Só tinha de ser com você

É possível encontrar o amor no mundo em pandemia? Eles conseguiram e agora terão o primeiro Dia dos Namorados

Ana Bardella De Universa
Pryscilla K./UOL

"Ele mudou de estado para ficar comigo"

"Conheci o Jediel pelo Instagram: ele me seguia e sempre interagia comigo, mas confesso que não dava muita bola. Foi só na quarentena que nos aproximamos. Ele mudou a foto do perfil e eu achei bonita — por causa disso, começamos a conversar e logo descobri que tínhamos muito em comum. Nossos valores eram parecidos e frequentávamos a mesma igreja. O único problema? Ele era de São Paulo e eu, de Feira de Santana, na Bahia. Isso não nos impediu, no entanto, de falar sem parar durante 20 dias. Nesse período, fizemos videochamada e aproveitei para apresentá-lo para minha família.

Nos encontramos pela primeira vez em outubro, quando viajei para São Paulo para o casamento de uma tia. Ela convidou apenas alguns parentes e, como o número de infectados pela covid havia baixado, eu e meus pais decidimos comparecer. Encontrei o Jediel já na rodoviária, fomos até um shopping, conversamos por algumas horas e ele me pediu em namoro. Nos beijamos pela primeira vez, mas logo precisei ir embora.

O relacionamento continuou, revezando as idas e vindas entre nossas cidades, mas com a distância sendo algo ruim. Até que, um dia, o Jediel estava comigo em casa e me preparou uma surpresa: ao chegarmos da igreja, encontrei balões, corações, buquês de flores, fotos nossas e uma aliança.

Exatamente quando completamos seis meses de namoro, fui pedida em casamento. Enquanto planejamos a cerimônia, ele já se mudou para a minha cidade

Essa é a primeira vez que comemoro o Dia dos Namorados e agradeço por ter encontrado um companheiro que tem tanto a ver comigo".

Ana Paula Bastos, 25 anos, criadora de conteúdo, é noiva de Jediel Oliveira, 25 anos, empreendedor.

Pryscilla K./UOL

"Cansamos de encontros e decidimos morar juntas"

"Estava solteira há seis meses e comecei a usar um aplicativo. Dei match com a Bruna em dezembro: ela me mandou um 'oi', mas eu não tinha visto a mensagem. Já estava um pouco desanimada com apps de relacionamento e resolvi clicar na opção 'dar um tempo', que faz a sua foto sumir, mas não impede que outros usuários te mandem mensagem. Quando ela percebeu isso, me escreveu: 'Apareceu aqui que você está dando um tempo. Tem alguma coisa que eu possa fazer para me incluir nessa?' Fiquei surpresa de um jeito bom e mandei para ela o meu número de WhatsApp.

Começamos a conversar e descobrimos que morávamos perto uma da outra, ambas com a família. Então, falamos de forma franca sobre os cuidados que estávamos tomando em relação à covid. Como estávamos isoladas, decidimos nos encontrar.

Depois de ficarmos pela primeira vez, falamos também sobre as nossas expectativas de relacionamento. Tanto eu quanto ela não estávamos em busca de um namoro, mas não iríamos nos fechar caso sentíssemos que poderia acontecer

Depois de um mês, eu já me sentia apaixonada, mas ainda tinha dúvidas se ela sentia o mesmo. Um dia, bebi um pouco a mais e acabei me declarando. Após esse episódio, descobri que o sentimento era recíproco. Uma semana se passou e ela me pediu em namoro. No início da relação, costumávamos alugar apartamentos de temporada para ficarmos mais próximas. Com três meses, cansamos dessa dinâmica e decidimos morar juntas.

Vamos passar nosso primeiro Dia dos Namorados da forma mais segura possível: em casa, tomando um vinho, jogando UNO, trocando presentes e vendo um filme — algo que não foge da maneira como costumamos passar as nossas noites."

Mariana Amorim, 29 anos, UX writer, de São Paulo (SP) namora Bruna Gabriela da Silva, 27 anos, coordenadora de operações.

Pryscilla K./UOL

"Nos conhecemos na garagem do prédio"

"Há três anos, me mudei para o prédio onde moro atualmente. Na época, aluguei um carro e pedi a uma amiga que me acompanhasse para fazer a mudança. Quando cheguei na garagem, percebi o quanto os espaços entre os carros eram estreitos e comecei a suar frio para fazer a baliza. Um rapaz, morador do local, apareceu e se ofereceu para ajudar. Assim que ele foi embora, eu e minha amiga tivemos a mesma reação: dizer o quanto achamos ele bonito.

O tempo passou e descobri o nome, Victor, e que ele era o meu vizinho de cima. Muitas vezes, escutava ele tocando violão ou guitarra —e percebi que nosso gosto musical era bastante compatível. De vez em quando, nos encontrávamos, mas achava que meu interesse não era recíproco.

