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Mulheres que viajam sozinhas apelam até a aulas de defesa pessoal

Larissa aprende golpes de defesa pessoal com o professor Mateus, da academia Competition - Andrea Miramontes/UOL
Larissa aprende golpes de defesa pessoal com o professor Mateus, da academia Competition Imagem: Andrea Miramontes/UOL

Andrea Miramontes

Colaboração para o UOL

08/04/2019 04h00

Viajar sozinha traz uma sensação de independência incrível e pode transformar uma vida. Mas a mulher que se aventura pelo mundo ainda precisa, infelizmente, tomar cuidados extras para se proteger e aproveitar os lugares com mais tranquilidade.

Perrengues acontecem com todo viajante. Mas com mulheres tudo pode piorar, por assédio e até pela imagem de que seria um alvo frágil.

Os conselhos vão desde escolher bem a vizinhança para se hospedar, estudar muito bem o destino e até saber o básico de defesa pessoal, caso precise. Veja bem: as aulas não formam faixas pretas, mas ensinam o mínimo para se sentir segura e atenta.

A jornalista Roberta Vilas Boas, 33, viaja sozinha há 12 anos. Já foi para inúmeros lugares, incluindo os mais distantes, como China, Oceania, Leste Europeu e Sudeste Asiático. Logo em uma das primeiras viagens, ela tomou um susto. "Em Buenos Aires, peguei um táxi com um senhor simpático. Fui o caminho do aeroporto até o hostel batendo papo. No final, o cara tentou me beijar. Peguei minhas coisas e saí correndo", conta.

Com o tempo, ela desenvolveu autodefesa e até uma postura agressiva com assediadores. "Na Itália, fiquei muito irritada com a insistência dos caras. Eles abordavam como se fossem pedir informação, mas logo começavam a dar em cima e não paravam. Aprendi que eu tinha que ser grossa mesmo".

Autoproteção

Algumas mulheres também optaram por recorrer a aulas de defesa pessoal, como a modelo Larissa Ylla, de 26 anos. Ela conta que já foi perseguida em um mercado durante uma viagem e até já tomou um beliscão dentro de um ônibus.

"Você se sente um lixo e paralisada de medo. Temos que saber como nos livrar de uma situação ruim em qualquer lugar do mundo. Por isso, resolvi fazer as aulas".

Para Mateus Jorge da Silva, professor de defesa pessoal na academia Competition, em São Paulo, onde Larissa se matriculou, a autoproteção começa na postura da pessoa. Ele revela que a aula de defesa pessoal é menos combativa do que se pensa. É preventiva.

"As aulas ensinam os golpes, mas, mais do que isso, ajudam na atenção a tudo que se passa ao redor".

"Tem que ter atitudes atentas, como nunca sentar de costas para a porta em bares e restaurantes ou bobear com o celular na mão", aconselha. "Parece bobagem, mas não é. Golpes são as últimas alternativas", completa.

Não demonstrar fragilidade é outra tática para afastar pessoas mal-intencionadas. "Se percebe alguém olhando demais, mude a postura. Puxe sua bolsa para perto do corpo e olhe fixa e seriamente para a pessoa de volta. Se o cara pensava em abordar, ele vai desistir", finaliza.

As aulas ajudam na agilidade e ensinam pontos certeiros do corpo para contra-atacar, se necessário, e conseguir fugir.

Golpes rápidos nos órgãos sexuais, na lateral dos joelhos e nas costelas ajudam a afastar o agressor, que jamais esperaria essa reação da mulher. E, claro, machucam bem.

Da vizinhança aos contatos: veja dicas

  • Até em destinos muito populares, como Paris e Barcelona, é preciso escolher atentamente a vizinhança em que vai se hospedar. "Alguns bairros em cidades incríveis, apesar de lindos durante o dia, podem deixar a viajante insegura durante a noite. Pode ser uma vizinhança vazia, escura ou ponto de prostituição. Ela deve se informar com alguém que conhece muito bem o lugar", aconselha Rodrigo Pires Fonseca, supervisor de operações na operadora de turismo Françatur.
  • Estudar antes costumes locais, religião e política do país vale para todo viajante. Mas, para mulheres, é imprescindível, inclusive, atentar-se a códigos de vestimenta. Os problemas podem ir desde olhares masculinos que vão incomodar até a abordagens inadequadas e assédio. "Não dá para usar decotão e saia curta no Egito. Alguns destinos precisam de atenção aos códigos locais. Em Istambul, por exemplo, se não tiver a roupa adequada nem entra nas mesquitas, que são maravilhosas", completa Rodrigo.
  • Em países de religião e de políticas rígidas, Rodrigo aconselha sempre a buscar um receptivo no local, para ajudar a organizar os passeios. "Na hora de contratar, seja específica em como quer ser atendida, para não cair em uma turma de viajantes que não é a que procura", diz. Caso clássico é uma senhora que, contrariada, acaba caindo em turma de adolescentes ou vice-versa.
  • Planejar a viagem para situações de possíveis risco também ajuda muito a viajante, como atentar-se ao horário da chegada no local. Compre seus tickets de avião, ônibus ou trem pensando em chegar durante o dia, com movimento nas ruas, especialmente em um lugar em que nunca esteve antes.
  • Também mantenha uma listinha de contatos emergenciais, como gerente do banco, familiares e seguro-saúde contratado escritos na bolsa. Celulares falham, e, na hora do desespero, é reconfortante ter à mão contatos para ajudar a resolver algum perrengue.