Pioneira entre criadoras de beleza, Bruna Tavares superou burnout e 'nãos'
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Bruna Tavares viveu um burnout de internet em 2019. A vibração do celular, logo ao acordar, desencadeou uma crise de pânico severa. A partir dali, mudou sua relação com a tecnologia e a forma de administrar o negócio.
Pioneira ao criar uma marca com seu próprio nome, precisou derrubar portas no varejo e insistir para ser ouvida — da escolha das matérias-primas às estratégias de venda.
"Quando lancei meu primeiro batom líquido matte, o desafio era fazer algo tão bom quanto Kylie Jenner ou Kat Von D. Briguei muito para trazer matérias-primas importadas, o que era difícil pelo câmbio, mas essencial para garantir desempenho do produto", contou
A Universa, ela conta como equilibra o encantamento com a responsabilidade de gerir um império de maquiagem de longa duração.
Universa: Você é jornalista e em 2009 tinha um blog, antes de criar sua própria marca. Quando percebeu que só escrever sobre beleza não era mais suficiente?
Bruna Tavares: Fiz minha primeira colaboração com uma marca em 2011, pouco tempo após criar meu site. A minha marca nasceu mesmo só em 2016. No começo, estava apaixonada por licenciamento. Fiz grandes parcerias e aprendi muito nesse mercado. Mas, no fim, me encontrei participando de toda a jornada da criação de produto. Gosto de poder controlar a narrativa.
Vi ali a oportunidade de criar algo com meu nome, mesmo que ninguém falasse disso na época. Produto para mim era sinal de longevidade, porque eu já tinha noção de que o mercado de comunicação mudaria. Mas consumo é eterno. Uni minha paixão pela beleza com a chance de crescimento, sempre analisando os gaps do mercado.
Foi uma jornada solitária, sem ter com quem dividir dores e dúvidas?
Sim. Quando conversava com pessoas do meio, tanto influenciadoras quanto empresários, diziam que eu estava perdendo dinheiro, que afastaria a publicidade ao colocar meu nome em uma marca. Minha inspiração vinha de cases internacionais — Laura Mercier, François Nars, Estée Lauder. Histórias maiores, claro, mas que me inspiravam. Mesmo sendo solitário no sentido de troca, eu tinha certeza de que havia mercado.
Quem faz primeiro sai na frente. Isso me deu autoridade de venda. Mas foi difícil. O mercado e o varejo fecharam muitas portas. Recebi muitos "nãos" até conseguir os primeiros "sins".
Você se considera responsável por abrir portas para outras criadoras?
Não acho que "responsável" seja a palavra, mas sei que inspirei muitas. Elas mesmas me dizem. Quase todas as principais, quando começaram, vieram conversar comigo, pedir conselhos, até ajuda em contrato.
A própria Camila Pudim, que acaba de lançar a Pudim Beauty, acompanhei desde 2023. Dei conselhos, indiquei fornecedores, equipe. Quando alguém vê o sucesso de outra pessoa, isso inspira.
Então, sim, acho que sou inspiração e ajudei a abrir portas. Principalmente porque o mercado passou a acreditar mais nesse segmento.

Precisou bater muito o pé para a indústria te ouvir? Qual foi o momento do 'vocês vão ter que me engolir'?
Com certeza. O varejo fechou a porta na minha cara várias vezes. Tive que abrir caminho para trazer matérias-primas, porque o mercado nacional fazia só o "feijão com arroz".
Quando lancei meu primeiro batom líquido matte, queria algo tão bom quanto Kylie Jenner ou Kat Von D. Briguei muito para trazer ingredientes importados. Fui atrás de fornecedores no Japão, Itália, entre outros.
Hoje, essas fábricas me veem como vitrine, mas isso foi conquista, não só financeira, mas de posicionamento. Hoje, fornecedores dizem: "quero lançar inovação com você porque sei que vai comunicar ao público e isso vai reverberar no sucesso da minha empresa". Conquistei autoridade dentro da indústria, não só como influenciadora.
E como você aprendeu tanto sobre matérias-primas?
Tenho laboratório próprio e faço questão de estar próxima da ciência. Desde 2011, tenho contato direto com químicas e farmacêuticas. Peço explicações, participo de reuniões com fornecedores, workshops. Sou curiosa e gosto de aprender.
Catalogamos tudo em uma "biblioteca de matérias-primas" dentro da empresa, com explicações técnicas e comerciais, para que meu time de comunicação também entenda.
Quando peço ajustes em um produto, quero saber exatamente o que foi colocado. Ainda quero me especializar formalmente, mas hoje aprendo na prática, no dia a dia de laboratório, perguntando e registrando.

Sua carreira surgiu na internet. Essa exposição é essencial para sua marca crescer. Às vezes dá vontade de desaparecer?
Dá, e eu desapareço. Consegui criar uma relação saudável com minha imagem. Minha marca tem vida própria, com Instagram e campanhas independentes de mim. Agora apareço mais por estratégia.
Por conta da fusão internacional [em junho de 2024, a marca de Bruna se uniu ao grupo americano Kiss New York], preciso estar mais presente nas redes e mostrar que sigo como CEO e diretora criativa. Mas separo bem Bruna pessoa de Bruna marca. Isso garante longevidade.
E como é sua relação com o celular? Consegue deixar de lado?
Não. Já tive um burnout por causa disso. Eu estava deitada na cama, o celular começou a vibrar e tive uma crise de pânico. Fiquei paralisada, com o coração acelerado. Chamei meu marido e disse que não sabia o que estava acontecendo.
Depois percebi que o gatilho era o som da vibração. Até hoje meu celular não vibra, fica apenas no silencioso. Foi do dia para a noite. Ainda levei semanas para começar a voltar ao normal.
O que você acredita que desencadeou essa reação?
Eu passava o tempo todo resolvendo problemas com o celular na mão. Percebi que precisava aprender a delegar. Por isso também decidi pela fusão [Bruna se uniu, em junho de 2024, a empresa americana Kiss New York].
É importante ter uma estrutura por trás. Sozinha é muito difícil nadar nesse tanque de tubarões. Tanto em investimentos e estrutura quanto na responsabilidade. Isso fez bem também para minha saúde mental.

E o que você faz para evitar que aconteça de novo?
Criei sistemas e sou muito mais cuidadosa com minha saúde mental. Nunca mais quero passar por aquilo. Toda semana faço um mini detox. Entrego meu celular para meu marido na sexta à noite e só pego no domingo.
Ele guarda para eu não cair na tentação. É libertador, fico sem a preocupação constante. Isso tem ajudado muito com os níveis de estresse. Recomendo para todo mundo, falo sempre para minhas amigas. Foi sugestão da minha terapeuta — e foi incrível.



























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