Pensão alimentícia é direito da criança e não barganha entre os pais

Em um país que bateu o recorde de divórcios —a maioria deles (54%) entre casais com filhos menores de idade —, e a guarda compartilhada já representa 38% dos acordos, desmistificar a pensão alimentícia é fundamental. E isso passa por entender que ela se trata de um direito da criança, não um favor ou uma barganha entre os pais.

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"A pensão alimentícia é um dever legal dos pais, previsto na legislação brasileira, um compromisso que deve ser honrado por ambos os genitores", afirma a advogada Andressa Gnann.

Isso significa que não há distinção de gênero para o provedor da pensão alimentícia. Tanto homens quanto mulheres podem prestar os alimentos. Para casais homoafetivos, as regras para o pedido de pensão são as mesmas que as aplicadas a casais heterossexuais.

O que acontece é que, no Brasil, as mulheres se tornam detentoras da guarda unilateral em 50,3% dos divórcios —contra apenas 3,3% dos homens. E, mesmo nos casos de guarda compartilhada, o mais comum é que a moradia das crianças seja com elas.

Nesse contexto, a pensão alimentícia se torna uma forma de equilibrar as responsabilidades parentais, garantindo que os custos com moradia, alimentação, educação, saúde e lazer não recaiam exclusivamente sobre quem convive diariamente com a criança.

Quem paga a conta

Toda mãe que não vive com o pai de seus filhos sabe o quanto pode ser desgastante lidar com o assunto —divergências acabam virando processo judicial. Para se ter uma ideia da dimensão do problema, segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o Brasil registra cerca de 1.515 novas ações desse tipo por dia.

Sobrecarregadas e com medo: é comum mulheres serem vítimas de ofensas quando lutam pela pensão
Sobrecarregadas e com medo: é comum mulheres serem vítimas de ofensas quando lutam pela pensão Imagem: Getty Images

De acordo com especialistas, esse número poderia ser ainda maior. Afinal, muitas mulheres hesitam em buscar seus direitos por medo de conflito, falta de orientação, crença de que o processo pode ser demorado e desgastante ou ainda por acreditar que "darão conta sozinhas" —e podem até dar, mas não precisam e nem deveriam, já que filhos são responsabilidades de ambos os genitores.

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Não é para gastar com unha, nem com "macho"

Entre os argumentos mais comuns —e falhos —apresentados por ex-companheiros em discussões sobre pensão alimentícia, está a acusação de que a mulher estaria usando o dinheiro para outros gastos além de alimentação, como luxos ou até para sustentar um novo parceiro. Além de desrespeitoso, esse tipo de afirmação ignora a real finalidade da pensão.

Apesar do nome, pensão alimentícia vai muito além de garantir a alimentação das crianças, abrangendo despesas relacionadas à educação, saúde, transporte, vestuário, moradia e lazer dos pequenos. Motivada por essas situações, a atriz Samara Felippo criou uma série de vídeos ironizando a situação, que recebe centenas de comentários de mulheres que vivem experiências semelhantes. Veja aqui um dos mais populares.

Uma seguidora, por exemplo, escreveu: "Eu ouvi recentemente que era pra levar meu filho autista de ônibus para terapia, porque de carro era mordomia pra mim." Outra reforçou o que muitas sentem na pele: "Eles acham que o uso do 'dinheirão' que pagam é para o uso pessoal da mulher? Muitas vezes não dá para suprir nem as necessidades básicas das crianças!"

A advogada Thais Cremasco, marcada em outra publicação de Samara, postou um vídeo sobre as ofensas e xingamentos que muitas mulheres recebem ao solicitar pensão. Na legenda, a pergunta: "Quem aqui já foi v10l&nt@d@ pelo simples fato de exigir prestação de alimentos?". Nos comentários, um desabafo: "Eu fui chamada de vagabunda por ter filho pra não ter que trabalhar e viver de pensão."

"É impressionante como os homens têm uma resistência de cumprir o menor papel de todos em relação à paternidade, que é prestar alimentos", disse Cremasco.

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Mas vale saber que não há ofensa que retire a obrigação: a pensão alimentícia, prevista pela legislação brasileira, é uma ferramenta essencial para compartilhar encargos entre os pais, e assegurar uma vida digna para os filhos.

Dúvidas comuns

Outra dúvida frequente é se o pagamento da pensão alimentícia se encerra automaticamente quando o filho completa 18 anos —e a resposta é não, ele só é descontinuado por meio de decisão judicial.

"Se o jovem estiver cursando a faculdade, cursos, ou não conseguir se sustentar, o pagamento da pensão permanece", afirma a advogada Andressa Gnann.

"Mesmo em situações de desemprego, os pais são obrigados a buscar alternativas para cumprir com o pagamento", diz Gnann, que lembra que, em casos de inadimplência, a dívida pode ser cobrada judicialmente. "Se ocorrer o atraso de um dia que seja, o processo de execução já poderá ser iniciado e o devedor pode ter bens penhorados ou ser preso. É um mecanismo importante para garantir que o direito das crianças seja respeitado."

E, se você acha que o pai (ou segundo genitor) do seu filho nunca poderá ser responsabilizado, lembre dos casos de famosos que foram presos por não pagar a pensão dos filhos.

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Para encontrar informações oficiais, busque sites confiáveis, como o JusBrasil e o do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Reportagens bem elaboradas, como esta produzida aqui em UOL Economia, também podem ajudar a dar os primeiros passos. Mas o ideal é buscar sempre um advogado especializado em direito da família.

Alguns, como Gnann, costumam fazer lives nas redes sociais para responder perguntas comuns e oferecer soluções práticas, como cálculo do valor da pensão, negociações e passo a passo para garantir os direitos dos filhos. "A pensão alimentícia é um instrumento de justiça e responsabilidade. Minha missão é ajudar as mulheres a compreenderem, respeitarem e lutarem pelos direitos de seus filhos para garantirem o futuro deles."

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