Vagina flácida depois do parto? Perineoplastia promete devolver firmeza

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Depois do parto, muitas mulheres relatam que "a vagina ficou diferente". A sensação de alargamento ou perda de sensibilidade é comum e tem explicação científica: os músculos do períneo — região entre a vagina e o ânus — podem sofrer estiramentos, lacerações e até rupturas durante a passagem do bebê.
Em alguns casos, essas fibras não voltam ao lugar, deixando a região mais flácida e comprometendo funções como a continência e até o prazer sexual.
A medicina oferece um recurso para esses casos: a perineoplastia, uma cirurgia que reconstrói a musculatura da região íntima e "aperta" o canal vaginal.
Mas, antes de entrar na sala de cirurgia, vale entender como o problema acontece, quem está mais vulnerável e quais alternativas existem.
O que acontece no corpo durante a gestação e o parto
O assoalho pélvico é uma espécie de "rede" formada por músculos, ligamentos e fáscias que sustentam útero, bexiga e reto. Ele funciona como um centro de estabilidade para o tronco e ainda tem papel crucial na continência urinária, fecal e na vida sexual.
Durante a gravidez, esse conjunto é pressionado pelo peso extra no útero. E, no parto vaginal, passa pelo maior desafio de todos: a passagem do bebê.
Os músculos do assoalho pélvico e do períneo sofrem um grande estiramento para permitir a passagem do bebê, que pode causar lesões nas fibras musculares e nos ligamentos de sustentação, além de romper fibras elásticas naturais da região, Anne Pereira, ginecologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz
Ela diz ainda que, em alguns casos, há também lacerações ou necessidade de episiotomia (corte no períneo), o que pode comprometer ainda mais a estrutura muscular.
"O resultado é uma perda parcial da firmeza da vagina, levando à sensação de alargamento ou flacidez".
Outros sintomas comuns incluem redução da sensibilidade nas relações sexuais, flatos vaginais (barulho de ar saindo do canal vaginal durante o movimento) e sensação da vagina ser preenchida por água ao entrar na piscina ou banheira.
Apostar em exercícios durante e após a gravidez pode ajudar na tonicidade e a preservar melhor a região - sempre com liberação médica.
A fisioterapia pélvica preparando essa mulher para o parto é de extrema importância, porque vai reforçar a musculatura e reduzir o risco de lesões, Francisco Mota, coordenador do serviço de obstetrícia do Hospital Mater Dei Emec e professor de ginecologia e obstetrícia da UEFS (Universidade Estadual de Feira de Santana), na Bahia.
Nem toda mulher é afetada da mesma forma
Se duas mulheres passam por partos normais, por que uma sente frouxidão e a outra não?
A resposta está em fatores como genética, elasticidade dos tecidos, tamanho do bebê, número de gestações, idade, tempo de expulsão do bebê e até na forma como o parto é conduzido (se usou fórceps ou episiotomia com laceração).
Partos normais mais demorados estão associados a maior risco de lesão do assoalho pélvico, Igor Padovesi, ginecologista e obstetra, especialista em cirurgias ginecológicas minimamente invasivas e criador do Instituto de Cirurgia Íntima.
Além disso, o envelhecimento (pela diminuição natural da elasticidade dos tecidos), a menopausa (com queda de estrogênio), variações de peso, a obesidade e até a predisposição genética também contribuem para a flacidez vaginal.
"Mulheres obesas têm um risco maior de apresentar essa flacidez por conta do aumento do peso e a pressão intra-abdominal sobre o assoalho pélvico e a genética também é de extrema importância porque algumas mulheres têm uma pior produção de colágeno", diz Mota.
Quando a cirurgia entra em cena
A perineoplastia se torna necessária quando há frouxidão acentuada do canal vaginal e do períneo, traumas extensos do parto ou até prolapsos — quando órgãos como bexiga ou útero "descem" e se projetam pela vagina.
A cirurgia é feita com anestesia local, geralmente em caráter ambulatorial ou com curta internação, e envolve a aproximação dos músculos do períneo, reforço das fibras distendidas ou lesionadas e, quando necessário, retirada de excesso de mucosa vaginal e pele redundante.
"Assim, o canal vaginal é reconstituído e o períneo fortalecido, devolvendo sustentação e firmeza à região", resume Anne Pereira.
São utilizados fios absorvíveis durante o procedimento, o que significa que os pontos caem sozinhos após alguns dias, sem necessidade de retirá-los.
Padovesi explica ainda que a perineoplastia é um procedimento indicado para a maioria das mulheres que tem queixa de frouxidão vaginal depois de partos normais, mas precisa de avaliação porque nem sempre pode ser suficiente para resolver o problema.
Nos casos em que há flacidez de todo o canal vaginal para além dos danos na musculatura do períneo, pode ser necessário outras cirurgias complementares, apertando o canal da vagina por completo, ou também associar com outros tratamentos menos invasivos.
Mais do que um incômodo estético, essas alterações podem afetar a vida sexual, autoestima e bem-estar emocional da mulher. Muitas relatam constrangimento com o parceiro ou perda de prazer nas relações. Nesses casos, a perineoplastia pode ser uma ferramenta importante de reabilitação íntima, acredita Padovesi.

