'Estou destruída': brasileira perde guarda do filho na Dinamarca

Ela conta, que no início, ele parecia ser um homem doce, mas, com o tempo, se mostrou ciumento e controlador. A relação do casal mudou depois do nascimento de A,, em maio daquele mesmo ano. Ela pediu o divórcio, mas ele não aceitou o fim do relacionamento.

Segundo Raquel, antes de se separar, Rasmus dizia a ela que faria todos acreditarem que ela era "louca", que tomaria o filho dela e faria com que fosse expulsa da Dinamarca.

Rasmus, então, fez muitas acusações, que ela nega, como a de que era uma mãe ruim e que fazia uso de drogas —de acordo com Raquel, Rasmus, viciado em anfetaminas, era quem fazia uso de drogas.

Sofri todos os tipos de abusos: físico, psicológico e sexual. Quando nos separamos, exigia sexo para que eu pudesse ver meu filho. Disse que não pararia com tudo aquilo até me matar.
Raquel Bezerra do Vale

Após pedir o divórcio, Raquel foi morar em um abrigo da prefeitura e, depois, foi encaminhada para uma Casa de Família, instituição para a qual imigrantes são mandados para aprenderem a cultura dinamarquesa e serem avaliados.

Durante o tempo em que ficou lá, Raquel diz que mostrou bom comportamento e conseguiu desmentir a versão construída pelo ex. Ela conseguir alugar um apartamento e se instalou na nova casa, mas, em março de 2024, a situação mudou novamente.

Segundo ela, em uma das visitas de Rasmus, o pai sequestrou A. e o manteve em local desconhecido por seis meses. Em novembro, as autoridades descobriram o paradeiro deles e conseguiram resgatar a criança.

À Justiça dinamarquesa, a brasileira disse que Rasmus ameaçou matá-la e teria dito à própria polícia que cometeria o crime —a denúncia consta em documentos do processo obtidos por Universa.

Por esse motivo, a brasileira teve de deixar o apartamento onde vivia. Com medo do ex, ela se mudou para outros dois abrigos —questão que, depois, seria usada contra ela no processo da guarda.

No início de março, em uma primeira audiência, as autoridades chegaram a conceder a guarda de A. a Rasmus. Depois, na segunda audiência, a criança foi encaminhada a uma família escolhida pela Justiça da Dinamarca. Raquel pretende recorrer da decisão.

A Universa, a brasileira conta que sempre foi boa mãe e provou isso ao morar sob supervisão de famílias dinamarquesas, além de ter sido aprovada em todos os testes impostos pelas autoridades do país.

Já a prefeitura de Høje-Taastrup, cidade satélite de Copenhague, onde mora, alegou que Raquel não tem endereço fixo na Dinamarca, "tendo se mudado várias vezes", e que isso foi um dos motivos para a brasileira perder a guarda de A..

As mudanças, no entanto, ocorreram, segundo Raquel, devido à perseguição que sofreu do ex-marido.

Meu filho e eu estamos sendo injustiçados. Estamos sendo tratados de forma desumana.
Raquel Bezerra do Vale

O que dizem as autoridades

A brasileira, por meio da Pró-Vítima (Instituto Brasileiro de Atenção e Proteção Integral às Vítimas), pede ajuda das autoridades brasileiras para recuperar a guarda do filho.

Procurados por Universa, os ministérios da Mulher, das Relações Exteriores e da Igualdade Racial disseram que estão acompanhando o caso e em contato para avaliar "possibilidades de ações conjuntas a partir das competências de cada órgão". Os órgãos não dão informações detalhadas sobre casos individuais de assistência a cidadãos brasileiros.

A reportagem também procurou a defesa de Rasmus e a coordenadora de serviço social de Høje-Taastrup, que não deram retorno até a publicação deste texto. O espaço segue aberto.

*O nome foi omitido para preservar a identidade da criança