Isso mudou na pandemia: logo no começo do isolamento, ele colou um cartaz no elevador conectando voluntários a pessoas do grupo de risco que estavam com receio de sair para fazer as compras. Gostei da ideia e coloquei meu nome na lista. Algum tempo depois, ele começou a me seguir no Instagram. A partir desse contato, em novembro, começamos a conversar.

Ele sugeriu de nos encontrarmos pela primeira vez, para me presentear com um queijo artesanal. Foi de máscara, de longe. Mais tarde, nesse mesmo dia, ele me convidou para um café e ficamos

Desde então, falamos até pelo interfone: um avisa o outro sobre o almoço, pede um ingrediente emprestado ou pergunta se o outro quer fazer companhia quando sai para correr. Não ligamos muito para datas, tanto que nem planejamos algo especial para o Dia dos Namorados. Provavelmente vamos passar o dia juntos, algo que já faz parte da nossa rotina"

Mariana Freitas, 30 anos, jornalista, de São Paulo (SP), namora Victor Mendes, 33 anos, músico

Pryscilla K./UOL

"Somos da mesma igreja e temos muito em comum"

"Costumo dizer que meu namoro é improvável aos olhos das outras pessoas: eu falava aos quatro ventos que queria permanecer solteira, já que as minhas experiências anteriores não tinham sido das melhores. No entanto, isso mudou quando conheci o Kelvin. Nós frequentamos a mesma igreja e trocávamos alguns olhares, mas, no máximo, nos cumprimentávamos. Nunca chegamos a realmente conversar.

Até que o encontrei no Instagram e passei a segui-lo. Era outubro e começamos a falar sobre coisas do dia a dia. Fomos criando uma amizade e continuamos nos encontrando na igreja, mas como sentíamos vergonha das outras pessoas, nosso comportamento pessoalmente seguia sendo o mesmo.

Pelas redes sociais as conversas mudaram. Ele já dava algumas pistas de que queria alguma coisa, mas eu não dava muita bola. Até o dia que ele parou de me responder: depois disso, eu senti falta e mandei uma mensagem pedindo para que, por favor, ele não se afastasse. Então, antes mesmo de ficarmos pela primeira vez, recebi de Natal uma declaração, na qual o Kelvin dizia que eu era a pessoa certa para ele.

Pensei que pudesse ser fogo de palha, mas estava errada. Marcamos de sair e nos beijamos. Desde então, não nos desgrudamos

Ele, aos poucos, foi tirando minhas inseguranças. Nosso desejo era fazer uma viagem de Dia dos Namorados, mas em razão da pandemia, vamos a uma lanchonete da cidade. Hoje nossas famílias são amigas e tenho certeza de que tomei a decisão certa".

Sarah Nunes, 19 anos, estudante, de Rio Claro (SP), namora Kelvin Tomé, estudante, de 19 anos

Marília Camelo

"Fui vítima de violência doméstica e hoje vivo um amor saudável"

"Conheci o Tarcísio em 2005, na minha cidade, Fortaleza. Ele é de Roraima e estava viajando a estudos. Na época, mais jovens, ficamos amigos. Os anos se passaram e acabamos perdendo o contato. Enquanto isso, a minha vida mudou. Fui vítima de violência doméstica, depois engatei em uma relação abusiva que durou anos. Quando finalmente saí, não tinha o desejo de embarcar em um novo namoro. Achava que o melhor seria ficar um pouco sozinha.

Logo depois do término, porém, minha irmã, que seguia o Tarcísio nas redes sociais, me avisou que ele estava solteiro e me incentivou a adicioná-lo. Eu fiz isso e aproveitei para mandar uma mensagem perguntando se ele se lembrava de mim. Em agosto, começamos a retomar o contato.

Ele me disse que havia recém saído de um casamento e não buscava algo sério. Era uma situação compatível com a minha e seguimos conversando

Em setembro, ele me convidou para ir para Brasília, confesso que tive receio, porque não nos víamos há 15 anos e também pela pandemia. Mas decidi que tomaria o máximo de cuidado e fui. Sem dúvida, foi a melhor decisão: passamos a semana toda grudados e, antes de retornarmos, fui pedida em namoro.

Agora, revezamos entre as cidades. Em fevereiro, ficamos noivos e pretendemos morar juntos após o casamento. Este será nosso primeiro Dia dos Namorados: vamos passar a data longe fisicamente e confesso que a distância é a parte mais difícil de lidar. Mas além de estarmos nos organizando para o futuro, sei que temos uma relação saudável e isso, para mim, é o mais importante.

Luísa Souza, 34 anos, turismóloga, é noiva de Tarcísio Melo, 43 anos, funcionário público.

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