65% das mães afirmam ter dificuldades em amamentar. Saiba como se preparar

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Amamentar não é simples, na maioria dos casos é preciso informação e ajuda para que a troca entre mãe e bebê funcione bem. Se você sente incômodo saiba que não está sozinha, 45% das puérperas afirmam ter dores excessivas ao amamentar.
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As mães dividiram ainda que passam por ao menos duas das opções de desconforto listadas: bico rachado (41%), pega errada do bebê (41%), seios muito cheios (37%), falta de leite (24%) ou bico invertido (13%). Os números são da pesquisa feita por Universa, chamada de "Estudo Materna: o que pensam e querem as mães", realizada em dezembro de 2023 com mil mulheres, e a metodologia de Mind Miners, plataforma especializada em Consumer Insights.
Com as dificuldades, 13% das mulheres acabam desistindo de amamentar. Mas é importante ressaltar que é possível não desistir, existem técnicas e aprendizados para que a amamentação seja indolor, e para tentar seguir a recomendação da OMS (Organização Mundial de Saúde) de que o leite materno seja o único alimento do bebê até os seis meses de vida, tentando manter o alimento até os dois anos.
Preparação durante a gestação
De acordo com Viviane Bon Campos, doula e consultora de amamentação (especialista em pré-parto, parto, pós-parto e instrutora GentleBirth), a preparação para a chegada de um bebê deve ser completa: ter ajuda desde o pré-natal é fundamental para alinhar expectativas do aleitamento.
Muitas mulheres se preocupam com o parto e deixam a amamentação só pra quando o neném nasce: aí está o erro. É importante se preparar durante a gestação, principalmente se essa grávida já tem alguma intervenção no seio, como próteses ou cirurgia prévia. Viviane Bon Campos, doula e consultora de amamentação.
Entender o que é esperado ou não na amamentação, já ter contatos de especialistas para ajudar se houver necessidade, e contar com uma intervenção precoce de uma consultora é uma das dicas capazes de diminuir desconfortos e traumas futuros. Mas, é claro, que só será possível saber se o bebê terá alguma questão que impacta na amamentação após o nascimento.
E nada de esperar pelo pior. Os números da pesquisa apontam falta de informação e apoio especializado na persistência dos incômodos das entrevistadas.
"Para todas essas dificuldades apontadas na pesquisa, temos recursos e conhecimento para facilitar a amamentação. Muito se deve ao manejo, forma da pega do bebê ao seio da mãe," tranquiliza Viviane. "O ensinamento de como segurar o bebê, como ele deve abocanhar o seio, como fazer massagem de alívio nas mamas, o que aumenta a produção. Tudo isso pode ser visto no pré-natal, antes do bebê chegar. A mulher se sente mais preparada e confiante com esse conhecimento", completa.
É preciso preparar o seio?

Atenção: nada prepara o seio antes. "Não faça nada antes. Não precisa. Há muito tempo atrás, indicavam fazer ações para engrossar a pele do mamilo para evitar que ele rachasse ou machucasse, mas não funciona", orienta Viviane. Acredite, o corpo já produz secreções sebáceas (através das glândulas de Montgomery, na aréola e em volta do mamilo) que mantém o complexo mamilar bem hidratado. E, após o nascimento do bebê, o próprio leite passado após as mamadas é excelente em preservar a hidratação e amenizar desconfortos.
Não use nenhum produto sem indicação de um especialista, nem antes e nem depois, pois previamente não há nada que ajude e, após, se houver machucados ou fissuras, é necessário corrigir a causa.
Tem muitas crenças que ainda atrapalham a amamentação, como achar que tem que esfregar toalha ou bucha na mama durante a gestação, tomar sol para preparar o seio, passar pomada de Lanolina, colocar compressa quente, ou achar que é normal sofrer, machucar, sangrar o bico. Não é! Ana Luiza Zapponi, enfermeira obstétrica com atuação em pré-natal, consultora de amamentação e sono.
Dificuldade não decreta o desmame
Para Ana Luiza, a explicação para os números da pesquisa é um conjunto de fatores. "O primeiro é que poucas mulheres procuram ter maiores informações sobre a amamentação. Além disso, socialmente acredita-se que a criança vai nascer vai sugar, quando na verdade não é bem assim. Tem ainda a cesária, se teve hemorragia pós-parto ou pré-clampsia, que impactam diretamente no pós-parto imediato. E a amamentação ainda é atribuída muito na pessoa que amamenta, quando, na verdade, para se conseguir uma amamentação plena é preciso da sociedade toda envolvida."
