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Mulheres brasileiras são grupo que mais se destaca no empreendedorismo em Portugal

Maioria de novos negócios criados por estrangeiros em Portugal são criados por brasileiras - iStock
Maioria de novos negócios criados por estrangeiros em Portugal são criados por brasileiras Imagem: iStock

01/05/2021 13h03

Cerca de 65% dos projetos para criação de negócios acompanhados pelo Alto Comissariado para as Migrações (ACM), de janeiro a dezembro do ano passado, foram feitos por brasileiros, sendo a grande maioria deles (em torno de 75%) por mulheres.

Fábia Belém, de Lisboa

Além de revelar que as mulheres passaram a ser o público que mais concretiza os seus planos de negócio em Portugal, o Alto Comissariado para as Migrações também chama atenção para a tendência de crescente digitalização dos projetos de empreendedorismo.

A brasileira Carol Palombini conhece bem esse modelo de empreendimento.

"Eu faço coisas presenciais também, mas a base toda [do meu trabalho] é virtual", explica a carioca. Segundo ela, "quem quer mobilidade, investir num negócio digital é interessante".

Quando morava no Rio de Janeiro, Carol tinha uma consultoria estratégica em gestão de pessoas e coaching de executivos e líderes. Em agosto de 2018, ela se mudou para Portugal e chegou com a ideia de continuar com o trabalho que fazia no Brasil.

"Nesse sentido, Portugal se torna estratégico porque eu consigo ter um custo de vida mais baixo. Então, consigo ter preços bem competitivos, e atender a Europa como um todo porque a minha consultoria eu posso fazer online; já faço online desde 2017", explica.

Diferenças culturais

No começo, fazendo o trabalho remoto, Palombini continuou a atender os clientes que já tinha no Brasil. Em julho do ano passado, ela formalizou a empresa em Portugal e expandiu o que fazia, dando consultoria a pessoas de outras nacionalidades, como portugueses, cabo-verdianos, suíços, ingleses e irlandeses. "Estou conseguindo fazer uma consultoria bem internacional. É uma coisa muito interessante, inclusive, trabalhar com essas diferenças culturais", ressalta.

Carol Palombini reconheceu que muitos dos conhecimentos que tinha não poderiam ser aplicados fora do Brasil e entendeu que era preciso adequar a consultoria aos novos clientes.

"E as adaptações são, obviamente, culturais. Então, você querer entender a cultura do outro e se colocar nessa posição de questionar 'como isso é na sua cultura? Faz sentido isso pra você assim?'", sublinha a consultora e coach brasileira.

Aprender a empreender

Ex-estudante de Direito, Franciane Amoedo chegou a Portugal em dezembro de 2016. Veio sem planos para empreender, mas não demorou muito para mudar de ideia.

"Eu não vim pra Portugal para empreender, mas Portugal me fez empreender e aprender a empreender também. Eu tinha que fazer qualquer coisa, tendo acabado de ter um filho", lembra.

Franciane começou revendendo enxovais para berço que ela importava da Polônia. Quando as clientes começaram a buscar peças personalizadas, a carioca aprendeu a costurar e, mais tarde, passou a vender só enxovais sob medida que ela mesma produzia: kit berço, almofada de amamentação, trocadores, rede de bebê, "toda essa parte têxtil para o quarto de criança, eu produzo".

Ser grande

Aberta em 2019, a loja virtual passou a dar lucro, e a máquina de costura doméstica foi substituída por uma industrial. Nos melhores meses, como janeiro, por exemplo, Amoedo faz até dez vendas. O valor de um enxoval pode variar entre 89 euros (R$ 580 reais) e 250 euros (cerca de R$ 1.650). Quem compra são brasileiras e portuguesas residentes em terras lusas, mas a empreendedora já se prepara para ampliar o negócio para outros países da União Europeia.

Para fazer crescer o empreendimento, Franciane já se inscreveu em programas para "ter investimentos". Nos planos, estão montar um ateliê ou uma fábrica e contratar mães que perderam seus empregos, a fim de que os produtos mantenham a ideia original "de mãe pra mãe", explica.

"A meta agora é expandir, é ser grande", avisa Amoedo.

Alto Comissariado para as Migrações

O Alto Comissariado para as Migrações (ACM) é um instituto público português, que atua na execução das políticas públicas relacionadas às migrações. Por meio do seu Gabinete de Apoio ao Empreendedor Migrante (GAEM), conseguiu acompanhar mais de 1 mil projetos entre 2015 e 2020.

Atrás dos brasileiros, que formam a maioria (65%) no que diz respeito ao número de projetos acompanhados pelo ACM ao longo do ano passado, estão colombianos (12%), luso-venezuelanos (9%), portugueses (9%), e imigrantes da Argentina (3%), de Bangladesh (3%), do Chile (3%) e do Nepal (3%).