Marcantes, bonitos e acessíveis: o que é que os perfumes árabes têm?

É difícil cravar a origem da perfumaria árabe. Há quem diga que começou no século 2, com a compra de olíbano, uma resina aromática que era usada na produção de incensos, e oud, material extraído do caule de árvores do gênero Aquilaria, na Rota da Seda, que ligava a China ao Mediterrâneo. Outros afirmam que foi o filósofo Avicenna quem apresentou a água de rosas aos muçulmanos. O que temos certeza é que, em 2025, essas fragrâncias conquistaram o mundo ocidental e inundaram as redes sociais.

A médica e criadora de conteúdo Anna Luiza Teixeira Santos, 26, tem uma coleção com mais de 500 perfumes. Desses, cerca de 20% são árabes. "Meu primeiro contato com esse tipo de fragrância foi no final de 2023. Comprei o Orientica Amber Rouge. Teoricamente, ele é inspirado em um perfume de R$ 5.000 que já estava na minha coleção. Então, decidi testar", contou à Universa. Um frasco do perfume árabe sai por cerca de R$ 600.

Encantada pelo preço —bem mais acessível do que perfumarias tradicionais, como a francesa, por exemplo — e pelas embalagens, Anna foi ampliando sua coleção aos poucos. Hoje, pelo menos 80 de seus frascos são de perfumaria árabe.

Anna Luiza tem uma coleção de mais de 500 perfumes
Anna Luiza tem uma coleção de mais de 500 perfumes Imagem: Arte UOL

"As brasileiras buscam itens bonitos para a penteadeira, mas que também tenham qualidade, fixação e projeção. Eles entregam esse combo por um preço bom", diz Anna Luiza.

Para a jornalista especialista em tendências Vânia Goy, a cultura pop é uma das grandes responsáveis por esse interesse crescente na perfumaria do Oriente Médio.

"No BBB 23, uma participante mexicana usava um perfume árabe. Na edição deste ano, Gracyanne Barbosa também levou para casa uma fragrância desse tipo. Há ainda a ascensão do interesse pelas novelas turcas. Tudo isso desperta o imaginário e cria curiosidade", explica.

Segundo Goy, o boom das redes sociais (só no TikTok, a hashtag #PerfumesArabes tem cerca de 224 mil publicações), aliado à cultura de massa —além das embalagens e preços atraentes— fez com que esses perfumes se tornassem muito desejados pelo público brasileiro.

O que os árabes têm

Perfume, na cultura árabe, vai além do cheiro. É parte da cultura.

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"Essa relação íntima com o perfume evoluiu para uma linguagem própria, onde fragrância, identidade e hospitalidade se entrelaçam. Perfumar-se não é apenas um hábito estético, mas cultural. Até hoje, o perfume é oferecido a convidados, usado em rituais religiosos e aplicado em camadas ao longo do dia —preservando uma herança olfativa viva, sofisticada e profundamente enraizada na tradição árabe", diz Luciana Knobel, vice-presidente de Criação da Symrise na América Latina.

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Além disso, é importante esclarecer que "perfume árabe" não significa, necessariamente, que foi produzido em um dos países árabes. E sim que possui notas da família olfativa oriental, como âmbar, oud (também chamado de ouro negro), patchouli e incenso.

"Eles são produzidos com ingredientes de notas doces, âmbar, musk. Tanto homens quanto mulheres usam perfumes que têm rosa, rosa-damascena, açafrão, especiarias e madeiras intensas", afirma a especialista em perfumes Helen Augusto.

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O perfumista Christian Alori, da casa de fragrâncias IFF (International Flavors & Fragrances), concorda. "Perfumes árabes têm notas particulares, que são opulentas, intensas e misteriosas. As mais comuns seriam as balsâmicas, amadeiradas, o âmbar, a rosa, o açafrão e o incenso", explica.

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Estar cheiroso, para os árabes, é tradição, não apenas vaidade. Por isso, é comum que tanto homens quanto mulheres deixem rastros de perfume por onde passem.

