UMA PUXA A OUTRA

Primeira mulher CEO da L'Oréal Brasil, An Verhulst-Santos deixou legado de mais de 50% de liderança feminina

Cláudia de Castro Lima Colaboração para Universa Divulgação

Ela nasceu na Bélgica, mas se considera muito brasileira. Nosso país, afinal, deu a ela mais do que o impulso que ela acha que faltava para crescer ainda mais na carreira. O Brasil deu a An Verhulst-Santos uma família. Foi aqui que a ex-diretora-presidente da operação nacional da L'Oréal se casou com um carioca torcedor do Flamengo, adotou um filho, Lucca, com 13 anos, e engravidou de Alicia, que completa 12 em julho.

Dos 30 anos em que trabalha na empresa, 23 ela passou longe de sua Bélgica natal. Viveu na França, Holanda e nos Estados Unidos e estava pela segunda vez aqui, para onde veio, em ambas ocasiões, porque pediu. Seguia os ensinamentos da avó, que dizia para ela que ela poderia ser quem quisesse. "Minha avó não era CEO de empresa, mas era CEO da vida dela", conta.

An agora é a nova presidente da L'Oréal Canadá. Levou com ela "a empatia, a sensibilidade e a criatividade do povo brasileiro". E deixou um legado de equidade de gênero em sua empresa, onde 53% da liderança é composta por mulheres. Além, claro, da mensagem de que não existe uma única beleza. "Ela é a expressão de uma personalidade, faz parte de quem você é."

Três dicas para liderar uma equipe

A mente pode tudo. Se você está convencida de que pode alguma coisa, você vai conseguir

Sobre a força do querer

Tenha muita paixão pelo que você faz, porque não é fácil ser mulher e CEO da própria vida

Sobre ter prazer no trabalho

Um dia alguém me falou: o que guia os homens é muito poder. Já o que nos guia é muita força

Sobre não ter que se comportar como homem

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No Linkedin: belga com coração brasileiro

"Talvez eu seja mais brasileira do que muitas brasileiras porque vir para cá foi uma escolha.

Em 30 anos de L'Oréal, 23 eu passei em países que não são o meu. Comecei na Bélgica e, após sete anos, falei [com os gestores]: e agora, o que posso fazer? Já tinha feito tudo lá. Me ofereceram uma posição na França e, de lá, na Holanda.

Vir para o Brasil foi pedido meu. Era 2004 e toda revista feminina falava da importância da beleza no Brasil. Vim para assumir a posição de presidente de produtos profissionais, divisão de produtos para cabeleireiros. Não falava uma única palavra de português. E me encantei pelo país, pela alegria, espontaneidade e a forma colaborativa de fazer as coisas

Daqui fui para os Estados Unidos e me chamaram para ser presidente mundial da divisão. Considerava o cargo uma honra, mas disse que gostaria de poder voltar para o Brasil, meu país de coração. E voltei há quatro anos para assumir esse posto do qual agora estou me despedindo.

O Brasil também mudou minha vida pessoal. Me casei aqui com um carioca e adotamos um filho, o Lucca. Um ano depois, engravidei da Alicia, que nasceu em Nova York quando eu tinha 44 anos.

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"É importante desenvolver as pessoas da equipe, não só negócios"

"Vou para o Canadá com muita mistura de sentimentos, mas também com orgulho porque estou sendo promovida. E deixo aqui uma equipe forte, talentosa.

Fizemos juntos uma caminhada com muitas transformações no digital, na diversidade, na sustentabilidade. Fui a primeira mulher a chegar neste cargo no Brasil e agora o deixo para o primeiro brasileiro a ocupar a presidência, o Marcelo Zimet. Mas minha conexão com o Brasil é muito forte. Você sai do Brasil, mas o Brasil nunca sai de você.

Cada uma das experiências traz algo novo para mim. Você se desenvolve como líder e como pessoa. Daqui, o principal que estou levando é a empatia, a sensibilidade e a criatividade do brasileiro. Quando se apresenta um assunto, logo o brasileiro forma uma equipe para resolver aquilo. Tenho uma liderança inclusiva, gosto de compartilhar as coisas.

Acho que não é preciso ter respostas a cada pergunta. Mas é preciso ter muitas perguntas sobre cada problema apresentado

Quero que se lembrem de mim como uma pessoa que desenvolve negócios, claro, mas também que desenvolve as pessoas

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"Cada mulher é a CEO de sua vida"

Meu primeiro modelo e liderança é minha avó. Minha avó não era CEO de empresa, mas era CEO da vida dela. Liderava sua vida com uma força muito genuína, autenticidade e muita gentileza. Ela tinha isso de "posso ser quem eu quero". Por isso, acho que cada mulher pode ser a CEO de sua vida, mesmo que não seja CEO de uma empresa.

Meu segundo modelo foi minha primeira chefe na L'Oréal. E eu a achava poderosíssima, mostrava seu ponto de vista, sem medo dos preconceitos. E ela me ensinou a ter orgulho da voz que nós temos como mulher.

Eu não planejava ser presidente de uma empresa, não tinha como objetivo: quero ser isso. Mas comecei a trabalhar com muita vontade de fazer meu trabalho bem-feito. E a L'Oréal detecta isso nas pessoas: um talento, uma maneira de trabalhar. E pouco a pouco as coisas foram acontecendo.

Acho que talvez uma das coisas que me levou a ter sido a primeira mulher no comando da L'Óreal Brasil foi o fato de eu ter tomado o risco de pedir para vir para o Brasil da primeira vez. Minha educação é anglo-saxã e, quando inventei de vir para o Brasil, me olharam surpresos. Isso deu uma complementaridade no meu perfil profissional. E também acho que eles viram em mim energia, vontade de fazer.

Já quis mostrar, por ser mulher, que sei também ou que sei mais. Tenho borboletas na barriga em vários momentos ainda hoje. Mas, quando aparece a insegurança, vem também a vontade de conseguir. Além disso, não somos sozinhas, somos conectadas. Então sempre é possível pedir ajuda.

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"Precisamos ser a representatividade da sociedade"

"Tentamos escutar o consumidor e tentar responder a cada desejo de beleza. Nosso propósito é criar a beleza que move o mundo. Há várias belezas, não uma só. Ela é a expressão de uma personalidade, faz parte de quem você é. Nós, como empresa de beleza número um, podemos criar marcas e produtos que acompanham essa busca de diversidade.

No Brasil, 53% do quadro da liderança e 64% do funcional são compostos por mulheres. Consegui desenvolver uma liderança voltada para equidade e diversidade porque estou convencida que equipes mais diversas funcionam mais e trazem mais resultado

Isso faz parte do compromisso da L'Oréal no mundo. A lógica é a de que precisamos ser a representatividade da sociedade em que vivemos. Nosso comitê executivo tem 30% de mulheres já. Mesmo as expatriações têm equidade."

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