Mito ou verdade: há chances de engravidar fazendo sexo anal?

Imagine a cena: você decide experimentar sexo anal com seu parceiro e surge a dúvida — será que existe alguma chance de engravidar? A possibilidade é uma dúvida comum, e embora o ânus não tenha ligação direta com o aparelho reprodutor feminino, em situações raras, o risco não é totalmente inexistente.

"Não [existe a possibilidade] diretamente, mas é preciso cuidado para não haver contaminação da região vaginal", explica Sylvia Lemos Hinrichsen, infectologista e professora da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).

A ginecologista Tatiane Boute, do Fleury Medicina e Saúde, acrescenta como, eventualmente, esse risco pode surgir: "Durante uma relação anal (desprotegida ou em que há o rompimento do preservativo), o esperma pode escorrer se a ejaculação acontecer próxima à vagina - ou seja, na área ao redor da vulva, onde o líquido seminal pode eventualmente atingir o canal vaginal".

Mas como assegura e reforça a também ginecologista Ana Paula Beck, do Hospital Israelita Albert Einstein (SP): "Engravidar exclusivamente por meio de sexo anal é extremamente improvável, mas em situações raras pode acontecer". Já quando os espermatozoides não entram em contato com a vagina, não há qualquer risco de gravidez.

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Imagem: iSTock

Não descuide da proteção e da higiene

Para evitar o contato acidental do sêmen com a região vaginal e reduzir os riscos de ISTs (infecções sexualmente transmissíveis), o uso de preservativo é indispensável. "É preciso usar camisinha sempre, mesmo com um parceiro fixo", reforça a ginecologista Tatiane Boute.

Além disso, trocar o preservativo entre as penetrações anal e vaginal é necessário, destaca a ginecologista Ana Paula Beck. "Isso evita a transferência de bactérias e outros patógenos do reto para a vagina", esclarece. Esse cuidado ajuda a prevenir o comprometimento de órgãos pélvicos por infecções como vaginose bacteriana, candidíase e infecções urinárias, além de reduzir o risco de parasitoses, herpes simples, hepatites, sífilis, clamídia, gonorreia, HPV (papilomavírus humano) e HIV.

Tem mais. Outro cuidado é com a hidratação íntima durante a relação: "Sempre utilize lubrificante (à base de água ou de silicone) para reduzir as microlesões que favorecem infecções. Também é fundamental interromper o ato imediatamente em caso de qualquer desconforto", alerta Boute.

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A infectologista Sylvia Hinrichsen acrescenta que óleos e substâncias gordurosas devem ser evitados, pois podem danificar o preservativo e aumentar o risco de rompimento. Entre os produtos comprometedores aparecem o óleos, vaselina, cremes hidratantes, pomadas cosméticas e até manteigas corporais, que comprometem a eficácia do látex.

Nesse contexto, a higiene é outra etapa que não deve ser negligenciada antes da relação anal, tanto para o conforto quanto para a prevenção de infecções, asseguram as especialistas. É importante realizar uma limpeza cuidadosa da região externa, com água e sabão neutro, sem exageros ou duchas internas, que podem irritar a mucosa e alterar a flora (microbiota) intestinal.

A evacuação espontânea antes da relação igualmente ajuda a evitar desconfortos. Além disso, é indispensável higienizar bem as mãos e quaisquer objetos ou brinquedos sexuais utilizados, preferencialmente com sabão antibacteriano ou produtos próprios para assepsia íntima.

Essas medidas, combinadas, reduzem o risco de transmissão de bactérias, fungos e vírus, e tornam a experiência mais segura e saudável para ambos os parceiros.

Quando recorrer à ajuda especializada

Mesmo com todos os cuidados, o sexo anal pode causar complicações, sobretudo quando é realizado sem preparo adequado, força excessiva ou lubrificação insuficiente. A mucosa anal é muito sensível e fina, o que a torna mais propensa a microlesões, fissuras e inflamações — problemas que, se não tratados, podem evoluir para infecções e traumas mais sérios.

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"Sinais de que algo não vai bem incluem dor intensa e persistente, corrimento anormal, sangramento retal, lesões ou úlceras na região anogenital, ardor para urinar, surgimento de verrugas, ínguas na região da virilha, além de sintomas sistêmicos como febre ou mal-estar, e inespecíficos, que exigem atenção médica o quanto antes", alerta Sylvia Hinrichsen. Esses sinais podem indicar desde infecções locais até traumas musculares e lesões no esfíncter anal (músculo circular que envolve o ânus e controla a saída das fezes), o que pode resultar em dificuldade para evacuar ou incontinência fecal.

Fora as complicações físicas, o sexo anal forçado, doloroso ou realizado sem consentimento pode deixar marcas emocionais significativas, levando a quadros de ansiedade, culpa, retraimento sexual e dor psicogênica - quando o corpo reage com dor mesmo sem uma lesão física evidente. Por isso, as ginecologistas Ana Paula Beck e Tatiane Boute enfatizam que o sexo anal deve ser sempre consensual, feito com cuidado, comunicação, orientação médica e respeito aos limites do corpo.

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