Mãe conta como foi ter 4 filhos após perder trigêmeos: 'Fui com medo mesmo'
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Giselle Rhaylla tem uma história emocionante de como foi a construção de sua família. Tudo começou após uma cirurgia bariátrica, seguida da liberação para engravidar em 2017, e a concepção logo no primeiro mês de tentativas de uma gestação natural tripla.
O médico perguntou: 'vocês estavam fazendo tratamento para engravidar?'. A gente respondeu que não. Aí ele contou que tinham três sacos gestacionais na minha barriga. Meu marido ficou branco, e fomos escutando o coração de um em um, sem acreditar, em êxtase.Giselle Rhaila, mãe de quatro filhos
Ambos sempre desejaram uma família numerosa, mas não imaginavam que fosse ser de cara, em uma gestação naturalmente tripla. Muito menos que esse seria só o começo de uma jornada de parentalidade para lá de desafiadora e inspiradora.

Desafios na gravidez dos trigêmeos
A primeira jornada gestacional contava com dois grandes obstáculos: a gestação de alto risco, por ser tripla, e a descoberta da insuficiência istmocervical (IIC), que - em resumo - é a condição em que o colo do útero não consegue manter-se fechado, levando a abortos tardios ou partos prematuros.
Tudo correu conforme o planejado até a chegada da 19ª semana, quando, durante a tentativa de colocação de um pessário (dispositivo removível que é colocado para dar suporte aos órgãos pélvicos, como o útero), descobriram que seu colo estava dilatado e uma das bolsas gestacionais estava protusa, ou seja, estava já saindo pelo colo do útero.
"A gente já sabia que eram três meninos, eu tinha feito um chá revelação e escolhido nomes, José Heitor, José Emanuel e José Bernardo. Cheguei na maternidade, sem sentir absolutamente nada, fui sedada e quando acordei da anestesia, sentia bastante dor e o meu obstetra me falou que a gente tinha tido uma intercorrência", lembra Giselle.
Para chegar até o máximo número de semanas possível dos trigêmeos, ela teria que passar por uma cerclagem (sutura que mantém o colo uterino fechado até o final) de emergência, mas a condição da bolsa impedia o procedimento. A gestante permaneceu internada em posição de Trendelenburg (ficar inclinada, com os pés mais elevados que a cabeça), na tentativa de prolongar a gestação.
Com quase 24 semanas, outro susto. Durante um exame morfológico, constatou-se que o colo do útero estava dilatado 9 centímetros, com a cabeça de um dos bebês já na posição de nascimento. Equipes médicas se mobilizaram para o parto de urgência dos trigêmeos.
"Quando a gente desceu para o centro cirúrgico, eu ainda estava sem pensar muito nos riscos que estava correndo. Não passava pela minha cabeça a possibilidade dos meus bebês não sobreviverem. Tive um parto foi um parto normal trimelar e os meninos eram muito pequenininhos. Nasceram com cerca de 500 gramas e mais ou menos 30 cm cada um", conta.
Os três foram encaminhados para a UTI, com o pai acompanhando tudo, enquanto a mãe teve que ficar de repouso.
Giselle estava bem, mas - como tinha ficado 30 dias deitada, sofria com queda de pressão e desmaio só de sentar. E isso a impossibilitava de ir ver seus meninos. "Só conseguia pensar em conseguir ficar sentada, algo me dizia que tinha que ir lá, mas meu corpo não respondia".
Até que, infelizmente, chegou a notícia. José Emanuel e José Bernardo não sobreviveram, e foi quando Giselle, ainda que em choque e sem chorar, pôde ver seus filhos.
"Trouxeram eles enroladinhos e consegui ver pela primeira vez os traços parecidos comigo e com meu marido", lembra. Enquanto estava se despedindo dos dois, a enfermeira perguntou se Giselle gostaria de segurar o terceiro filho.
Por um momento, pensei que ele tinha morrido também, e sou muito grata porque aquela enfermeira sabia que ele também poderia não sobreviver e eu pude pegar dois dos meus três filhos sem vida e um filho vivo. Foi um dos momentos mais felizes da minha vida.Giselle Rhaila, mãe de quatro filhos
O terceiro bebê, José Heitor, sobreviveu por 10 dias na UTI. Mas também faleceu. "Fiquei sem chão. Eu não tinha mais os meus filhos no meu ventre, nem no meu colo. Cheguei numa casa totalmente vazia", diz Giselle.
Após o luto, renovação com o nascimento de quatro filhos

Determinada a realizar o sonho da maternidade por completo, Giselle engravidou novamente, cinco meses após a perda dos trigêmeos. Dessa vez, era apenas um bebê.
"Foi uma gravidez relativamente tranquila, mas o medo fez com que eu estivesse no hospital o tempo inteiro por qualquer incômodo", diz. A gravidez de Isaac Noah foi acompanhada de perto, com cerclagem realizada às 12 semanas e repouso. Isaac nasceu de parto normal, 35 semanas, saudável e sem precisar de UTI.
Com o otimismo da chegada de Isaac, Giselle engravidou novamente.
Na terceira gestação, ela enfrentou uma condição chamada vasa prévia, quando os vasos sanguíneos da placenta obstruem o colo do útero, aumentando o risco de hemorragia fetal. O bebê nasceu de cesariana de emergência, com 32 semanas, permanecendo 10 dias na UTI antes de ir para casa. Lucas foi conhecer o irmão Isaac saudável, completando a família.

Seis meses após o nascimento de Lucas, uma nova gravidez trouxe Maria Cecília. "Foi um susto! Depois de cinco meninos, vinha uma menina." Apesar de outra vasa prévia, a bebê nasceu saudável, com 34 semanas, sem necessidade de UTI.
Agora o histórico de Giselle era a perda de seus trigêmeos, mas a conquista de três filhos que nasceram em gestações destintas.
E você pensa que ela parou por aí? Gisele ainda teve Ester Maria. Apesar de ameaças de parto prematuro, Ester nasceu de cesárea com 35 semanas, saudável e sem complicações.
A grande família
Ao longo de seis anos, Giselle não só passou por todas essas gestações delicadas, como também compartilhou sua história nas redes sociais, oferecendo apoio a outras mães que enfrentam gestações delicadas e perdas gestacionais. Por mais contraditório que possa parecer, ela também foi recebendo apoio, desde a gestação trimelar, a internação e o falecimento dos bebês. Afinal, nem só de haters se faz uma rede social.
Eu queria, mas tinha muito medo de engravidar de novo. Foi uma felicidade sem fim ter nosso primeiro bebê arco-íris, e depois os outros. Fui com medo mesmo e recebi acolhimento de muitas pessoas através do Instagram, do luto à chegada dos outros filhos.Giselle Rhaila, mãe de quatro filhos

Hoje, com três filhos anjos (termo usado para os que não sobreviveram) e quatro ao seu lado, a mãezona vive a plenitude da maternidade, inspirando outras mulheres a perseverar e acreditar que, após a tempestade, o arco-íris sempre surge.
Para Giselle, o segredo para lidar com todos os percalços é um conjunto de fatores: considerar os riscos e especialmente receber orientações e cuidados médicos adequados, mas também não dar ouvidos a opiniões leigas, além de acreditar em forças que não vemos e nem temos controle.
"A gente ouve muita coisa, porque são gestações complicadas, mas vejo que são mais complicadas para as pessoas do que para mim, que passo por isso. Quando engravido, aprendi literalmente a entregar e confiar que Deus fará o que for melhor para mim e para minha família."
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