Viver com dor na vagina não é normal e pode esconder problema neurológico

Sentir dor na vagina durante o sexo, ao se sentar ou até mesmo para urinar não é normal — e pode indicar uma condição neurológica pouco conhecida, mas mais comum do que se imagina: a neuralgia do pudendo. O problema afeta diretamente a qualidade de vida e, muitas vezes, é confundido com distúrbios ginecológicos ou até atribuído a causas emocionais.

Por desconhecimento médico e falta de exames específicos, o diagnóstico costuma levar anos. Enquanto isso, mulheres enfrentam dores intensas, interrupção da vida sexual e um grande impacto psicológico. Entender como o nervo pudendo funciona e o que pode afetá-lo é o primeiro passo para buscar ajuda e aliviar os sintomas.

A neuralgia do pudendo é uma condição rara que pode provocar dores vaginais intensas, desconforto ao sentar, ardência ao urinar e evacuar, e até sensação de corpo estranho na região íntima. Apesar de debilitante, o diagnóstico costuma demorar anos, pois os sintomas muitas vezes são confundidos com outras condições ginecológicas ou atribuídos a fatores emocionais.

Origem neurológica

O nervo pudendo é o principal responsável pela conexão entre a região pélvica e o cérebro, transmitindo sensações como prazer e dor. Quando comprimido ou lesionado, ele pode enviar sinais incorretos, resultando em dores crônicas que impactam diretamente a vida sexual e a qualidade de vida da paciente.

Segundo especialistas, o diagnóstico da neuralgia do pudendo pode levar de dois a dez anos. A principal dificuldade está no fato de que os sintomas levam a paciente ao ginecologista, mas a origem do problema é neurológica. Exames de imagem convencionais nem sempre detectam a causa, e o diagnóstico costuma ser feito por meio de avaliação clínica minuciosa.

Pesquisadores desenvolvem atualmente uma ressonância magnética específica para ajudar na identificação da condição, mas o método ainda está em fase experimental.

Diversas causas podem levar à compressão do nervo pudendo, incluindo:

  • Endometriose que se espalha para fora do útero;
  • Cicatrizes de cirurgias próximas ao trajeto do nervo;
  • Crescimento muscular, comum em atletas como ciclistas e corredores;
  • Tumores na pelve;
  • Impactos ou acidentes na região pélvica;
  • Presença de veias comprimindo o nervo.
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O tratamento é multidisciplinar e, na maioria dos casos, começa com fisioterapia para o assoalho pélvico, que visa alongar, relaxar e descomprimir a região. Medicamentos para dor crônica e suporte psicológico também são recomendados, já que o sofrimento prolongado pode levar à depressão.

Botox e cirurgia

Outras abordagens incluem o uso de toxina botulínica (Botox) para paralisar músculos que comprimem o nervo, bem como procedimentos minimamente invasivos com radiofrequência. Em casos mais severos ou refratários, a cirurgia por videolaparoscopia pode ser indicada para aliviar a compressão do nervo. Como último recurso, existe a opção de neuromodulação sacral, um procedimento que instala um dispositivo no sacro — a base da coluna — para modular os sinais de dor sem interferir na sensação de prazer.

A neuralgia do pudendo ainda é pouco conhecida, mas pode afetar profundamente a vida das mulheres. Buscar avaliação especializada ao persistirem dores na região íntima é fundamental para um diagnóstico correto e um tratamento eficaz.

Fontes: Nucélio Lemos, ginecologista especialista em neurodisfunção pélvica; e Tais Petterson, ginecologista

*Com matéria publicada em 10/6/2018

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