Ela tá de parabéns

Topo do Spotify mundial, Anitta completa 29 anos como a artista brasileira mais famosa da atualidade

Nathália Geraldo De Universa, em São Paulo Reprodução/Youtube/Folha

Na última sexta-feira (25), Larissa de Macedo Machado se tornou a primeira brasileira a alcançar o topo global da plataforma Spotify, com o hit "Envolver". Acumulando mais de 6 milhões de streamings em um único dia, com 71 milhões de plays na música, cantada em espanhol, a cantora que escolheu o nome artístico de Anitta é hoje uma das artistas mais relevantes do mundo.

A conquista teve gosto de presente de aniversário adiantado, já que nesta quarta-feira (30), a cantora completa 29 anos. Motivos para comemorar realmente não faltam. Nascida em Honório Gurgel, no Rio de Janeiro, sob o signo de Áries, Anitta ostenta um título que poucas pessoas podem dizer que têm: é uma artista de milhões.

Há quem diga que a conquista de Anitta uniu o Brasil como se fosse Copa do Mundo. E com dancinha envolvente: não faltaram vídeos de famosos e anônimos (alguns fãs fizeram até flashmob nas ruas) descendo os braços até o chão para empinar o bumbum e rebolar, como a artista mostra no clipe de "Envolver".

"Número 1 do mundo. Eu realmente não sei o que dizer. A primeira mulher latina a ser número um, solo, no mundo. A única brasileira na história do meu país a ter uma música no top 5 do mundo. Oh, meu Deus", escreveu Anitta sobre o feito, assim que acordou após uma festa de aniversário surpresa, antecipada, realizada em sua casa para amigos e familiares.

No final de semana, ela esteve no palco do festival Lollapalooza, em São Paulo, para cantar "Boys Don't Cry", música que lançou em inglês, ao lado de Miley Cyrus. O evento foi alvo de uma liminar do Tribunal Superior Eleitoral para proibir manifestações políticas dos artistas e do público sob multa de R$ 50 mil para quem descumprisse. No Twitter, Anitta ironizou o valor —"Menos uma bolsa" — e escreveu "Fora, Bolsonaro" —a ação, porém, foi protocolada com o CNPJ errado do festival e invalidada. Sem receio de se posicionar politicamente, a artista também já deu o recado para os jovens tirarem o título de eleitor para participarem das próximas eleições. "Vocês ficam falando: 'Anitta, faz alguma coisa', mas não dá pra salvar o país sozinha, não".

Na entrevista para Jimmy Fallon na TV norte-americana, há um mês, Anitta contou que o ímpeto de ter uma carreira internacional veio justamente por terem dito a ela que era difícil para brasileiros romperem os limites do sucesso nacional. Em um vestido da grife francesa Mugler, disparou: "Sempre que escuto a palavra impossível, eu quero fazer isso".

Sabendo que era impossível, a funkeira "made in Honório" foi lá e fez. Como ela consegue?

'Quero muito agradecer a mim'

No palco do Rock in Rio de 2019, durante sua primeira apresentação no festival, Anitta fez uma breve retrospectiva da carreira até então, e soltou a frase que viraria meme: "Se eu contar tudo o que eu passei, vocês não acreditariam. Às vezes nem eu acredito. Eu quero muito agradecer a mim, porque eu não desisti", disse.

Além de ser um fenômeno musical, Anitta é uma mulher de negócios. Esse é, aliás, o nome do segundo episódio do documentário sobre sua vida, o "Anitta: Made in Honório", disponível na Netflix desde 2020. Nas cenas, ela dá opinião sobre a escolha do look que usará em evento para diretores de uma empresa, se programa para dar uma palestra sobre carreira e faz uma sessão de fotos para uma marca de telefonia celular.

A estratégia de sucesso da artista vai muito além de cantar e dançar. Ela, que foi sua própria empresária durante dez anos e administrou pessoalmente sua carreira artística, faz parte do conselho do banco digital Nubank desde 2021 e tem uma grande parceria com a Ambev, desde 2019. Ela é líder de criatividade e inovação da Skol Beats, marca voltada ao público jovem. Anote aí mais um número impressionante da cantora: ela já acumula uma fortuna avaliada em R$ 533 milhões, segundo a Forbes México.

Quem vê de perto a Anitta "empresária" em ação é Marina Morena, sócia da MAP Brasil, agência de desenvolvimento de negócios no entretenimento que cuida da cantora. "Ela entende todas as dimensões do trabalho e isso faz toda a diferença como artista, porque Anitta lidera as estratégias em todas as áreas de comunicação e a relação com as marcas, além de participar de reuniões com elas", explica.

