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'Engravidei de trigêmeos de um homem que tinha visto só uma vez na vida'

Marisa e os trigêmeos Imagem: Arquivo pessoal

Luciana Spacca

Colaboração para Universa

26/09/2025 05h30

Em 2019, a executiva comercial Marisa Malaquias da Silva, 38, recebeu uma notícia inesperada: descobriu que estava grávida de trigêmeos —e o pai era um homem com quem ela tinha se encontrado apenas uma vez.

"Ele era conhecido de uma amiga. A gente se falou por algumas semanas pelas redes sociais e decidimos nos ver pessoalmente. Nós nos encontramos, acabamos indo para um motel e nunca mais nos vimos depois disso", explica ela.

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Menos de um mês após o encontro, Marisa fez o teste de gravidez e obteve o resultado positivo. "Lembro que a médica me disse: você não está apenas grávida, você está muito grávida, vai ser mãe de trigêmeos", conta ela.

Eu realmente não pensava em ter filhos. Eu estava num outro momento, me mudando de cidade para trabalhar, focada na minha carreira. Tenho histórico de gêmeos na minha família, mas, na hora em que fiquei sabendo que teria trigêmeos, fiquei em choque e incrédula.
Marisa Malaquias da Silva

'Ele tirou a camisinha sem me falar'

Quando descobriu a gravidez, Marisa tinha 31 anos e morava em Mogi das Cruzes. O homem com que ela se relacionou vivia em São Paulo e tinha 59 anos. "Eu tinha terminado um relacionamento havia três meses e queria conhecer outras pessoas. Ele veio para a minha cidade para me encontrar. Eu sempre gostei de homens mais velhos e por isso acabei me interessando por ele."

Marisa conta que nunca usou anticoncepcional, mas que sempre usava camisinha em suas relações. "Ele sabia que eu não tomava pílula porque já tínhamos falado sobre isso. No dia, inclusive, eu tinha preservativo na bolsa porque sabia que tinha a possibilidade de a gente ter relação", revela.

Fomos para um motel e transamos. Não foi legal nem para mim e nem para ele. Não teve química. A gente fez tudo no escuro, ele não me deixou acender a luz. Antes de irmos embora, ele me contou que havia tirado a camisinha no meio da relação porque estava incomodando, mas não me falou na hora. Como as luzes estavam apagadas e foi tudo tão estranho, eu não percebi.
Marisa Malaquias da Silva

Ela explica que, na hora, não se preocupou com uma possível gravidez. "Eu achei aquilo esquisito, mas não dei muita atenção. Na verdade, fiquei até tranquila. Na minha cabeça, não tinha chance de gravidez", afirma.

O ato de tirar o preservativo durante a relação sem consentimento da parceira tem nome: stealthing. Apesar de não ter uma lei federal que aborde a prática, fazer isso pode se enquadrar em outras leis passíveis de punição. Um exemplo é o artigo 215 do Código Penal, que descreve uma violação sexual mediante fraude.

A Lei Maria da Penha também condena a prática de negar o uso do preservativo. Em março deste ano, em São Paulo, uma juíza ordenou por meio de liminar que o Centro de Referência da Saúde da Mulher realize abortos legais em casos de gravidez após stealthing.

'Eu só chorava'

Após o encontro, os dois decidiram que não se veriam mais.

"No dia seguinte, fui trabalhar normalmente. Contei para uma amiga o que tinha acontecido. Ela achou tudo muito estranho e me aconselhou ir até o hospital, para eu me certificar de que ele não tinha me passado nenhuma doença. Fiz alguns exames e tomei medicação preventiva, mas não tomei pílula do dia seguinte porque gravidez realmente não passava pela minha cabeça", conta Marisa.

Mas o pensamento dela mudou pouco tempo depois. Pouco mais de 15 dias após o encontro, Marisa decidiu ir até uma farmácia comprar um teste de gravidez. "Eu conversei com outra amiga, que estava grávida. Por curiosidade, perguntei como ela suspeitou da gravidez e ela me disse que havia tido relação no período fértil e, logo depois, a menstruação atrasou", explica.

"Fiz as contas e percebi que eu estava no meu período fértil no dia do encontro. Não sei dizer o motivo, mas naquele momento eu tive certeza de que estava grávida. Realizei o teste de farmácia e tive a confirmação: o resultado foi positivo", lembra Marisa.

