Ex-'esposa troféu', ela virou estrela da beleza no TikTok aos 55 anos

A paraibana tinha acabado de assumir um cargo novo no banco em que trabalha, com uma carga horária menor, de apenas seis horas ao dia. "Desacostumada" com tanto tempo livre, ela viu no hobby uma chance de ocupar as horas que ganhou.

"Meu filho me filmava, postava nas redes dele, e dizia: 'olha, mãe, você chama atenção, as pessoas querem lhe ver mais.' E eu achava aquilo estranhíssimo, mas aí gravamos o primeiro vídeo, que hoje a gente assiste e morre de rir, porque é fora do nível de exigência que temos atualmente com a qualidade. A gente foi tipo: vamos botar a cara para jogo", contou ela a Universa.

A nova atividade acabou aproximando ainda mais a família e Iara começou a gostar do tempo reservado à produção de conteúdo. Sem um assunto definido, os três transformaram assuntos do dia a dia em temas para vídeos, muitos deles sobre o estilo da influenciadora, que gosta de vestidos curtos e top cropped.

"As coisas foram surgindo de forma muito orgânica. Por exemplo, nós três gostamos de moda. Todo dia de manhã eu me arrumava para ir para o trabalho e vinha aqui na sala para dizer: 'e aí, meninos, como é que tá o look? aprovado?'. E aí isso naturalmente virou o look do dia."

Mas apesar do sucesso no segmento da beleza, Iara destaca que prefere não se rotular. Ela continua discutindo outros assuntos que são populares em sua casa.

"O que a gente compartilha nas redes é fruto da nossa vivência. De repente estamos conversando, jantando, e acontece uma coisa que a gente fala: isso aqui é massa, vamos compartilhar isso com o pessoal. Conversas que a gente tem sobre etarismo, sobre diversidade, no dia a dia."

Um dos quadros mais famosos de Iara provocava os seguidores sobre os estereótipos da moda, questionando: "esse look é estiloso mesmo ou é porque é uma jovem que está usando?".

O primeiro vídeo da série teve 3 milhões de visualizações.

Esse quadro fez uma diferença muito grande no meu perfil, principalmente pelos depoimentos que eu recebi. Eram meninas, de 20 e poucos, 30 anos, já com isso enraizado, de: 'eu não posso usar isso, eu não posso usar aquilo'. E com aquele termo: 'a novinha é que pode'. Esse termo termina excluindo quase todas nós, como se a gente fosse menos.

E Iara admite que ficou surpresa com o perfil das pessoas que a seguem: a maioria, jovens.

"Eu achava que só pessoas acima de 40, 50 anos, iriam gostar de me assistir. E pra minha surpresa, eu me conectei com os jovens profundamente, de uma forma emocional", celebra.

"Não estabeleço rivalidade: a novinha é linda, e as maduras também"

Ao comentar as críticas que já recebeu pelos looks que usa, Iara foge da ideia de criar rivalidade com mulheres mais jovens. O verdadeiro objetivo, segundo ela, é mostrar que pessoas de diferentes idades podem usar os mesmos produtos e roupas.

Tento enxergar que a novinha é linda, maravilhosa, com o frescor da juventude. E que nós também, mulheres mais maduras, temos um arsenal de beleza enorme, inclusive com algumas vantagens de autoconhecimento, de autoestima já trabalhada, que oferece uma outra beleza.

Já ao ser questionada se a maturidade a ajuda a lidar melhor com os haters nas redes, a bancária destaca que, mais que a idade, o autoconhecimento a auxilia a não absorver os julgamentos de desconhecidos.

"Não sei se tem a ver com a minha idade, mas sim com o investimento que eu fiz em terapia. Quando você se conhece melhor e sabe quem é, ninguém vai dizer quem você deve ser. E eu acho que isso faz muita diferença na internet. Até hoje, tenho zero preocupação em como me veem. Não supervalorizo nem o negativo, nem o positivo."