Trabalhando com a artista desde "Bang", álbum de 2015 que Marina classifica como "a grande virada" da carreira de Anitta, ela diz que um dos diferenciais da cantora para o mercado da publicidade é também não ser só a garota propaganda das marcas. "Agora a dinâmica é outra, concedemos o contato do artista direto em reuniões, planejamos juntos com o cliente. A relação do artista com a marca vai além de um contrato", define. "E tudo isso só acontece quando a marca faz parte da sua verdade, de tudo o que ela acredita."

Marina cita as parcerias com Ambev e Nubank. Com a primeira, Anitta participa das discussões de estratégia de marketing da marca e já lançou dois produtos autorais: a Skol Beats 150BPM, em outubro de 2019, e, em seguida, a Skol GT, inspirada no drink gin tônica. Para o banco, foi ela quem deu a ideia de a empresa oferecer recibos de ações (BDRs, os papéis que representam no Brasil as ações negociadas nos Estados Unidos) gratuitos aos clientes. Com a iniciativa, a empresa conquistou mais de 7,5 milhões de sócios.

No documentário "Anitta: Made in Honório", Amanda Gomes, sócia de Marina, chama a atenção para outro talento de Anitta: "Por que ela dá tão certo com publicidade? Porque ela tem a visão do público, do cliente e do artista. E hoje, num mundo com internet, ela sabe usar isso muito a favor dela", diz

Sexo, boys e festas

Não é segredo para ninguém que Anitta tem um alcance de milhões nas redes sociais: são 60,7 milhões de seguidores no Instagram e 16,3 milhões no Twitter. Resultado: tudo que ela fala, veste, dança, com quem ela flerta ou namora, vira referência ou notícia.

Livre para falar de sexualidade, ela já contou em um podcast que anda com um "kit sexo", com camisinhas de alta sensibilidade e lubrificante, na bolsa. Também já revelou, nos Stories do Instagram, que foi o sugador de clitóris que a "salvou" para ter prazer durante o momento de maior isolamento na pandemia.

Um jeito bem ariano de ser. "Ela não faz as coisas de forma discreta, sempre vai escancarar o que quer", afirma a astróloga Virgínia Rodrigues, que atende Anitta há três anos (leia mais sobre o mapa astral da cantora ainda nessa reportagem).

Os relacionamentos são um tema de que Anitta fala com naturalidade, seja para dar em cima de participantes do BBB no Twitter ou para dizer que, depois que acaba uma relação, chega até a indicar o pretendente para as amigas. A lista de namorados famosos inclui Pedro Scooby, Lipe Ribeiro e Gui Araújo. Casada mesmo ela só foi uma vez. A união com o produtor Thiago Magalhães foi celebrada por um pajé em plena floresta amazônica durante as gravações do clipe "Is That For Me'. Anitta e Thiago foram casados por 11 meses, de outubro de 2017 a setembro de 2018.

Até mesmo as festas de aniversário de Anitta dizem muito sobre ela, conta a astróloga: sempre bombam nos Stories do Instagram (ela mesma publica conteúdo de bastidores, dançando e bebendo), mas não necessariamente são "eventos badalados" com uma lista VIP de famosos. "Nas festas, ela é ela mesma, sem julgamentos, porque está cercada de quem ama. É divertido porque ela é divertida, mas é mais do que um 'vamos fazer algo badalado'".

Ô, o funk chegou

Por estar sob tantos holofotes, Anitta é julgada. Por machistas que acham que quem rebola não pode ser inteligente e por críticos do funk, que apostam que falar de sexo, curtição, entre outras pautas, é algo "menor". Só que a cantora não se exime de defender o que faz; afinal, ela começou a carreira como parte da produtora Furacão 2000, no Rio de Janeiro, uma das referências na construção do cenário do funk carioca.

É verdade que agora Anitta também é "Anira", como brincam os fãs nas redes sociais em referência a como se diz o nome dela em inglês. Mais do que o funk que a colocou na carreira artística, ela flerta com o rock, o sertanejo, o pop. Ainda assim, para Tamiris Coutinho, autora do livro "Cai de boca no meu b*c3t@o: o funk como potência do empoderamento feminino", quando Anitta produz funk ou dança de forma livre nos palcos, está colocando para jogo a corporeidade inerente à expressão cultural, que sempre foi marginalizada por ser feita por pessoas negras e da periferia.

"Essa corporeidade marca a identidade do funk, que tem questões da diáspora africana nas batidas, nos passinhos. Ao mesmo tempo, para a mulher, se traduz em um ato de liberdade e de individualidade", afirma a escritora.

Apesar de o rebolado de Anitta não ser "empoderador", já que isso pressupõe força para gerar liberdade coletiva, diz Tamiris, a cantora acaba sendo uma "potência" ao usar a música para afirmar que é dona do próprio corpo. "Falar sobre isso é marcar o direito à própria sexualidade, que deve ser respeitada pelo outro esteja a mulher usando biquíni ou um vestido longo."

