Chinelo da Havaianas é item fashion mais desejado do mundo, aponta ranking

As "legítimas" desbancaram o tradicional mocassim da grife francesa Saint Laurent, os clássicos vestidos mídi da Ralph Lauren que remetem às estéticas "quiet luxury" e "old money", o retorno do desejadíssimo tênis Nike Shox que foi sucesso nos anos 2000 e o sutiã com piercing falso da Skims —a celebrada marca de Kim Kardashian.

Grande parte destes produtos conversa com o Zeitgeist — isto é, com estilo de vida e vestir em alta no momento — ou têm importantes embaixadores e injeção de investimentos.

As clássicas curvas do tal "quiet luxury", um estilo minimalista que imita a percepção de uma "roupa de rica" com muita alfaiataria, tricôs, calçados e bolsas em designs aparentemente atemporais estão presentes em pelo menos cinco dos 10 itens do ranking, especialmente na líder absoluta de crescimento, a COS, que saltou 147% com seu "cashmere de luxo acessível".

A grife The Row, assinada pelas gêmeas Olsen, combina um pouco destes dois apelos em um salto de 28% — do sexto ao quarto lugar — de um trimestre a outro.

Ela cresce quase silenciosamente nas redes e na preferência de jovens americanas mais abastadas da geração Z, fascinadas pelo poder de duas celebridades "millennials" que, de certa forma, rejeitaram holofotes para criar peças extremamente minimalistas e com etiquetas de muitos dígitos. O cúmulo do tal luxo silencioso.

Já a Coach, cuja bolsa Soft Empyre Carryall Bag 48 ocupa o 10º lugar, se beneficiou de uma parceria com a série "O Verão Que Mudou Minha Vida", sucesso da Amazon Prime dos últimos três anos que também deverá ganhar um filme.

Já o tal vestido mídi classudo da Ralph Lauren virou mania ao ser usado pela cantora Taylor Swift no ensaio do anúncio de seu noivado com o jogador de futebol americano Travis Kelce, no Instagram, em agosto.

Paixão antiga

A Havaianas, no entanto, parece ter ganhado a corrida pelas beiradas, sem o poder de fogo de suas concorrentes no exterior. Mas ela não é assim tão ilustre desconhecida.

Nos últimos meses, os chinelos da marca se tornaram cobiçados pelas fãs do "estilo Copenhague" nas redes sociais, já que as dinamarquesas parecem ser fãs do nosso jeito de ir à praia e levam as "legítimas" até à Semana de Moda da sua capital.

A própria Lyst as celebrou em agosto como o "pico do estilo escandinavo":

Brasileiros não têm gostado dessa aparente "apropriação" daquela que é uma marca (e paixão) nacional e têm defendido que este não é o "estilo Copenhague", mas uma tentativa de invisibilizar as origens brasileiras do produto.

Assim, surgiu uma verdadeira batalha no TikTok nos últimos meses, com estrangeiras defendendo que Havaianas é apenas uma marca e que chinelos são uma invenção universal — como se essas mesmas fashionistas usassem qualquer outro — e com as brasileiras reclamando o orgulho em torno de um item quase nostálgico do seu armário.

A Havaianas parece não estar alheia à batalha. Seu Instagram na Europa traz a inscrição na bio, em português mesmo, "original do Brasil desde 1962". Já seu site brasileiro rebatizou em setembro a cor hit do momento: a Havaianas Buttercream virou "Encardida". Segundo a própria marca:

Tudo começou com uma nova cor - chiquérrima, neutra, bem tendência. O nome oficial? Buttercream. Mas aí o Brasil olhou e falou "alá a havaianas branca encardida". E a gente ficou como? Ouviu, amou e renomeou. Se tem uma coisa que a gente respeita é a criatividade do povo.

No site europeu, o nome da cor do tal chinelinho não aparece, a não ser no código dele, ainda "Buttercream". Sua descrição cita apenas uma homenagem à Seleção Brasileira da Copa de 1998. Mas a troca por aqui rendeu.

Em evento no fim daquele mês em São Paulo, a Alpargatas (sua empresa-mãe) anunciou que as vendas já haviam crescido 89% com a mudança de nome.

Em horário nobre nas telas, a garota-propaganda é um nome conhecido lá fora, mas que não deixa de ser orgulho nacional: a Fernanda Torres, a primeira brasileira a vencer um Globo de Ouro de Melhor Atriz. Ou seja, é do Brasil — e ele vende.