'Passam em silêncio': menopausa afeta até trabalho, mas pouco se fala disso

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As brasileiras estão entre as que mais sofrem os impactos negativos da menopausa. É o que mostra um novo estudo sobre este período que marca o fim dos ciclos menstruais e da fertilidade.
A pesquisa foi realizada pela farmacêutica Astellas, em seis países e com a participação de 13.800 entrevistados, sendo 2.300 brasileiros. Os dados foram coletados por meio de formulários digitais entre 6 de dezembro de 2024 e 6 de janeiro de 2025.
Depressão e vergonha
79% das brasileiras ouvidas relataram sentimentos negativos na menopausa. A lista inclui: ansiedade (58%), depressão (26%), constrangimento (20%) e vergonha (16%).
Globalmente, o número é diferente. 66% das respondentes internacionais relataram sentimentos psicológicos negativos: 41% com ansiedade, 33% com depressão, 25% com constrangimento e 11% com vergonha.
Impactos no trabalho
47% das brasileiras sentiram algum impacto negativo no trabalho. O grupo relatou redução da produtividade (26%), medo de contar aos colegas (17%) e até mesmo discriminação explícita (9%). Apenas 29% das trabalhadoras se sentem à vontade para conversar com seu líder direto sobre o assunto.

Globalmente, 36% tiveram impactos negativos no trabalho. 17% sinalizaram a redução da produtividade, 14% tiveram medo de contar aos colegas e 7% sofreram discriminação explícita.
Falta de apoio para as mulheres. 80% dos entrevistados acreditam que as brasileiras na menopausa não são apoiadas no ambiente de trabalho e 49% concordam que as brasileiras enfrentam barreiras à progressão na carreira e reconhecimento profissional quando estão na menopausa.
Com quase metade das mulheres enfrentando impactos negativos no trabalho, fica claro que muitas funcionárias estão passando por essa fase da vida em silêncio. Os empregadores devem agir para aumentar a conscientização, fornecer recursos e promover um ambiente de compreensão e inclusão, ajudando essas mulheres a prosperarem durante essa fase tão importante da vida.
Maria Celeste Osório Wender, ginecologista e presidente da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia)
Barreiras impedem suporte adequado
O estudo também descobriu que muitas questões dificultam a procura por ajuda. Muitas mulheres que vivenciam a menopausa podem sentir constrangimento em relação aos seus sintomas devido à baixa conscientização e às atitudes negativas da sociedade, o que pode alimentar o estigma —impedindo, assim, que procurem o cuidado e tratamento adequados.

A maioria dos entrevistados brasileiros (65%) acha que a menopausa é um tema tabu e que as pessoas se sentem desconfortáveis ao discuti-lo. Pouco mais de um quarto (28%) acha que a menopausa é retratada de forma positiva na sociedade. Este número, no entanto, diminui para 24% dentre aquelas que estão passando ou já passaram pela menopausa —globalmente, cai para 19% dentre as respondentes que têm experiência pessoal com a menopausa.
66% acreditam que a menopausa e seus sintomas não são levados a sério. Este número sobe para 72% (e 75% globalmente) entre as mulheres que têm experiência pessoal com a menopausa.
Há um baixo nível de conhecimento geral. 30% das pessoas acreditam ter um alto conhecimento sobre os sintomas, enquanto 17% têm pouco ou nenhum conhecimento. O conhecimento é maior —mas ainda relativamente baixo— entre aquelas com experiência com a menopausa: apenas 42% conhecem muito bem os sintomas. Esse dado cai ainda mais globalmente: só 26% das mulheres com menopausa têm muito conhecimento sobre os sintomas.
Como foi feita a pesquisa? O estudo entrevistou pessoas em geral (para as perguntas sobre a percepção da sociedade em relação ao assunto) e mulheres na peri e pós-menopausa dos seguintes países: Alemanha, Austrália, Brasil, Canadá, EUA e México. No Brasil, foram ouvidas 2300 pessoas (2000 são homens ou mulheres de todas as idades e 300 são mulheres de 40 a 55 anos).
Entenda a menopausa
A menopausa marca o fim dos ciclos menstruais e da fertilidade. Ela resulta da queda gradual dos hormônios reprodutivos, principalmente o estrogênio e a progesterona, produzidos pelos ovários.
Entre as brasileiras, a média de idade para seu início é aos 48 anos. Ela acontece em duas fases: a perimenopausa, quando os sintomas começam a aparecer, e a pós-menopausa, o período que acontece após o evento. A fase dura, em média, sete anos, geralmente entre o fim dos 40 e o início dos 50 anos.
Mudança hormonal desencadeia uma ampla gama de sintomas. Lista inclui ondas de calor (fogachos), suores noturnos e alterações de humor. Cerca de 38% descrevem esses sintomas entre moderados e fortes.
Terapia hormonal é reconhecida como a abordagem mais eficiente. Tratamento ainda ajuda nos sintomas da síndrome do climatério e previne os efeitos da falta do estrógeno —especialmente para a redução das ondas de calor e suores, além de fraturas, câncer colorretal, doença cardíaca coronariana, diabetes, bem como manter equilibrados os níveis de colesterol.
No entanto, o médico deve fazer uma análise detalhada das suas condições gerais de saúde. Isso porque há contraindicações da terapia para grupos específicos, como mulheres que já tiveram câncer de mama ou de endométrio.
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