Embora seja uma prática natural e assegurada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), amamentar em público ainda é uma questão: 43% das mulheres apontaram que se sentem constrangidas em amamentar em público ou já foram até repreendidas por isso.
A falta de preparo de profissionais da saúde também pode pesar. "Eu recebo muitas pacientes que relatam a falta do leite, mas o que percebo é que muitas, na verdade, não têm falta de leite, só sofreram com a falta de orientação qualificada", conta Ana Luiza.
Um profissional que não tenha conhecimento especializado na temática, dependendo do que a família relata, já introduz fórmula infantil e, a partir daí, surgem mais intervenções. Não que nunca seja necessário complementar, mas a complementação pode ser o próprio leite ordenhado. E, mesmo sendo fórmula, há técnicas para evitar o desmame precoce, e para aumentar a produção de leite.
Quando tive meu primeiro filho, as enfermeiras disseram que eu não tinha leite. Na primeira consulta pediátrica fui encaminhada ao banco de leite da mesma maternidade e lá me ensinaram massagem, ordenha, pega correta... Eu tinha muito leite, estava empedrando. Chorei de alívio, raiva, emoção. Com meu segundo bebê, pensei que não teria desafios, mas meu bico rachou e doeu demais. Mas depois de chamar uma consultora deu tudo certo, a amamentação foi até os dois anos. A.M., entrevistada na pesquisa que teve o primeiro bebê aos 26 e o segundo aos 32
Não é porque houve dificuldades que necessariamente o desmame está decretado, daí a importância de receber o atendimento individualizado identificar o porquê do diagnóstico de pouco leite e estabelecer estratégias para reverter o quadro a solução. Há apenas algumas situações em que dificilmente se conseguirá o aleitamento humano exclusivo.
Sem falar que é preciso entender o que está causando o sofrimento ao amamentar. Se realmente algo não está certo, se é privação de sono ou outro fator. É comum ter dificuldades no início da amamentação, mesmo para aquelas que já amamentaram, afinal, é um novo bebê que precisa aprender a mamar, mas, com ajuda, é super possível.
A consultoria de amamentação pode ser uma solução, bem como o atendimento em bancos de leite. Além disso, esse é o momento perfeito para já adquirir Informações de como que é a pega, quais utensílios são interessantes (como a bomba extratora), como armazenar o leite e ofertar, entre outras.
Cada caso é único, mas há conhecimentos que são possíveis passar para todas as mulheres que estão prestes a amamentar ou já amamentando - e que funcionam para a maioria. Confira:
O bebê deve estar alinhado e bem próximo ao corpo da mãe na hora da amamentação;
Dependendo do tamanho do seio, há posições mais favoráveis, como: a tradicional de frente ou a invertida, com o corpo do bebê ao lado da mãe.;
Uma pega boa na maioria das vezes é uma pega profunda, onde o bebê abocanha parte da aréola e não só o bico, com o queixinho do bebê bem ancorado no seio;
Uma boa forma de ver se a pega está correta também é perceber se o nariz do bebê está fica livre, mais afastado do seio ou levemente encostado na mama, com as bochechinhas arredondadas;
Uma boa almofada de amamentação irá ajudar a sustentar o peso do bebê para que, durante a amamentação, as mãos da mãe estejam livres para ajustar seio e cabeça do filhote;
Bebês fazem sucção nutritiva e não nutritiva: é importante eles "chupetarem" o seio, isso ajuda a estimular e regular a produção de leite. Mamar não é só nutrir, é conforto, relaxamento, segurança, desenvolvimento;
Cada bebê é único e tem padrões de alimentação diversos; a comparação com outros bebês não ajuda;
Uma das principais estratégias para facilitar a pega do bebê é fazer uma ordenha de alívio, para possibilitar que o bebê abocanhe maior parte da aréola;
É importante saber que 80% do leite que o bebê mama é o leite produzido durante aquela mamada, então o seio não é um estoque, e sim um processo de feedback hormonal: o bebê começa a mamar, essa mensagem é enviada ao cérebro, e mais leite é produzido;
Lembre-se: esse início pode parecer meio chato, mas é transitório;
E não esqueça que cada filho é de um jeito. É como se fosse o mesmo "técnico" em campo (a mãe), mas outro time em campo (o bebê);
Há situações onde, mesmo se preparando ou tendo outro filho antes, a amamentação pode ser mais desafiadora, como a idade gestacional em que o bebê nasce. Não desanime e, se preciso for, procure ajuda.
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