'Vulva de Ozempic': o novo efeito colateral do emagrecimento rápido

O termo "vulva de Ozempic" pode soar como uma piada, mas a mudança causada pela perda de peso abrupta tem feito cada vez mais mulheres se olharem com estranhamento no espelho.

Depois do "rosto de Ozempic" e até do "braço de Ozempic", agora é a região íntima que entra na lista das partes do corpo afetadas pela perda de gordura acelerada provocada pelas canetas emagrecedoras, como os remédios à base de semaglutida — uma substância originalmente desenvolvida para o tratamento do diabetes tipo 2, mas que ganhou popularidade por seus efeitos no emagrecimento.

Nas redes sociais, o termo "vulva de Ozempic" vem sendo usado para descrever mudanças na aparência e na saúde da vulva — como flacidez, perda de volume e irritações — que algumas usuárias relatam após emagrecer rapidamente com medicamentos do tipo.

Embora não seja um diagnóstico médico reconhecido, o fenômeno reacende o debate sobre os impactos físicos e psicológicos de uma transformação corporal súbita. Mais do que estética, trata-se também de bem-estar: há quem relate desconforto ao se movimentar, mudanças na sensibilidade e até na autoestima.

Médicos e cirurgiões plásticos têm recebido um número crescente de pacientes preocupadas com essas alterações — e, em alguns casos, interessadas em procedimentos para "reconstruir" o que se perdeu junto com o peso.

Região íntima entra na lista das partes do corpo afetadas pela perda de gordura acelerada provocada pelas canetas emagrecedoras
Região íntima entra na lista das partes do corpo afetadas pela perda de gordura acelerada provocada pelas canetas emagrecedoras Imagem: Getty Images

O que causa a "vulva de Ozempic"?

Segundo a ginecologista Lorena Porto, coordenadora do ambulatório da saúde da mulher do Hospital Professor Edgard Santos da Universidade Federal da Bahia (Hupes-UFBA/Ebserh), o fenômeno é consequência direta da perda de peso rápida e acentuada.

"É uma perda de peso abrupta. O corpo todo fica mais flácido, e a vulva também. A perda de gordura gera flacidez nos lábios externos e enfraquecimento dos músculos vaginais, com flacidez também. Essa diminuição de gordura envelhece a vulva, o que pode incomodar tanto esteticamente quanto, em alguns casos, funcionalmente", diz Porto.

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A ginecologista Ana Carolina Romanini, especialista pela Febrasgo (Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia) e médica da Clínica Ginelife, diz que mulheres que emagrecem muito em pouco tempo, principalmente as que tinham maior acúmulo de gordura na região pubiana, tendem a perceber mais essa mudança estética. "As pacientes com idade mais avançada, que já têm menor elasticidade de pele, podem ficar mais vulneráveis ao aspecto de flacidez", aponta.

De acordo com Porto, essa flacidez pode causar desconforto com algumas vestimentas e vir acompanhada de diminuição do colágeno e da força muscular dos tecidos de sustentação, o que também pode gerar secura na região. "Essa secura pode causar ressecamento, dor, ardor, disúria [desconforto ao urinar] e dificuldade na relação sexual."

Embora não traga riscos diretos à saúde, essas mudanças podem impactar a autoimagem e a vida sexual. "Quando a pele tem boa produção de colágeno e elastina, ela consegue se adaptar melhor à redução de volume. Já nas mulheres com menos elasticidade — seja pela idade, genética ou hábitos de vida —, a pele tende a não acompanhar a perda de gordura, resultando em flacidez e excesso de pele aparente", diz Romanini.

Lubrificante e preenchimento dos grandes lábios podem ser soluções
Lubrificante e preenchimento dos grandes lábios podem ser soluções Imagem: Fernanda Garcia/VivaBem

Como minimizar efeitos

Os sintomas devem ser tratados de forma individualizada. "A secura pode se beneficiar do uso de hidratantes, lubrificantes ou estrogênio tópico. Tecnologias como laser e radiofrequência (como o Fraxx) também podem ajudar, assim como a fisioterapia pélvica e o uso de lubrificante durante o ato sexual", diz Porto.

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Em alguns casos, explica a médica, o preenchimento dos grandes lábios é uma opção para restaurar o volume perdido. "Todo esse impacto é maior quanto maior for a perda de peso. Ainda não temos estudos específicos que comprovem todos esses efeitos, mas na prática clínica é o que observamos", acrescenta.

A ginecologista ressalta ainda que o impacto psicológico é relevante: "A sexualidade é multifatorial. A perda de autoestima em relação à aparência da vulva pode deixar a mulher envergonhada e comprometer seu desempenho. No entanto, o clitóris — que é o órgão do prazer — não sofre interferência direta".

Segundo Porto, emagrecer de forma mais lenta e gradual pode ajudar a minimizar os efeitos. "Com um emagrecimento constante e contínuo, aliado à prática de atividade física, acredito que esses efeitos possam ser menos perceptíveis — especialmente em mulheres jovens, já que nelas a perda de colágeno pode ser mais visível."

O papel do assoalho pélvico

A fisioterapeuta pélvica Laura Barrios, também da Clínica Ginelife, explica que o emagrecimento rápido pode ter reflexos na musculatura de sustentação dos órgãos pélvicos, caso não haja prática regular de exercícios.

"A rápida perda de peso pode ter impactos no assoalho pélvico, mas se o indivíduo adquire junto com a dieta um estilo de vida mais saudável — com boa alimentação, hidratação e exercícios —, a função pélvica também melhora. A perda de peso faz com que a pressão sobre os órgãos pélvicos diminua, mas se não há cuidado específico, pode levar à incontinência urinária ou ao prolapso de órgãos pélvicos", diz a fisioterapeuta.

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Barrios recomenda que o emagrecimento seja feito com orientação de uma equipe multidisciplinar, incluindo médico, nutricionista, fisioterapeuta e educador físico. "A fisioterapia pélvica pode utilizar recursos como biofeedback, eletroterapia e cones vaginais para melhora da força muscular", diz.

Quando procurar avaliação médica

De acordo com as especialistas consultadas por Universa, as mudanças na vulva após grande perda de peso são, na maioria dos casos, apenas estéticas. Mas a mulher deve procurar um médico se notar:

Desconforto local com roupas ou durante atividades físicas;

Dor, irritação ou atrito excessivo nos pequenos lábios;

Ressecamento vaginal com impacto na vida sexual;

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Alterações de autoestima ou da vida sexual ligadas à aparência da região.

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