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Taise Spolti

Por que é tão difícil eliminar a gordura localizada na barriga

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Imagem: iStock

Colunista do VivaBem

31/10/2021 04h00

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Nos últimos dias, recebi muitas mensagens de pessoas querendo saber o que fazer para emagrecer rapidamente para o verão. Infelizmente, esse comportamento nada bom para a saúde física e mental está impregnado em nossa sociedade e vai levar um bom tempo para mudar.

Chega essa época do ano muitas pessoas começam a se desesperar (tragicamente) pela busca de resultados estéticos que poderiam ter sido alcançados com sabedoria e eficiência ao longo do ano todo (ou da vida). Aí, começam a buscar fórmulas mágicas para emagrecer em menos de dois meses.

Estou fazendo todo esse discurso só para você entender que a perda de gordura corporal é algo que depende de bons hábitos (alimentação saudável e prática regular de exercícios físicos), que devem ser mantidos pela vida inteira, não só até o próximo verão. O que isso tem a ver com o título desse texto? Tudo. Aquela gordurinha abdominal impregnada abaixo do umbigo ou na lateral da barriga —e em algumas pessoas também logo embaixo do glúteo (a chamada bananinha) é tão difícil de ser eliminada justamente pela falta de manutenção dos bons hábitos e pela busca de receitas milagrosas, que fazem a pessoa ficar emagrecendo e engordando a vida inteira.

Esse efeito sanfona gera um ciclo mais ou menos assim:

Ganho de peso - aumento de processos inflamatórios no organismo - dieta restritiva por tempo curto para emagrecer - reganho de peso - mais inflamação no corpo - ganho de peso por meses seguidos - dieta restrita novamente por curto tempo para resultados rápidos - reganho de peso...

Neste processo, há um comportamento alimentar corrompido, onde a pessoa busca na comida a base do seu prazer e de sua estética. O prazer está no comportamento de "esquecer" da alimentação saudável por um período longo, sem se preocupar com os efeitos que uma alimentação desregrada é capaz de fazer com a saúde. Depois, vem a busca imediatista por resultados estéticos, por meio de negligência alimentar, comendo menos do que deveria, restringindo ingredientes e muitas vezes fazendo uso de medicamentos e estratégias perigosas para um único fim: perder em algumas semanas o peso que foi obtido ao longo do ano.

Percebeu que a boa alimentação nunca é privilegiada? Em ambos os momentos, ela fica para escanteio.

Como funciona a perda de gordura

No processo de redução de gordura corporal ocorre um esvaziamento da célula adiposa (de gordura), para que seu conteúdo seja usado pelo corpo como fonte de energia.

Mas entenda que você apenas esvazia a célula de gordura e usa seu conteúdo como combustível. A célula continua no seu corpo, como uma "bexiguinha vazia". Cada célula adiposa tem um limite de volume que sustenta de conteúdo, ao chegar nesse limite de gordura que ela é capaz de armazenar, seu corpo cria novas células para então encher com o conteúdo que está sobrando, no caso, a gordura.

Sim, o excesso de alimentos que você consome precisa ser estocado em algum lugar no seu corpo. Então, ele é transformado em gorduras e depositado nessas "bexiguinhas". Ao longo da vida, conforme engorda, você vai produzindo novas bexiguinhas, multiplicando-as em diferentes partes do corpo, a depender do seu estado metabólico, hormonal e até genético —tudo isso influencia se uma pessoa estoca mais gordura nas coxas, no quadril, no abdômen, nos braços e assim por diante.

Sempre que você faz uma dieta ou um protocolo de emagrecimento que utilize a gordura como energia (o que nem sempre acontece, infelizmente), você estará esvaziando suas bexiguinhas e deixando um amontoado de células ali, murchas, mas que mesmo assim possuem volume.

Um indivíduo que sofreu vários efeitos sanfonas ao longo da vida sofreu um processo repetitivo de esvaziar e encher as células adiposas, ganhando cada vez mais volume de novas células, cheias ou vazias, que para sempre vão ocupar determinados pontos do seu corpo... Ano após ano, verão após verão.

Assim, chegará um ponto em que vai ficar cada vez mais impossível eliminar aquele volume de gordura abaixo do abdômen —ou abaixo do glúteo—, mesmo adotando as estratégias mais capazes e bem fundamentadas com um nutricionista e um profissional de educação física.

Isso ocorre por que aquele volume que se deseja eliminar não é apenas energia estocada (gordura), mas sim um amontoado de milhares de 'bexiguinhas' (células adiposas) vazias, estão depositadas e presas para sempre naquela região específica. Então, fica cada vez mais difícil eliminá-las, pelo simples fato de que, antes mesmo de o corpo chegar a tal ponto, o indivíduo voltará a enche-las de gordura com seus velhos e maus hábitos.

Como fazer para que isso não ocorra?

A principal tática é evitar, ao longo da vida, o efeito sanfona. Ou seja, não engordar. Procure manter-se dentro do seu peso, com poucas variações, ao longo do ano, caso você seja destas pessoas que só cuidam da alimentação e dos hábitos ao final do ano.

Seja persistente: caso você tenha chegado ao ponto em que eliminar a gordura localizada ficou muito difícil, não desista de fazer seu corpo entender que precisa se livrar do peso residual dele, seja de inflamação, seja de edemas, seja de gorduras localizadas. Neste ponto é importante não parar de dar estímulos corretos para a eliminação real do volume adquirido —e tenha em mente que a grande maioria desiste exatamente aqui, pois acha que nada mais será válido ou eficiente. Aí, volta aos seus padrões antigos de comportamento.

A cirurgia plástica (de aspiração de gordura) ou estímulos enzimáticos injetáveis específicos para eliminação da célula adiposa (veja bem, da célula e não da gordura depositada dentro da célula!) podem ser uma saída para quem deseja esta eliminação de forma eficiente com um profissional. Porém, cabe a ressalva: são procedimentos invasivos, que têm riscos e devem ser realizados única e exclusivamente por médicos e profissionais capacitados. E, antes de sua realização, esteja sempre ciente que ainda assim será necessário mudar hábitos para evitar o reganho de peso —e entrar novamente no ciclo de efeito sanfona.