Indicação a prêmio e públi de luxo: como internet mudou a vida de Iara

Apesar de ter uma carreira de sucesso na área bancária, Iara conta que conheceu um novo tipo de sucesso ao ser reconhecida como influenciadora, com a indicação a um prêmio do TikTok e o contato publicitário com marcas de luxo.

Ter ficado entre os cinco finalistas do TikTok Awards na categoria moda e beleza, em uma rede social extremamente jovem, foi muito massa. E ultimamente as marcas de alto luxo têm me procurado, mesmo que eu não 'venda' luxo. Eu vendo uma vida privilegiada, de fato, mas não é uma vida de luxo. É algo que está vindo naturalmente.

Quando o assunto é sua "conversão" de bancária a influenciadora, a paraibana reflete que, por mais que sua geração não tenha convivido com as redes sociais, ela já desempenhava um pouco do trabalho que faz hoje, mas na vida real.

"Tem uma coisa engraçada que meu filho menciona: 'Mamãe, você influenciava desde sempre as suas amigas e suas colegas de trabalho. Se você estava em uma loja calçando um sapato, chegava uma pessoa do lado e dizia: 'ah, que sapato é esse? Quero provar um igual ao dela'."

A presença nas redes sociais nunca foi um problema no outro trabalho de Iara, mas ela admite que teve medo do julgamento — o que, no começo, chegou a acontecer.

"O meu mérito é apenas ter tido coragem de quebrar uma barreira que é imposta às mulheres mais velhas."

Iara ainda não sabe por quanto tempo irá manter a jornada dupla. Ela acaba de mudar de área no banco para tentar equilibrar melhor suas duas profissões, mas afirma que só vai continuar com a atual rotina enquanto conseguir trabalhar bem em ambas as áreas.

"Fui esposa troféu, até que enxerguei que não era tão bom negócio"

Os pais biológicos de Iara se separaram quando ela tinha apenas dois anos. Depois do divórcio, ela acabou sendo criada por um casal de tios, que considera seus verdadeiros pais.

A bancária se casou muito jovem e passou seus 20 anos como "esposa troféu", vivendo apoiada pelo dinheiro do marido, pai de Gabriel.

Mas logo depois de fazer 30, com o casamento chegando ao fim, ela se arrependeu de deixar a vida profissional de lado e decidiu retomar os estudos e o trabalho.

Eu fui esposa troféu por anos, mas enxerguei que não era tão bom negócio, que eu ia ser muito mais feliz sendo uma mulher independente. E aí tive que investir mais em mim para fazer essa transição. Voltei para a faculdade para terminar o curso de direito que eu tinha abandonado, fiz vestibular de novo. E durante esse tempo, também estudei para concursos.

Durante a faculdade, Iara trabalhava com "bicos", corrigindo redações de português, dando aulas de inglês e maquiando clientes. Quem a ajudava a cuidar de Gabriel eram as mulheres da família: sua mãe e suas quatro irmãs.

A vida financeira de Iara começou a mudar aos 33 anos, quando ela conseguiu um emprego como secretária executiva de uma grande empresa da Paraíba. A maior alegria, segundo a gerente, foi saber que o futuro do filho, que tinha cinco anos à época, estava nas mãos dela.

Pouco tempo depois, ela passou em seu primeiro concurso para assumir um cargo em um banco.

"(Meu auge veio) depois dos 35 anos, até lá foram altos e baixos, algumas dificuldades de independência mesmo, de estar investindo o tempo inteiro em estudo."

Iara faz questão de destacar que, apesar de se orgulhar do sucesso que conquistou, não "romantiza" seu caminho e reconhece os privilégios que teve para conseguir sustentar a rotina de estudos. "A forma que eu nasci, no lugar que eu nasci, na família que eu nasci, com a cor da pele que eu tenho, tudo isso facilitou. Isso tem que ser sempre lembrado porque as pessoas têm que ter oportunidades para ter a coragem."

Ela ainda defende a necessidade de as mulheres se cercarem umas das outras.

Não vamos rivalizar, vamos nos ajudar, a gente tem umas às outras, ponto. (...) E essa ideia medieval de que a gente depende dos homens, eu acho a coisa mais cafona que pode existir.