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Taise Spolti

Intolerância à frutose: você já ouviu falar?

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

02/05/2021 04h00

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Você deve ter pensado: ahhh pronto, agora mais isso!

Como se não bastassem as outras intolerâncias e alergias alimentares que já conhecemos e que ouvimos muito falar— geralmente, de forma errônea— na internet, a notícia é que existem outras intolerâncias e alergias pouco faladas e que também inspiram cuidados.

Justamente pelo fato de pouco serem comentadas ou abordadas, a grande população que sofre com algum sintoma relacionado a alimentação ineficaz, fica à mercê de opiniões pouco fundamentadas.

Um exemplo disso é a muito falada intolerância à lactose. Muitas pessoas possuem sintomas parecidos e, com base em informações encontradas na internet ou com amigos, realizam um auto-diagnóstico que pode aumentar os problemas ou então causar um que não se tinha.

A intolerância de um alimento ou de um nutriente do alimento é comum, principalmente com a idade avançada, pois há uma perda da capacidade de produção das enzimas responsáveis por quebrar determinados componentes, ou pela incidência de doenças com o avançar da idade, após alguns episódios de diarreia ou vômitos, entre outros condicionantes que levam o corpo a perder a capacidade de absorver com eficácia alguns desses componentes, geralmente açúcares, dos alimentos.

No caso da lactose e do glúten, nem sempre riscar o alimento da dieta é favorável, já que a eliminação por aqueles que têm leves sintomas pode causar um aumento da intolerância. Ou seja, o melhor a se fazer é investigar com um profissional se os sintomas estão relacionados com a intolerância, se ela é leve ou grave, e qual é a conduta mais recomendada para aquele paciente.

E a frutose?

Com a introdução que eu fiz sobre intolerância, devo salientar que a importância de investigar com o profissional é necessária pelo simples fato de que quase todas as intolerâncias possuem os mesmos sintomas, sinais no corpo, e que a lista de identificação que eu vou passar é para, justamente, te ajudar a entender se você tem e te encorajar a procurar o atendimento individual.

A intolerância a frutose, chamada de frutosemia, é uma condição comum com o passar dos anos, e como mencionei acima, também está relacionada com a frequência de vômitos, diarreias e outras condições patológicas do trato gastrointestinal que vão acontecendo ao longo da vida, mas também com o excesso de consumo sem perceber os sinais. Essa recorrência pode aumentar a condição de intolerância.

Já se sabe em termos clínicos que a intolerância a frutose tem fator hereditário, ou seja, é passada pelos pais ao indivíduo que então não consegue absorver a frutose devido a falta de formação da enzima

O que você precisa saber sobre a frutosemia:

1. Frutose não está só em frutas: muitos alimentos possuem frutose, incluindo mel, legumes, vegetais, tubérculos e também os industrializados (infelizmente, a grande maioria dos industrializados possui alto teor de frutose).

2. Frutose é um açúcar simples: a frutose é um monossacarídeo, tem maior rapidez de absorção e causa aumento rápido de açúcar no sangue (glicemia), por esse fator é que o consumo de frutose deve ser sempre associado ao alimento in natura, pois frutas, legumes, vegetais possuem fibras naturais do alimento e elas serão responsáveis por baixar essa liberação de açúcar no sangue e garantirão os benefícios do consumo: oferecer vitaminas, minerais, fibras solúveis e insolúveis que são essenciais a nossa saúde.

3. A frutose usa um sistema facilitador para entrada no organismo, chamado GLUT 5, um mecanismo de entrada facilitada mas que tem limitação de absorção, o que faz com que o excedente seja direcionado a outros órgãos, como o fígado. Em pacientes com frutosemia, tanto o excedente como o processo facilitado de entrada causam um grande transtorno, justamente pela ineficácia em fazer a digestão e a correta absorção ainda no inicio do processo após a ingesta.

4. Infelizmente os alimentos industrializados se utilizam de frutose em sua maior concentração para adoçar e conferir sabor, de forma mais barata que se usassem a sacarose, isso fez com que a população no geral consumisse além de sua capacidade de absorção, e com o passar dos anos, a intolerância se agrava sem que alguns profissionais se atentem a essa condição, dando maior foco para lactose ou glúten.

5. A má informação levou ao que chamamos de 'frutofobia', ou seja, muitas informações passadas por pessoas incapacitadas levaram a população a entender que o problema da frutose era unicamente a ingestão de frutas, e o consumo de frutas diminuiu ao passo que o consumo de alimentos ricos em frutose adicionada aumentou.

Quais os sintomas da frutosemia:

Distensão abdominal, gases, estufamento, dor abdominal, diarreia e o que mais identifica a doença: borborigmos, ou seja, quem tem intolerância a frutose geralmente tem aumento dos barulhos intestinais. Conhece alguém que logo depois que come algum alimento tem aqueles barulhos aumentados como se "a barriga estivesse conversando"?

Como eu falei anteriormente, os sintomas são bem parecidos com qualquer outra intolerância alimentar. A grande diferença é que muitas e muitas vezes o indivíduo corta glúten e lácteos, e os problemas se mantém. Em condutas alimentares onde não há a correta investigação, esses indivíduos tendem a aumentar o consumo de frutas, legumes, tubérculos, trocam o açúcar pelo mel e por aí vai.

O problema é que eles aparentemente possuem uma alimentação mais saudável, mas o problema não estava de fato no glúten ou no leite e sim no consumo de frutose. Resultado: um aumento repentino dos problemas, o que provoca afastamento dos pacientes das condutas alimentares, pois não surtiram efeitos ou até pioraram suas condições de saúde.

Como investigar de forma correta?

Primeiro passo é falar com um nutricionista, que vai investigar de forma correta os erros alimentares ou de comportamento da alimentação. Exames que são necessários para a investigação serão conduzidos pelo médico, e incluem: Teste do Hidrogênio no Ar Expirado, análise clínica do tecido hepático e o relato dos sintomas após a ingesta de frutose pelo paciente.

Quais alimentos mais possuem frutos?

Frutas e outros vegetais, como cogumelos, brócolis, alho poró, ervilha, Milho, trigo sarraceno (e produtos industrializados feitos com esses ingredientes), iogurtes com frutas e sorvetes de frutas, refrigerantes, sucos, barrinhas de cereais, ketchup, maionese e molhos industrializados (atenção aqui aos restaurantes e ambientes de alimentação que usam molhos prontos para carnes, massas e saladas...), mel, produtos diet e light, chocolates, e muitos doces prontos e industrializados, comidas prontas industrializadas, carnes processadas e embutidos, caramelo, açúcar branco, melaço, xarope de milho, frutose, sacarose e sorbitol.

O que fazer?

Como mencionei ali em cima, a melhor conduta é ir ao nutricionista, ficar de olho se você tem alguns desses sintomas mesmo após reduzir o consumo de lácteos e produtos com gluten (já que estes estão mais em evidência) e fazer a investigação com o profissional para equilibrar a alimentação, para que a redução desses alimentos não lhe causem deficiência de vitaminas e minerais essenciais a nossa saúde.

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