Ela se casou dentro de carro no aeroporto de Guarulhos: 'Tarólogo previu'

A empresária Flavia Herdeiro, 51, ficou viúva em 2008. Apesar do susto, ela foi avisada dois anos antes por um cartomante que isso aconteceria. Anos depois, um tarólogo deu a notícia de que ela se casaria novamente em 2023, com um homem que não era brasileiro. Ela não botou fé.

Em uma viagem ao Egito para comemorar seus 50 anos, ela se apaixonou pelo guia de turismo. Ele, muçulmano, disse que só poderia visitá-la se eles se casassem. Ela aceitou, e assinaram o contrato dentro de um carro, no aeroporto de Guarulhos. A Universa, ela conta sua história.

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Perda do marido

"Em 2006, eu estava montando um escritório e uma amiga me indicou um homem que fazia feng shui. Quando cheguei lá, descobri que ele, na verdade, era um cartomante. Ele começou a ler as cartas e disse que eu ficaria viúva.

Foi a primeira vez que eu pensei nessa possibilidade. Mas dois anos depois, em 2008, meu segundo marido morreu. Ele teve um infarto. Foi um susto horrível porque a gente nunca está preparada. Foi uma fase tenebrosa, não sabia o que fazer.

A gente trabalhava junto, estávamos juntos o tempo inteiro — e de repente, não estávamos mais. Fiquei uns cinco anos anestesiada, mas a vida continua. Tinha uma filha adolescente que precisava de mim.

Voltei para o mercado de trabalho como executiva e ocupava pelo menos 12 horas do meu dia trabalhando. Foi importante: me tirava de casa, me tirava das memórias.

'Você vai ser casar de novo'

No réveillon de 2018 para 2019, fui para o Atacama e uma amiga me indicou um tarólogo, o Samuel. Sempre fui muito ressabiada com isso, mas fui mesmo assim.

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Ele me falou várias coisas que aconteceram depois, e disse: 'Você vai se casar de novo em 2023, com um homem que você vai conhecer em uma viagem, e ele não é brasileiro'.

Ele disse que o homem seria mandado pela espiritualidade como um presente pelo meu esforço de evolução. Como ainda era 2019, pensei: dá tempo.

Naquele ano, comecei a procurar algumas coisas que me reintegrassem e fui ao retiro de ativismo quântico com o físico Amit Goswami.

Durante cinco dias, participei de várias aulas sobre o mundo quântico e ele pedia aos alunos para prestar atenção nos nossos sonhos, que eles dariam a direção do arquétipo que estávamos vivendo naquele momento.

Flavia e Yasser no Egito
Flavia e Yasser no Egito Imagem: Arquivo pessoal

Tive um sonho em que uma mulher pegava coisas da minha casa, e acordei convencida de que vivia o arquétipo da Justiça. Contei para Amit e ele interpretou que eu estava vivendo o arquétipo da completude.

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Na minha cabeça, já tinha se passado dez anos da morte do meu marido. Eu achava que estava ótima, tinha montado minha empresa, minha filha estava na faculdade, tinha um monte de amigos, viajava. Achava que aquilo estava muito suficiente para eu me sentir completa. Não passava pela minha cabeça ter outro relacionamento.

Eu tinha medos. Se eu me relacionar de novo e ele morrer? Como é que eu vou fazer? Não queria nem pensar. Ficava até tentando imaginar o que seria um homem que me faria casar de novo. Não conseguia visualizar essa figura que o Samuel tinha me falado.

Mas como viajo muito, imaginei que uma hora apareceria alguém. Em 2020 e 2021 veio a pandemia. Ninguém viajou para lugar nenhum. Até brincava: será que a pandemia estava na contabilidade do Samuel?

'Pensava: tempo está passando'

Uma das coisas que o Samuel tinha me dito era que minha filha iria embora do Brasil e não voltaria mais. E, ela realmente foi, hoje mora como namorado na Alemanha. Por causa disso, fui algumas vezes visitá-los na Europa.

Toda vez eu pensava: o tempo está passando. Eu perguntava para o Samuel: ele está na Holanda? Inglaterra? Bélgica? E ele respondia: eu não sou GPS, só sei que você tem um casamento em 2023. Não sabia mais onde procurar.

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Quando chegou 2023, pensei: já era. Nem queria mais me consultar porque ele errou gravemente comigo, passei anos esperando. Mas decidi marcar em julho, no meu aniversário. E ele confirmou: naquele ano eu estaria com o homem que passaria o resto da vida.

Era o ano dos meus 50 anos e eu organizei uma viagem com os amigos mais chegados e minha filha. Tinha três opções: Marrocos, Turquia e Grécia.

Uma não queria ir para a Turquia, a outra queria ir para a Grécia com o marido, outro disse que Marrocos não era tão legal. Detonaram minha lista. Meu genro sugeriu o Egito, que também era um país muçulmano e um destino mais histórico. Decidimos ir para lá.

