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Mulheres são mais atingidas em tripla crise de saúde no Congo: coronavírus, sarampo e Ebola

Moise Vaghemi, sobrevivente do Ebola que trabalha como enfermeira, trata paciente com suspeita de Ebola em Katwa, na República Democrática do Congo - Zohra Bensemra
Moise Vaghemi, sobrevivente do Ebola que trabalha como enfermeira, trata paciente com suspeita de Ebola em Katwa, na República Democrática do Congo Imagem: Zohra Bensemra

Por Kim Harrisberg

Da Thomson Reuters Foundation, em Johanesburgo

05/06/2020 13h16

Enquanto o mundo corre para conter o coronavírus, a República Democrática do Congo se apressa para conter também a disseminação do sarampo e um novo surto de Ebola, o que obriga as mulheres a adiarem os cuidados de saúde reprodutiva, alertaram grupos humanitários.

O Congo ainda enfrenta um conflito armado que traz consigo a violência sexual contra mulheres que, como cuidadoras, muitas vezes estão na linha de frente da atenção com os doentes, correm mais risco de adoecer e muitas vezes ainda são culpadas por propagar doenças.

"Um destes desafios por si só já é muito debilitante", disse Robert Ghosn, chefe de operações de emergência da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho no Congo.

"O efeito cumulativo é atordoante. Comunidades têm que enfrentar desafios múltiplos ao mesmo tempo", disse Ghosn à Thomson Reuters Foundation.

O vírus do Ebola causa febre hemorrágica e se transmite pelo contato direto com fluidos corporais de uma pessoa infectada, que sofre vômitos e diarreia intensos.

Um novo surto em Mbandaka, a capital da província de Equateur, anunciado em 31 de maio é o 11º do país desde que o vírus foi descoberto perto do Rio Ebola em 1976.

O Congo também combate uma epidemia de sarampo que já matou mais de 6 mil pessoas e a Covid-19, que já infectou mais de 3.600 e matou 78.

"O sistema de saúde da República Democrática do Congo foi enfraquecido por anos de conflito e negligência", disse Chantal Umutoni, conselheira sênior do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) na nação.

"A pressão adicional de se lidar com estes surtos acrescentará um fardo aos sistemas de saúde já sobrecarregados, e isto impactará o fornecimento de serviços de saúde básicos, especialmente para crianças e mulheres", disse Umutoni em comentários enviados por email.

Um estudo do Comitê Internacional da Cruz Vermelha relatou que as mulheres temem ser acusadas de ter Ebola, e por isso adiaram ou evitaram tratamentos de necessidades de saúde reprodutiva ou sangramentos.

O surto de Ebola afetou a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis (DST), abortos seguros, gestações acidentais e natimortos, de acordo com o relatório — riscos que especialistas temem aumentar em meio à tripla ameaça viral.

"Até junho de 2019, mulheres grávidas e lactantes não tinham direito à vacina contra Ebola. Isto sujeitou muitas (incluindo agentes de socorro na linha de frente) a um risco maior de contrair Ebola", disse Umutoni.