Ultrassonografia confirmou gestação de trigêmeos Imagem: Arquivo pessoal

Logo depois, fiz o exame de sangue. Além de ter dado positivo, o teste também apontou que o meu nível de beta-HCG estava muito alto. A médica me pediu para fazer um exame transvaginal e marquei para o dia seguinte. Menos de um mês depois da noite no motel, descobri que estava grávida de trigêmeos. Meu mundo desabou. Eu só chorava, foi um choque muito grande. Eu não conseguia pensar em nada.
Marisa Malaquias da Silva

'Ficou muito tranquilo'

Marisa se chocou ao descobrir gravidez tripla Imagem: Arquivo pessoal

Depois de descobrir a gravidez tripla, Marisa decidiu ligar para o homem com quem havia se encontrado para dar a notícia de que ele seria pai.

"Até aquele dia, eu não havia tido nenhum contato com ele. Quando contei que estava esperando trigêmeos e que ele era o pai, ele ficou muito tranquilo. Disse que o que estava dentro de mim não era nem um grão de ervilha, que não dava nem para saber se a gravidez ia vingar", revela.

Marisa diz que, durante toda a gestação, falou poucas vezes com o pai dos bebês. Ela explica que os contatos sempre partiam dela. "De vez em quando, eu falava com ele por WhatsApp. Mas eu falava por mim, porque ele nunca me perguntou."

Quando eu estava de mais ou menos três meses, ele começou a questionar se os filhos seriam mesmo dele. Eu sugeri um exame de DNA enquanto ainda estava grávida, mas ele não quis fazer. Ele me disse que não estava feliz com a situação, que não queria saber de nada. Pediu para eu não entrar mais em contato com ele e me bloqueou.
Marisa Malaquias da Silva

Chá de bebê dos trigêmeos Imagem: Arquivo pessoal

Em meio à pandemia, Marisa deu à luz Pedro, Lucas e Davi. Os bebês passaram 40 dias na UTI antes de irem para casa com a mãe. "Enquanto eu ainda estava no hospital com os meus filhos, dei entrada no pedido de reconhecimento de paternidade. O pai deles teve de ser intimado judicialmente para fazer o teste, porque ele não se voluntariou", conta.

Todo o processo levou cerca de dois anos para ser concluído. Apesar de ter registrado os trigêmeos, Marisa diz que o genitor não tem nenhum tipo de contato com as crianças.

Os bebês passaram 40 dias na UTI antes de irem para casa com a mãe Imagem: Arquivo pessoal

"Eu só vi o pai dos meus filhos duas vezes: no dia em que ficamos juntos e no dia em que nos encontramos na clínica para fazer o teste de paternidade. A pensão alimentícia é descontada direto do salário dele."

Mãe solo de trigêmeos

Depois que os trigêmeos nasceram, Marisa foi para a casa dos pais para ter ajuda com os recém-nascidos. "Quando chegam três bebês de uma vez, muda tudo. Meu pai acordava de madrugada para me ajudar a cuidar dos meus filhos. Mas eu sentia que aquela não era mais a minha casa", conta.

Pai de Marisa ajudou a cuidar dos trigêmeos Imagem: Arquivo pessoal

Quando os bebês completaram um ano, ela se mudou. "Se eu tivesse ficado na casa dos meus pais, acho que não teria esse relacionamento tão bom que tenho com eles hoje. Porque foi uma coisa de doido, era insano rodar mamadeira com três bebês, não era fácil. Felizmente, eu sempre tive recursos e pagava alguém para me ajudar a cuidar dos meus filhos quando me mudei."

Desde quando ainda estava grávida, Marisa está em um relacionamento.

"Quando eu tinha mais ou menos três meses de gravidez, voltei com o ex-namorado com quem eu havia terminado pouco tempo antes. Ele é mais velho, já foi casado e tem duas filhas. A minha gravidez e os meus filhos nunca foram um problema para ele", explica ela.

Ele tem a casa dele e eu tenho a minha, embora passemos muito tempo juntos. Meus filhos convivem com ele desde que nasceram, mas sabem que ele não é o pai deles, tanto que o chamam de tio. Mas ele se dá super bem com os três. As crianças têm duas referências masculinas na vida deles: meu companheiro e o meu pai.
Marisa Malaquias da Silva

Ela afirma ainda que não se importa quando as pessoas a julgam pela forma como ela engravidou. "Eu tenho muito orgulho dos meus filhos e da minha história. Eu não tenho vergonha de falar que eu engravidei em uma noite, de um homem que eu vi uma vez só. Eu vou falar o quê? Vou inventar uma história? Essa é a realidade. Agrade ou não, é a minha história com eles."

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