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Fundadora do #MeToo na França é processada por homem que a assediou

Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

Da RFI

29/05/2019 15h17

Ela se tornou célebre por lançar o braço do movimento #MeToo na França e foi a primeira francesa a denunciar seu predador sexual no Twitter. A jornalista Sandra Muller começa a ser julgada nesta quarta-feira (29) em Paris, acusada de difamação pelo homem que a assediou.

Em 13 de outubro de 2017, Sandra Muller publicou em seu Twitter a mensagem: "#BalanceTonPorc !! Conte você também o nome e os detalhes de um assédio sexual que você vivenciou no trabalho. Espero por vocês". A jornalista lançava, desta forma, o #BalanceTonPorc (denuncie o seu porco), equivalente ao movimento feminista #MeToo, chamado de #EuTambém no Brasil.

Quatro horas depois após a primeira mensagem, Sandra voltava ao Twitter e revelava seu assediador em um novo post. "'Você tem seios grandes. Você é o meu tipo de mulher. Vou te fazer gozar a noite inteira'. Eric Brion, ex-chefe do Equidia. #BalanceTonPorc", publicou a jornalista.

Nas horas seguintes, o movimento viralizou e milhares de francesas revelavam más experiências impostas por predadores no trabalho, seguida da hashtag #BalanceTonPorc. Já o tuíte original, no qual Sandra denunciou o ex-chefe, foi compartilhado mais de 2.500 vezes.

Devido à repercussão do caso, Eric Brion, ex-diretor do canal de TV Equidia, especialista em corrida hípicas, chegou a escrever uma coluna no jornal Le Monde em dezembro de 2017, na qual reconheceu os fatos relatados por Sandra e pediu desculpas à jornalista. No entanto, as "afirmações descabidas" foram feitas "muito tarde em uma festa em que todos estavam alcoolizados", justificou.

Na coluna, Brion se recusa a ser comparado a Harvey Weinstein e ser retratado como "um predador sexual". Em outubro de 2017, o ex-produtor americano foi acusado de assédio e agressão por mais de 80 mulheres, entre elas, estrelas de Hollywood, como Angelina Jolie, Gwyneth Paltrow e Asia Argento.

50 mil euros por perdas e danos

Meses depois, Brion resolveu processar Sandra por difamação. Ele exige 50 mil euros por perdas e danos e 15 mil euros por gastos com justiça. Também pede que o tuíte em que seu nome é citado seja apagado.

A jornalista se recusou a conversar com a imprensa antes do início do julgamento. Em seu Facebook, Sandra, que mora nos Estados Unidos, criticou o comportamento do ex-chefe.

"Vejam essa pessoa que primeiramente reconhece que teve uma conduta descabida, pediu desculpas, e bruscamente resolve atacar na justiça", afirmou advogado da jornalista, Francis Szpiner.

Já Nicolas Bénoit, advogado de Brion, alega que seu cliente "foi destruído" com a "delação". "Em nenhum momento ele teve possibilidade de se defender, foi acorrentado ao pelourinho", afirmou.

Sandra Muller foi designada pela revista americana Time como uma das maiores personalidades de 2017.