"Os árabes têm o costume de serem muito perfumados e fazem suas fragrâncias com matérias-primas comuns na região, como madeira e incenso. Cheiros fazem parte de seus rituais diários, tanto religiosos quanto de proteção", corrobora o perfumista e especialista em perfumes Fábio Navarro.

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Navarro explica ainda que muitos ingredientes são usados à base de óleo na composição dos perfumes árabes tradicionais, e não misturados ao álcool. Isso aumenta a intensidade e a duração da fragrância na pele.

Os frascos bonitos e luxuosos também são marca registrada desse tipo de perfumaria. Com acabamentos dourados e caixas que parecem joias, eles transmitem a sensação de riqueza aos olhos antes mesmo do aroma.

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Contudo, Navarro faz uma observação pertinente: muito do sucesso dos perfumes árabes nas redes sociais vem do fato de algumas marcas produzirem dupes, ou seja, cópias de perfumes famosos por preços acessíveis. E, se forem semelhantes a uma fragrância de renome, não são necessariamente perfumes árabes.

"Algumas fragrâncias inspiradas em outras têm entrado nessa 'onda árabe', simplesmente porque a empresa que produziu é dos Emirados Árabes Unidos. O design da embalagem pode lembrar, mas pela estrutura olfativa esses cheiros não podem ser classificados assim", explica.

Da internet para as lojas

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De acordo com dados do Google Trends, comparando 2025 com 2024, o interesse por perfumes árabes triplicou no Brasil, mostrando aumento de 180% nas buscas. Além disso, a procura por "perfume árabe" foi 22 vezes maior do que por "perfume francês" em 2025.

O mercado também sentiu esse interesse. De acordo com dados da Circana, empresa especialista em análise do comportamento do consumidor, o segmento de perfume árabe movimentou no Brasil mais de R$ 20 milhões em 2024. Isso significa um aumento de 380% em relação a 2023.

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Poliana Palhano é brasileira e gerente da loja de perfumes Fragrance de L'Opéra, em Paris. Ela afirma que essa obsessão por perfumes árabes é muito mais forte entre consumidores latino-americanos.

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"O cliente europeu não tem essa demanda pela perfumaria árabe. Mas é o que quase todos os latinos buscam. Mesmo aqui em Paris, eles querem essas fragrâncias, e não as francesas. Sinto que esse movimento acontece há cerca de cinco anos, mas há uns dois anos a demanda explodiu", explica Palhano.

O mercado brasileiro está atento a esse interesse. O Grupo Boticário, responsável por marcas como O Boticário, Eudora, Beleza na Web, entre outras, expandiu seu portfólio para atender a essa demanda.

"Apostar na perfumaria árabe não é sobre substituir o que já funciona, é expandir possibilidades e atender a um desejo do consumidor. O brasileiro sempre foi apaixonado por fragrâncias, mas o que vemos é uma abertura ainda maior para experiências olfativas intensas, exóticas e duradouras", afirma Renata Gomide, vice-presidente de marketing do Grupo Boticário.

Boa parte da coleção de perfumes de Anna Luiza é de fragrâncias árabes
Boa parte da coleção de perfumes de Anna Luiza é de fragrâncias árabes Imagem: Arte UOL
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Gomide explica que a marca oferece fragrâncias com inspirações árabes desde a década de 1990, com cheiros como Tuareg e Tanit. Mais atual, o perfume Diva Suprema (R$ 139,90), de Eudora, é líder de vendas no e-commerce. Além disso, foi criada uma seção especial no site Beleza na Web exclusivamente para esse público.

Os efeitos são sentidos de todos os lados. Rodrigo Lopes, diretor de marketing da Excellence Importadora, que traz para o Brasil perfumes de luxo e de nicho, afirma que a perfumaria árabe está subindo no ranking de interesse no país.

"Perfumes de ultraluxo continuam vendendo bem, mas os árabes estão se destacando entre as categorias mais baratas e intermediárias, o que faz com que, algumas vezes, vendam uma quantidade maior do que fragrâncias de luxo", explica.

Perfumes árabes

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