Até falei para o Samuel: a única viagem que tenho esse ano é para o Egito. A gente estava com medo porque éramos uma maioria mulher, tínhamos uma ideia estereotipada de lá.

Lembro de estar no aeroporto em Frankfurt, onde encontrei minha filha, pronta para ir para o Cairo, e pensar: agora só encontro um marido se for na volta. Desliguei completamente a possibilidade.

'Não sei onde começou'

Quando chegamos na cidade, de madrugada, o guia me ligou porque estávamos com o dia livre. No dia seguinte, eu conheci o Yasser pessoalmente. Fizemos o passeio das pirâmides naqueles dias.

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Não sei dizer onde, exatamente, as coisas começaram. A gente fez o cruzeiro no Nilo, e meus amigos já tinham percebido uma energia. Mas eu, não. Até eles começarem a falar, eu não tinha percebido.

Nós dois não temos nenhuma foto juntos nesta viagem, mas toda foto minha uma parte dele aparecia -nem que fosse o cotovelo. A gente ia tomar um café, e sem querer o único lugar que sobrava na mesa para mim era ao lado dele.

Teve uma noite que todo mundo já tinha jantado e subi com duas amigas no deck, na parte de cima, onde é tudo muito escuro e o céu fica todo estrelado. Elas desceram e deixaram eu e ele lá. Conversamos muito sobre a vida.

Ele disse que era divorciado há sete anos, falou bastante sobre a vida dele. Depois, uma amiga falou para mim que todos perceberam o clima, mas ninguém entendia por que eu estava dando tanta corda para ele já que iriamos embora em poucos dias.

Não aconteceu nada entre a gente nessa viagem porque ele é muçulmano, não tem nenhuma intimidade com uma mulher se não estiver casado. E ele respeitou muito isso, não deixava a conversa avançar de jeito nenhum.

Voltando para o Cairo, depois de uma série de coincidências, sentamos lado a lado no avião. Neste voo, tivemos uma conversa mais detalhada. Ele perguntou quando eu iria voltar, e eu perguntei quando ele iria ao Brasil. E ele me disse que só iria casado.

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Flavia e Yasser se casaram no civil no ano passado
Flavia e Yasser se casaram no civil no ano passado Imagem: Arquivo pessoal

Na minha cabeça, não existia isso. E aí ele me explicou que eu precisaria apenas assinar um papel, que era importante para a religião dele. Era para mostrar que estava ciente de estar em um compromisso sério com uma pessoa e que poderíamos ter intimidade. Não tinha validade legal, de direitos um do outro. Era algo da religião. E eu aceitei.

Na minha última noite no Egito, eu me perguntava: como vou falar para a minha filha? Ela me alertava que eu não sabia quem ele era, que ela não teria como me achar caso eu sumisse. Mas eu tinha uma paz tão profunda no meu coração, não tinha medo nenhum.

Fui jantar sozinha com ele e falamos sobre a vinda dele para o Brasil. Eu falei para ele que aquela era a coisa mais estranha que já aconteceu na minha vida. Não tinha nem pegado na mão dele e iriamos nos casar. E ele me estendeu a mão e pude segurá-lo.

'Assinei contrato no carro'

Só fui lembrar do Samuel e de toda a história do casamento em 2023 depois que voltei ao Brasil. Eu e o Yasser passamos a nos falar por vídeo e, no dia 1º de dezembro, ele chegou aqui com o contrato para eu assinar. Quando nos vimos, nem nos abraçamos.

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Fomos para o carro, para ir para a minha casa, e ele disse que não poderia entrar antes de eu assinar. Assinei o contrato de casamento dentro do carro, no estacionamento do aeroporto de Guarulhos. E aí ele foi para a casa comigo.

Desde então, eles vivem um relacionamento a distância. Ele voltou ao Brasil em fevereiro do ano passado e depois em agosto, quando nos casamos oficialmente no civil. No fim do ano, foi a minha vez de voltar ao Egito e conhecer a família dele. Eles me receberam muito bem.

Juntos, eu e o Yasser criamos a FYP, que quer dizer For Your Purpose (para o seu propósito, na tradução livre), que é uma agência de viagem para quem tem o objetivo de buscar propósito - que era o que eu estava fazendo desde lá do começo, em 2019.

Eu queria que as pessoas fossem para o Egito encontrar autoconhecimento, aproveitar a energia que aquele lugar tem para acessar esses pontos.

Vou para lá em setembro com um grupo meu de amigas bem próximas para fazer essa viagem. Em outubro, tem um grupo indo para fazer yoga e visitar os chakras do Egito.

A gente tem planos de, em algum momento, se juntar. Ainda não sabemos se aqui no Brasil ou se lá no Egito. Eu tenho empresas aqui, não tenho como ficar muito longe. E ele tem o trabalho dele, não tem como ficar distante também por enquanto.

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Meus amigos falam que não lembram como eu era sem estar casada com o Yasser. Eu também não. Parece que ele sempre esteve aqui. Não lembro muito de como eram as coisas antes dele.

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