paciente ao controle dessas emoções.

Água de qualidade

Agora vamos ao segundo e também importante ponto sobre a dificuldade enfrentada na busca pelo intestino saudável, principalmente quando o paciente já possui o diagnóstico de síndrome do intestino irritável, disbiose e outras condições: a água de qualidade.

O problema mais grave é em locais sem saneamento, como falei. Mas até mesmo quem recebe água tratada em casa precisa ter atenção, pois se o encanamento e caixa d'água não estiverem em condições adequadas, a água não será ideal para consumo. Para garantir isso, o uso de filtros como o de carvão é extremamente indicado, pois ele retira tanto impurezas quanto possíveis micro-organismos.

Cuidado também com a água mineral. O fato de estar acondicionada em embalagens plásticas por um período de tempo grande e exposta ao sol ou a temperaturas elevadas durante o transporte (nos caminhões, por exemplo) faz com que a embalagem libera substâncias (bisfenol, ftalatos) que podem afetar o organismo. Além disso existe a presença de microplásticos, que recentes estudos mostram estar em níveis assustadores no corpo humano.

Ora, a depender de uma boa hidratação e do manejo de viver "sem estresse", um paciente que possui disfunção intestinal enfrenta uma grande batalha, de fato. Muitos dos meus pacientes passam por isso em algum momento: alteração de rotina no trabalho, traumas, mudanças pessoais, consumo de água diferente da que geralmente consome, e o resultado é uma crise que pode aparecer no melhor percurso do tratamento, e bagunçar tudo.

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O ideal é o profissional entender dessas dinâmicas e não encontrar apenas a solução na prescrição de um laxante para quando o paciente se encontra constipado, ou então um probiótico, pois acha que a solução da disbiose é adicionar mais micro-organismos naquele intestino.

Antes da medicação ou da intervenção durante uma crise é interessante olhar para o todo: o que o ambiente, trabalho, família e alimentação podem estar afetando mais o paciente do que ele mesmo?

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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