'No fundo do meu poço tinha uma mola': traída, ela virou voz para mulheres

"Ver o meu filho no auge do meu sofrimento me dava força para seguir, não pelo amor, mas porque tinha alguém por quem precisava lutar. Quando olhava para o meu filho, percebia que não estava olhando para ele - sabe quando você olha para alguém com olhar perdido e fala que isso não está certo? Eu dizia: Preciso estar presente. Preciso entender o que o momento presente está trazendo sem ficar remoendo o passado", afirmou.

Além do filho, o apoio para Thamires superar o momento difícil veio da terapia e de pessoas próximas, família e amigas.

"Próximo ao acontecimento da separação e durante todo o processo, fiz sessões extras de terapia, porque precisava falar. Mas, falando para a grande massa, para quem não tem acesso à terapia, nem uma rede de apoio forte e presente, como um pai e uma mãe —que tenho a sorte de ter— as minhas amigas me ajudaram e foram muito importantes."

Autora dos livros "À Flor da Pele" e "Faça o Amor Ser Fácil", que reúnem reflexões sobre relacionamentos e a vida, Thamires tem na escrita um refúgio. Mas foi a oportunidade de conversar com as seguidoras por meio de vídeos na internet que deu novo gás à sua vida nos últimos meses.

Recentemente, ela lançou a web série 'Querido Diário', que mergulha em temas relacionados ao cotidiano das mulheres, aos altos e baixos das relações e à importância do amor-próprio.

"A escrita é uma ferramenta terapêutica. Acredito muito que, quando a gente escreve, coloca pra fora, e quando lê, consegue, muitas vezes, encarar aquilo como observador. Ter o privilégio de ser o observador da própria jornada é um presente, principalmente quando estamos com dor, vendo aquele lugar que não melhorou", afirma.

O Brasil do machismo estrutural

No Instagram, Thamires mantém um 'olimpo de deusas', onde compartilha, por meio de pílulas diárias, relatos pessoais, mensagens de empoderamento e recados ácidos e realistas sobre o universo feminino. A interação tornou a influenciadora referência para milhares de mulheres na rede.

"É muito grandioso e fico muito grata. Entrando no aspecto espiritual, vejo esse papel até como uma missão de vida. Hoje abri uma caixinha de perguntas e uma seguidora deixou uma mensagem linda dizendo: 'Você sabe que é uma ferramenta usada para falar direto com o coração de outras mulheres, não sabe?'. Eu sei, e por isso trato com muita seriedade e responsabilidade o que vou falar. Me sinto muito bem", disse.

O contato com as seguidoras deu a Thamires a oportunidade de acessar outros universos. As histórias que recebe retratam um Brasil ainda marcado pelo machismo estrutural.

"Recebo muitos relatos piores do que a situação que passei. Por que digo piores? Porque tem gente que não tem opção financeira, só conhece essa pessoa na vida, não tem uma família, não tem onde cair, literalmente desmontar, como no colo da irmã ou da mãe. Existem mulheres que só conhecem essa realidade", destaca.

Os reflexos do machismo estrutural também se dão em comentários de mulheres que Thamires recebe nas redes sociais. Ela conta que o hate, embora em proporção mínima em relação ao retorno positivo, aumentou após o anúncio da separação. As mensagens de ódio tocam especificamente na questão de gênero.

"Nós, mulheres, também somos subproduto da sociedade machista. A rivalidade feminina entra exatamente neste campo. Quando a notícia veio à tona, todos os comentários que vi de hate eram de cunho machista vindo de mulheres. Um comentário que me marcou foi de uma senhora. Ela comentou na notícia da traição: 'Deve ter ido procurar o que não tinha em casa'. Entendo essa senhora, porque, com certeza, deve ser a realidade dela, o que ela vive. Eu era a vítima, e até como vítima fui culpada", desabafa.

A instituição casamento também é criticada pela influenciadora. Segundo Thamires, o modelo de união favorece apenas os homens.

" A instituição casamento tende a prejudicar as mulheres porque elas abrem muito mais mão de coisas que os homens para viver o casamento. Os homens quando casam ganham uma parceira, uma mãe para o filho, uma empregada, uma babá, tudo. E a mulher ganha o marido, uma casa e um filho para cuidar sozinha, um desgaste enorme", exemplifca.

Vejo casos de mulheres que abandonaram carreira para ser mãe. Aí falam: 'Abandonou porque quis'. Vírgula. Às vezes elas caem em promessas que não foram cumpridas. Quando os homens decidem se separar, nenhuma promessa é valida em 99,9% dos casos. Vejo brigas na Justiça que fico impressionada, não acredito que o cara com essa condição de vida está dando para a mulher com dois filhos R$ 500 de pensão. Como vamos dizer que a instituição casamento é uma instituição de sucesso?

A vida continua

A carioca, pisciana e amante dos livros de romance, não descarta a possibilidade de um relacionamento, porém, o momento pede o acolhimento da felicidade e dos próprios sonhos.

"Um novo amor? Com certeza, mas não neste momento, não estou a fim. Estou conhecendo pessoas, e tem sido um processo muito legal. Estou no momento de focar na minha carreira, no meu filho, quero curtir. Estou em uma fase bem solteira", disse.

E ela deixa um recado:

A vida sempre continua. A gente tende a problematizar demais, se apegar muito nas relações. Se terminou um relacionamento agora, relaxa e continua. Vai sofrer, mas vai passar. Nada vai parar porque tem algo acontecendo com você. No fim tudo vai dar certo.