Anitta tá na moda

Reprodução/Instagram/@anitta

O diretor criativo da Moschino, Jeremy Scott, assina há pelo menos seis anos algumas das escolhas da famosa, incluindo o vestido com o recorte "emoldurando" o bumbum da cantora. Peças que evidenciam essa parte do corpo de Anitta viraram comuns no guarda-roupa dela por causa da stylist e figurinista Clara Lima. "Criei essa marca registrada para ela, observando como dançava no palco. Vi movimentos que ela faz com o bumbum, como o quadradinho de oito e decidi enaltecê-los", conta a profissional que trabalha com Anitta em projetos criativos desde o Rock in Rio 2019. "Isso foi muito copiado por outras artistas depois; não que nunca tivesse sido feito, mas Anitta aliou isso a um discurso pela liberdade do corpo". Nas apresentações do Carnaval deste ano, a dupla mergulhou no universo gamer e criou personagens como "Space Cowgirl" e "Sereia intergalática". A figurinista conta que Anitta dá palpite em tudo. "Mas, agora, já temos afinidade nas criações, conversamos por WhatsApp e não faço nem prova de roupa, porque a agenda dela é apertada; chego com tudo pronto, só para pequenos ajustes".

Divulgação Redes Sociais

Para a consultora de estilo e colunista de Universa Thais Farage, o relacionamento de Anitta com a alta-costura e com a estética periférica tem muito a nos ensinar sobre moda e personalidade. "Ela não apenas usa grife, mas cria imagens de moda de um jeito divertido. Só não faz sentido esse 'casamento' para quem é careta, conservador", avalia a profissional. Na opinião de Thais, quem se irrita com a exposição do corpo de Anitta, por sua vez, tem o machismo e o preconceito de classe como base do pensamento. "Incomoda toda vez que uma mulher tem uma relação de liberdade com o próprio corpo, e ela ainda traz uma coisa periférica, que não abandona; é só lembrar do biquíni de fita isolante no clipe 'Vai, Malandra'. Farage acredita que Anitta traz "muita coisa da periferia para o centro". Vale dizer que esse movimento não está a salvo de críticas, como acontece sempre que a relação entre o mercado do entretenimento com a produção cultural periférica, principalmente com o recorte racial, se estreita.

Ela é uma grande feminista, uma mulher à frente do seu tempo. Além disso, é muito carinhosa e exatamente como eu tinha ouvido antes: no trabalho, é Anitta. Acabou, é Larissa, brincalhona, que se preocupa com a equipe, acolhedora.

Clara Lima, figurinista que trabalha com Anitta desde 2019

Ariana com ascendente em Capricórnio em pleno retorno de Saturno

"Ela é ariana e tudo que ela quer e sabe que depende dela, vai fazer. Ela tem força para isso. Sem contar que tem ascendente em Capricórnio, então vê o mundo numa perspectiva empresarial, de construção". A astróloga Virgínia Rodrigues atende Anitta há três anos. Para ela, a carreira brilhante da famosa estava escrita nas estrelas, com o perdão do clichê, desde que a influência dos astros na vida dela se tornou coisa séria. "A gente estuda tudo por esse viés, onde ela vai morar, passar aniversário, tirar férias."

Virgínia analisa o mapa astral de Larissa e afirma que toda a força que ela tem está em Câncer, o que a faz ser apegada e compromissada com as próprias origens. "Mais do que o mundo material, ela quer levar a família e as pessoas que ama para o topo".

Já o efeito Vênus em Áries está nas relações amorosas. "Ela é livre, em todas as músicas não precisa ficar provando quem é e diz ao outro: 'Se você não quer, eu vou embora'. Saturno em Aquário dá o tom na "força para chocar as pessoas". "Anitta sempre vai mostrar que é uma mulher autônoma. É a maior empresária do Brasil e um exemplo para outras mulheres serem livres".

Mesmo ciente de quanto o mundo astral interfere na vida, conta Virginia, Anitta ficou realmente chocada com a repercussão de "Envolver". E vem mais por aí, já que a cantora, aos 29 anos, está passando pelo "retorno de Saturno". "É um período em que a gente colhe o que plantou e, por ela ter Saturno em Aquário, isso vai acontecer de forma inesperada e às vezes até maior do que ela pensou. Ela acabou de fazer 29 e isso já aconteceu. Daqui para frente, é para ela preparar o coração".

Não queria ser mais uma, sabe, quando comecei a cantar. E não é por dinheiro, é porque não tem trabalho mais fod@ que esse. E um dia a gente vai chegar lá. Um dia eu vou estar velha pra c*ralho, rica pra c*ralho e cantando em tudo quanto é lugar. E vocês vão usar o vídeo para dizer: 'Caraca, olha como ela falava. Chegou lá!'

Anitta, em vídeo reproduzido no documentário "Anitta: Made in Honório"

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