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Lago na cratera e até erupção: conheça a Avenida dos Vulcões, no Equador

Felipe Floresti

Colaboração para o UOL, do Equador*

08/10/2015 15h48

O Equador é um país gigante. Apesar de parecer pequeno no mapa, com uma área um pouco maior que o estado de São Paulo, é nas alturas que está a sua grandeza. Duas cadeias paralelas dos Andes cortam seu território de norte a sul e, no centro, um vale de 600km de extensão abriga algumas de suas principais cidades, como Quito e Cuenca.  Ao conhecer o vale interandino do Equador, que se estende por mais de 300km de comprimento e 50 de largura - desde a Província de Imbabura (ao Norte) até o extremo Sul do país -, o explorador alemão Alexander von Humboldt, no ano de 1802, batizou a região de “Avenida dos Vulcões”.

O roteiro começa na capital que, em um dia claro, mostra sinais da grandiosidade da geografia andina. A cidade se estende ao longo da face leste do vulcão Pichincha, com três picos, sendo o mais alto com 4.784m de altitude e um histórico repleto de erupções. Em 1999, por exemplo, chegou a jogar cinco toneladas de cinzas sobre Quito, com uma fumaça que chegou a 20km de altura e encobriu o céu. Por sorte, a cratera estava voltada para a face oeste, poupando a cidade da lava.

Outros picos nevados preenchem o visual, com destaque para o Cayambe, com seus 5.790m localizados no nordeste da cidade. Mas é seguindo a rodovia Panamericana para o sul de Quito, em direção à cidade de Latacunga, que a jornada começa de verdade. As opções são alugar um carro na capital ou utilizar o sistema de ônibus do país que, apesar de eficiente, é um tanto confuso.

Desde a erupção do Cotopaxi, em 14 de agosto de 2015, o acesso ao parque em que está situado ficou restrito, impedindo os turistas de visitarem os belos atrativos da região, como o lago Limpiopungo - Felipe Floresti/UOL - Felipe Floresti/UOL
Cotopaxi tem sua beleza comparada ao Monte Fuji
Imagem: Felipe Floresti/UOL

Para desejar um bom início de viagem, logo surge imponente no horizonte o vulcão Cotopaxi, um cone perfeito comparado em formato ao monte Fuji, do Japão. Possui 5.897m de altitude, sendo um dos cinco vulcões ativos mais altos do mundo. Caminhar por suas laterais era uma das atividades mais procuradas pelos turistas até 14 de agosto de 2015.

Nesta data, ele entrou em erupção, encobrindo os arredores de cinzas, impedindo a visita e forçando o fechamento do belo parque nacional onde está localizado. Até o início de outubro, ele continuava a expelir fumaça e vapores, sem nenhum tipo de previsão de voltar ao normal. Apesar de tudo, a visão de um vulcão em erupção e a coluna de fumaça subindo a atmosfera já valem a pena.

Rara beleza
E não faltam vulcões para visitar no país. Virando à direita na cidade de Latacunga, uma estrada leva ao mais impressionante: o Quilotoa. Apesar de seus 3.914m – baixo demais para nevar, ele guarda no mirante de seu topo uma visão deslumbrante: uma cratera de 250m de altura abriga um lago de três quilômetros de diâmetro, com águas azul-turquesa de coloração intensa. Tudo culpa da grande concentração de minerais. O vulcão, ainda ativo, emite gases, embora não entre em erupção desde o ano 1280. 

Reserve pelo menos um dia para desfrutá-lo, seja convivendo com as comunidades tradicionais que comandam o turismo no local, administrando pousadas, restaurantes ou posando para fotos ao lado das lhamas - ou encarando uma das opções de caminhada, cujo passeio dura meia hora e segue para dentro da cratera, chegando à beira do lago, onde é possível alugar caiaques. Quem quiser, também pode alugar uma mula para ajudar na subida. Outra opção é percorrer uma trilha de cinco horas que dá a volta na cratera pelo topo, passando por belos cenários.

Trilhas levam os turistas até a beira do lago, adentrando a cratera de 250 metros de profundidade, além dos arredores do vulcão Quilotoa  - Felipe Floresti/UOL - Felipe Floresti/UOL
Trilhas levam os turistas até a beira do lago do vulcão Quilotoa
Imagem: Felipe Floresti/UOL

Seguindo para o sul, no trecho da rodovia Panamericana que liga as cidades Ambato e Riobamba, um gigante acompanha a viagem: o Chimborazo, com seus 6.262m. Considerado extinto, o vulcão é o ponto mais alto do Equador e, apesar de ser apenas a 17ª maior elevação do mundo, é considerado o ponto do planeta mais distante de seu centro. Isso porque está localizado próximo à linha do Equador, onde o diâmetro da terra é 43km maior do que de um polo a outro.

Ao contrário do Cotopaxi (quando não está em erupção), a subida ao topo do Chimborazo é indicada somente para montanhistas com alguma experiência. Para os demais turistas, a diversão se limita a observar o vulcão, suas geleiras eternas e os arredores. Nos dias mais claros, os vulcões Altar, Carihuairazo e Sangay complementam o visual.

Mais verde
Continuando para o sul, a estrada leva até Cuenca, a principal cidade da região. Para quem tiver um tempo extra, a dica é fazer um desvio para a esquerda em Ambato, chegando à cidade de Baños. Localizada na cadeia oriental, é considerada a porta de entrada para a região amazônica do país, se diferenciando pela paisagem mais verde quando comparada à vegetação rasteira e seca da Avenida dos Vulcões.

Essa fusão de ecossistemas fez do local um centro turístico da região. Florestas, rios, vales e cachoeiras bem no meio da cidade fazem de Baños um lugar único, em que o roteiro turístico pode ser percorrido com a ajuda de bicicletas alugadas ou em excursões nas tradicionais chivas - ônibus turístico aberto e multicolorido com música em volume ensurdecedor, que leva para Ruta de las Cascadas.

Na Ruta de las Cascadas, em Banõs, um teleférico levam os turistas para bem perto da cachoeira Manto de la Novia - Felipe Floresti/UOL - Felipe Floresti/UOL
Na Ruta de las Cascadas, em Banõs, um teleférico leva os turistas
Imagem: Felipe Floresti/UOL

Com diversas opções de mirantes, um bondinho ajuda os turistas a chegarem ao topo da cachoeira Manto de la Novia. No entanto, também existe a opção de cruzar um vale de tirolesa, finalizando o passeio na bela cachoeira Machay, após caminhada de 20 minutos.

Momento relax
Para a noite, a dica é relaxar em uma das piscinas de águas termais presentes na cidade, que são aquecidas naturalmente. Até porque a cidade é localizada no sopé do vulcão Tungurahua que, com seus 5.023m de altitude, se encontra ativo.

Passeios noturnos levam a um mirante. De lá, nos dias sem nuvens e com maior atividade vulcânica, dá para ver as luzes emitidas pela lava vermelha na cratera do vulcão. Algumas excursões ainda visitam a cidade de Puyo, já na Amazônia, onde o turista pode interagir com comunidades indígenas, andar de canoa pelo rio e contemplar a exuberante fauna e flora da região.

Outra opção é seguir viagem rumo a Cuenca, em um trajeto que leva cinco horas. Assim como Quito, a cidade também é considerada Patrimônio da Humanidade pela Unesco. Com outras cinco horas de viagem, se chega à Guaiaquil, onde é possível explorar o belo litoral do país. Como deu para perceber, ao menos no quesito atrações turísticas, o Equador está longe de ser um país pequeno. 

*O jornalista viajou a convite do Ministério do Turismo do Equador