Resultados e limitações
Os principais efeitos esperados são melhora da sustentação do assoalho pélvico e da continência, redução da sensação de frouxidão e, indiretamente, benefícios na vida sexual. Muitas pacientes relatam maior fricção durante a relação e melhora da satisfação, mas os especialistas alertam: a cirurgia não aumenta a sensibilidade por si só.
O tempo médio de recuperação é de 4 a 6 semanas, com repouso relativo e abstinência sexual de pelo menos 45 dias ou até a liberação médica. Atividades físicas, como academia e corrida, também precisam ser suspensas nesse período.
Ainda assim, não existe garantia de que o resultado será definitivo.
A flacidez pode retornar após a cirurgia. Os principais fatores são: novo parto vaginal; envelhecimento natural e perda progressiva de colágeno; alterações hormonais da menopausa; obesidade; esforço físico crônico; e predisposição genética para frouxidão, Ana Paula Fabricio, ginecologista e obstetra, com residência pela Santa Casa de Araçatuba.
A cirurgia, no entanto, também pode trazer efeitos colaterais ou complicações. No curto prazo, podem ocorrer dor, edema, hematomas, sangramento ou infecção da ferida operatória. Em alguns casos, a cicatrização pode resultar em fibrose ou estreitamento excessivo da vagina, levando a dor durante a relação sexual e até necessidade de uma nova cirurgia corretiva.
A longo prazo, complicações são mais raras segundo especialistas consultados pela reportagem, mas incluem alterações na sensibilidade local ou insatisfação estética se o resultado não corresponder às expectativas.
Por isso, a indicação precisa e a boa comunicação entre médico e paciente são fundamentais. É recomendado ainda que o procedimento seja realizado por um ginecologista experiente em cirurgia íntima

Alternativas para casos leves e moderados
Existem recursos menos invasivos para lidar com a flacidez vaginal leve a moderada. A lista inclui fisioterapia do assoalho pélvico, exercícios de Kegel, radiofrequência, laser íntimo, ácido hialurônico e até tecnologias mais modernas, como o Morpheus 8V, que combina microagulhamento intravaginal e eletroestimulação.
"Hoje, o tratamento não cirúrgico mais eficaz é justamente o Morpheus 8V, que promove uma retração significativa dos tecidos e contrai a musculatura de forma mais potente do que a fisioterapia", afirma Igor Padovesi.
Diferença entre perineoplastia e ninfoplastia
A perineoplastia é uma cirurgia funcional e reparadora, focada no canal vaginal e no períneo, com objetivo de restaurar a sustentação e corrigir a frouxidão.
Já a ninfoplastia, também chamada de labioplastia, é uma cirurgia estética voltada para a redução dos pequenos lábios vaginais quando eles são excessivamente alongados ou assimétricos.
Enquanto a perineoplastia busca melhorar a função e, indiretamente, a vida sexual, a ninfoplastia está mais ligada à estética e ao conforto da paciente com a aparência da vulva.
É preciso vencer a timidez
Apesar de comum, a frouxidão vaginal ainda é cercada de tabus. Muitas mulheres têm vergonha de falar sobre o assunto, o que atrasa o diagnóstico e o tratamento.
"O papel do ginecologista é acolher a queixa sem julgamento e diferenciar quando a cirurgia é realmente necessária ou quando outras abordagens podem ser suficientes", defende Pereira.
Em resumo, a perineoplastia pode ser uma aliada importante para recuperar funções íntimas e autoestima. Mas, como toda cirurgia, deve ser considerada a partir de uma avaliação criteriosa, depois de esgotadas as alternativas menos invasivas.



























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