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Primeiro festival destinado à discussão da prostituição acontece em Paris

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Imagem: iStock

04/11/2018 14h05

Paris é palco até este domingo (4) do “Snap”, seu primeiro festival destinado à discussão da prostituição.

“Estamos aqui para criar nosso próprio discurso como artistas e profissionais do sexo”, explica Marianne Chargois, cujo documentário “Empower” revela as precariedades e os preconceitos que as prostitutas enfrentam. O longa tem a intenção de dar mais visibilidade a esse tipo de trabalho, assim como as inúmeras projeções e conferências do Snap.

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“Putas e feministas”, “Sex work is work”, “Serviço completo” são alguns dos títulos dos projetos que o público acompanha no evento. “O tempo todo, especialistas autoproclamados fazem leis em nosso nome e querem nos ‘salvar’ de nossa atividade”, lamenta Marianne Chargois, fazendo alusão à recente lei francesa sobre a prostituição.

O texto, em vigor desde 2016, impôs a penalização dos clientes de prostitutas, que podem pegar uma multa de € 1500 a € 3750. “A lei diminui o salário das profissionais do sexo e aumentam as violências contra elas”, explica Thierry Schaffauser, porta-voz do Strass, o Sindicato das Profissionais do Sexo. Ele também é co-organizador do Snap, que acontece no norte de Paris. Para Schaffauser, a morte de Vanessa Campos, mulher trans assassinada no parque Bois de Boulogne em agosto, é prova disso.

Visibilidade, política, legislação e prazer

De acordo com Schaffauser, a lei obriga as mulheres a atender os clientes em lugares isolados, longe da polícia, onde elas se expõem a agressões, como ocorreu com Vanessa Campos. “Enquanto não houver a discriminação do trabalho sexual, nada mudará”, diz Maïa Izzo-Foulquier, comissária da exposição de fotos do festival.

Para obter a anulação da lei, o Strass, outras oito associações e cinco profissionais do sexo depositaram uma Questão Prioritária de Constitucionalidade (QPC) no Conselho de Estado, que deve examinar o pedido na segunda-feira (5) e dizer se a demanda poderá ser encaminhada ao Conselho Constitucional.

Além do aspecto jurídico, o Snap também propõe uma reflexão sobre o sexo como trabalho e fonte de renda. O suíço Daniel Hellman montou uma cabana na entrada do evento, com o cartaz “Full service” (Serviço completo). Lá dentro, e protegido dos olhares, ele “oferece todo tipo de serviços” em troca de dinheiro. “Pode ir do sexo oral à escritura de um poema ou conselhos espirituais. Entramos em um acordo sobre o preço e a prestação”.

Mia, profissional do sexo do oeste da França, saiu da barraca de Daniel toda sorridente, dizendo ter recebido “carinho e beijos no pescoço”. “Falar do trabalho sexual nos torna mais visíveis e o festival mostra que não somos máquinas de fazer sexo”, afirma.