Sexo alarga a vagina? Ginecologistas desmentem mito que ainda persiste

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Entre os inúmeros mitos que rondam a sexualidade feminina, um dos mais persistentes — e prejudiciais — é a crença de que a prática frequente de sexo, especialmente com penetração, faz com que a vagina "alargue" com o tempo.
Embora essa afirmação esteja enraizada em muitos discursos, inclusive entre mulheres, ela não tem base científica. Pelo contrário: essa ideia perpetua visões machistas sobre o corpo feminino e pode afetar negativamente a autoestima e a liberdade sexual de muitas pessoas.
Mas afinal, de onde vem essa ideia? E por que ela ainda é tão disseminada, mesmo sendo falsa?
O que diz a medicina: estrutura muscular e adaptável
A vagina é um canal muscular altamente elástico, projetado biologicamente para se expandir e retornar ao seu estado natural. O sexo com penetração, independentemente da frequência, não tem o poder de alargar permanentemente a vagina.
Existem modificações anatômicas com o tempo, mas elas estão relacionadas ao envelhecimento e à perda de colágeno, ou ao número de partos vaginais. O sexo não é um fator determinante nesse processo.
A vagina é composta por músculos do assoalho pélvico, responsáveis por manter seu tônus. É um órgão com grande capacidade adaptativa. Durante o parto, por exemplo, um bebê passa pelo canal vaginal — e mesmo assim ele retorna ao tamanho normal. Comparado a isso, a penetração durante o sexo é algo mínimo.
Mudanças reais: quando o corpo de fato se transforma
Embora o sexo não cause esse tipo de modificação, o corpo feminino passa, sim, por mudanças ao longo da vida que podem afetar a região íntima. A perda de colágeno com o avanço da idade é uma delas. Outra mudança significativa pode ocorrer após partos naturais múltiplos, especialmente se a mulher não fizer exercícios de fortalecimento do assoalho pélvico.
Essas transformações, no entanto, não têm relação com o número de parceiros ou com a frequência de relações sexuais, como muitos acreditam. E mesmo nos casos em que há perda de tônus muscular, existem formas de fortalecer a musculatura vaginal, como os exercícios de Kegel.
De maneira geral, esse mito é uma forma de julgamento moral sobre a sexualidade feminina. Serve mais para controlar o comportamento da mulher do que para trazer qualquer informação útil ou verdadeira.
Por que esse mito é tão nocivo?
A ideia de que a vagina "alarga" com o sexo funciona como uma metáfora para desqualificar mulheres que não seguem os padrões de comportamento tradicionalmente aceitos. Muitas vezes, essa narrativa é usada para envergonhar, julgar ou até mesmo justificar desrespeito às escolhas individuais.
Além disso, ao reforçar essa noção equivocada, se cria um ambiente em que mulheres sentem culpa ou vergonha por viverem sua sexualidade de maneira livre — o que impacta diretamente a saúde emocional e os relacionamentos.
Sexo e prazer não devem ser tabu
Falar abertamente sobre o funcionamento do corpo feminino é um passo importante para desmistificar crenças ultrapassadas. A educação sexual — baseada em ciência e não em moralismos — é a melhor ferramenta para combater ideias equivocadas que ainda sobrevivem, mesmo em tempos de maior acesso à informação.
É fundamental que as mulheres conheçam seu corpo, saibam que têm direito ao prazer e compreendam que não há problema algum em viver uma vida sexual ativa, caso isso esteja de acordo com seus desejos e limites pessoais.
Fontes: Carolina Ambrogini, ginecologista e coordenadora do Projeto Afrodite da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo); e Larissa Flosi, ginecologista
*Com matéria publicada em 30/5/2021 e atualizada em 6/6/2025
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