'Fui julgada': Ellen Milgrau trocou moda por faxina e ganhou programa na TV

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Ellen Milgrau, 31 anos, já desfilou para marcas como Prada e Valentino nas passarelas mais cobiçadas do mundo. Mas decidiu deixar o glamour da moda para se dedicar a outra função: a faxina. E não é qualquer limpeza: trata-se de colocar em ordem a casa de pessoas que, por algum motivo, não conseguem mais realizar o básico.
Muita gente achou que ela tinha enlouquecido — inclusive seu pai não entendeu a decisão. Mas, cerca de cinco anos após publicar o primeiro vídeo em que ajudava um amigo com depressão que não lavava a louça havia cinco meses, Ellen estreia na TV com um programa próprio: "Missão Faxina com Ellen MilGrau", no Discovery Home & Health e na HBO Max.
"Minha primeira postagem sobre limpeza viralizou. Teve milhões de visualizações. Nunca tinha visto algo parecido nas minhas redes", contou em entrevista exclusiva para o Universa.
Na conversa, ela falou sobre os bastidores dessa decisão e revelou: colocar a mão na massa a faz se sentir mais humana.
Universa: Como foi o processo de deixar a vida de modelo para se dedicar às faxinas?
Ellen Milgrau: Nunca tive grandes pretensões como modelo. Sempre fui comunicativa, gosto de me expressar. Minha vida na faxina começou ajudando um amigo em depressão profunda. Sempre gostei de limpar e já fazia conteúdos organizando minha própria casa, que o público acompanhava.
Esse amigo, que era alegre e festeiro, de repente se isolou. Gostava de receber visitas, mas passou a impedir que fôssemos à sua casa, alegando que estava suja. Ofereci-me para limpar, mas ele recusava — até que insisti e consegui. A situação era grave: fazia cinco meses que ele não lavava a louça. Percebi, então, o peso que tarefas básicas podem ter quando alguém não está bem. Para mim, ajudar é prazeroso.
Você gosta de assistir esse tipo de conteúdo?
Sim, eu já acompanhava vídeos de estrangeiros. É comum eles produzirem esse tipo de material. No Brasil, especialmente no período pós-pandemia, muitas pessoas estavam abatidas. Meu amigo deixou que eu filmasse a faxina em sua casa e, quando publiquei, viralizou. A partir daí, começaram a chegar pedidos de ajuda de outras pessoas. No início, fazia sozinha, depois outros foram se juntando e passamos a ajudar como podíamos.
Teve quem julgou sua decisão de trocar a modelagem pela faxina?
Sim. Meu pai mesmo achou que eu estava ficando louca. A maioria das minhas tias são diaristas, e ele não entendia por que eu queria seguir o mesmo caminho. Expliquei que gostava, mas que iria atuar em casos extremos. Sempre gostei de limpar lugares realmente sujos.
Houve desconfiança de todos os lados: da minha agência de modelos, da assessoria e até da equipe de marketing. Só quando perceberam que era um projeto com muitas possibilidades começaram a me apoiar. Mas, sim, fui bastante julgada.
Qual a sensação de saber que está ajudando tanta gente?
É clichê, mas é muito bom. Não me custa nada e faz bem para o coração. É a minha forma de contribuir com a sociedade. Sinto que é um propósito. Ajudar o próximo também me ajuda a lidar com minhas próprias questões, porque me faz enxergar que muitas vezes reclamo à toa. Tem gente em situações muito piores, tentando seguir em frente.

Muita gente acha que bagunça em casa é só preguiça. Você sempre foi empática com problemas psiquiátricos que levam a isso?
Tenho diagnóstico de depressão há mais de 10 anos e faço tratamento. Sei como é estar no fundo do poço, sei o peso que isso tem. É difícil explicar para onde a mente nos leva. Por isso, entendo. Às vezes, tudo o que alguém precisa é de um amigo, alguém que não julgue e simplesmente estenda a mão, fazendo algo simples como lavar uma louça. Esse ato de serviço é uma forma de cuidado.
Como ficou seu amigo depois da primeira faxina?
Hoje ele está ótimo e sempre me agradece. Já me ajudou a roteirizar vídeos de faxina e participou de muitos processos. Disse que nunca mais quer voltar àquela situação, mas recentemente perdeu uma pessoa querida e sigo atenta. Muitas pessoas que já ajudei afirmam que não querem retornar ao cenário da sujeira, pois a faxina trouxe ânimo para viver.
Já houve casos em que você pensou: "Não vou conseguir"?
Sim, e é nesses momentos que a ajuda dos amigos faz diferença. Juntos, conseguimos. Missão dada é missão faxina. É como um videogame: preciso ultrapassar fases para mudar de tela. Por mais cansativo que seja, vou até o fim.
Qual foi a pior situação que já enfrentou?
A mais grave foi no Rio Grande do Sul, durante as enchentes.
Eu e minha equipe tínhamos medo de adoecer, então nos preparamos bem, mas ainda assim foi tenebroso. Havia muitos animais mortos e chegamos um mês após as chuvas, quando as pessoas estavam reabrindo suas casas. Foi o ápice de não saber o que fazer. Precisei, em alguns momentos, me afastar para respirar. Foi a experiência mais difícil da minha vida.
O que começou como uma boa ação virou um reality. Imaginava chegar a esse ponto?
Não. Eu sabia que havia interesse do público, porque o conteúdo viralizou, mas nunca pensei que cresceria tanto. No máximo, imaginava um canal no YouTube. Hoje é gratificante ter essa visibilidade em um canal que enxergou o projeto e está espalhando uma mensagem de empatia e apoio. Muitas vezes, não imaginamos os problemas que as pessoas enfrentam, e ainda assim elas sofrem julgamentos. A bagunça é apenas a ponta do iceberg. Reverberar essa mensagem é muito recompensador.

Você se tornou mais empática diante de tanta adversidade?
Esse trabalho me trouxe de volta para a realidade. Eu vivia em um mundo de glamour, cercada de luxo e beleza, e isso vai nos deslumbrando, faz a gente esquecer o básico: olhar para o próximo e viver o presente.
Com as faxinas, voltei a ser quem eu era antes da moda, antes de sair do Brasil. Retomei minha essência humana. Sem sabedoria e terapia, a gente se perde.



























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