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Para 20% dos franceses, não usar sutiã pode ser 'fator agravante' para estupro

Loja de sutiãs em Londres - In Pictures via Getty Images
Loja de sutiãs em Londres Imagem: In Pictures via Getty Images

27/07/2020 13h03

Os quase três meses de quarentena na França fortaleceram a tendência do movimento "No Bra" (sem sutiã, em tradução livre). De fato, cada vez mais mulheres francesas deixam de lado o uso da peça de roupa íntima. No entanto, uma pesquisa recente aponta para os preconceitos sexistas em torno do acessório: para 20% dos entrevistados, deixar os mamilos visíveis através da roupa pode ser um "fator agravante" para o estupro.

A tendência do "No Bra" se propaga na França: 18% das francesas de menos de 25 anos afirmam que nunca ou quase nunca usam sutiã, uma estimativa que teve um aumento de 4 pontos desde março, quando teve início o lockdown na França devido à pandemia de coronavírus. Passando mais tempo em casa, o acessório deixou de ser uma imposição por vários motivos, segundo um estudo divulgado na quarta-feira (22) pelo Instituto Francês de Opinião Pública (Ifop): o desconforto, o impacto negativo que o sutiã pode ter para os seios e até mesmo uma forma de recusar a sexualização do busto feminino.

O movimento não é novo na França. No total, 44% das mulheres da França já saíram ao menos uma vez de casa sem sutiã no último ano, uma percentagem que chega a 59% entre as jovens de menos de 25 anos.

No entanto, os resultados da pesquisa mostram o quanto a cultura do estupro ainda está arraigada à sociedade francesa. Para 34% dos entrevistados, uma mulher que não usa sutiã "quer atrair olhares". Segundo o instituto, 39% dos franceses estão de acordo com essa ideia, contra 30% das francesas. Além disso, 20% dos entrevistados, entre homens e mulheres, acreditam que deixar os mamilos à mostra pode ser um incentivo ao estupro. Já para 48% dos participantes do estudo (51% homens e 46% mulheres), o fato de não usar sutiã pode incitar o assédio sexual.

A ideia que o "No Bra" possa justificar um estupro tem principalmente a adesão das categorias mais populares da sociedade: é o caso de 34% das pessoas sem o Ensino Médio. A mesma concepção é verificada entre os religiosos (42% dos muçulmanos e 28% dos católicos praticantes).

Misoginia no trabalho

Outros dados relacionados ao estudo do Ifop mostram a misoginia nos locais de trabalho. Para 53% dos entrevistados (60% homens e 46% mulheres) não é apropriado ir ao trabalho sem sutiã. Não é à toa que 46% das mulheres entrevistadas pensem na possibilidade de ser alvo de olhares e julgamentos caso deixem o acessório de lado no emprego e 46% temam ser tratadas como antiprofissionais pelos colegas.

Mais da metade das mulheres de menos de 25 anos também relataram terem sido vítimas de diversas formas de assédio — como olhares indiscretos e insultos — por não usarem sutiã. Entre elas, 25% afirmam que, na ausência do acessório, tiveram os seios apalpados por homens.

A pesquisa foi realizada de 9 a 12 de junho deste ano pelo Ifop. Foram ouvidas 3.018 pessoas com idades a partir de 18 anos.