O dia em que fui no sarau erótico, comi cuscuz, mas não transei com ninguém

Conheci Gustavo em um aplicativo de namoro há alguns meses. Conversamos e achei ele bem interessante: estudante de artes, morando há anos em São Paulo, agradável e bom de papo. Marcamos um encontro em um parque, em um dia de semana, depois do trabalho. Cheguei uma hora atrasada, graças ao trânsito da cidade. Enquanto eu estava no caminho, recebi algumas mensagens perguntando se eu ia mesmo, se estava chegando. Respondi que estava.
Quando eu cheguei, encontrei Gustavo tranquilo, mas dizendo que já havia dado várias voltas no parque, enquanto me esperava. Me desculpei, expliquei o atraso por causa do trânsito e pedi, brincando, que ele reclamasse com a Prefeitura. E lá fomos nós caminhar falando sobre a vista, sobre como é viver em São Paulo, estudos e outras coisas das quais gostamos.
Durante a caminhada, os assuntos continuaram os mesmos e até que surgiu o papo de sexo e comentei ter ouvido, certa vez de uma Gen Z, que ela achava o sexo supervalorizado. Contei ter ficado chocada com a afirmação e ter apenas pensado em comentar: 'então você está fazendo isso errado'.
Sei que vocês querem saber logo quando a suruba vai aparecer, mas aqui cabe um parênteses: cresci em uma família desestruturada, crente e super, super conservadora, marcada por mulheres que engravidaram antes do casamento. Nada fora do comum, mas em uma família com essa configuração e uma visão de mundo na qual mulher que transa quando quer é piranha e merece se ferrar sim. Portanto, cresci reprimindo o desejo de transar. Consegui - não sem sequelas - até os 20 anos, quando arrumei meu primeiro namorado, com o qual transei pela primeira vez, sofrendo e gozando. Não era raro eu chorar e/ou correr para o banho após o sexo. O namoro terminou e eu continuei travada por anos. Transava casual e esporadicamente e sempre me sentia culpada depois. E, mesmo tomando anticoncepcional e transando com camisinha, sempre encanava que estava grávida. Por isso, minhas amigas passaram a me chamar de 'grávida de Taubaté'.
Lá pelos 35 anos, não sei muito bem que chave virou na minha cabeça, comecei a transar com mais tranquilidade e mais solta, focando no meu prazer e no do meu parceiro. Hoje tenho 41 anos e já transei com mais de 20 homens. Algumas transas muito legais, outras nem tanto, mas fazendo um balanço, tive mais experiências boas que ruins. Graças a Deus.
Fechado este parênteses, voltemos ao Gustavo: depois de mais uma hora de voltas, seguimos conversando. O curioso é que eu falava mais sobre transas do que ele. Enfim, em certo momento, ele me convidou para irmos até a casa dele. Aceitei porque o papo estava bom. Confesso que, apesar de achá-lo interessante, não me senti atraída por ele.
De toda forma, não sei se porque já estava lá ou para ver se seria bom, mesmo sem atração nos beijamos, nos esfregamos e nos pegamos muito por cima da roupa. O tesão cresceu, mas não transamos. Fiquei meio frustrada, mas voltando para casa pensei e concluí que não transamos para nos vermos de novo.
Da primeira vez ao sarau erótico
Depois desse primeiro encontro, falamos diversas vezes, sempre com aquele tesão. Mas como não transamos no primeiro encontro, resolvi me fazer de difícil, e ficamos só nas mensagens por umas duas semanas até, enfim, nos encontrarmos. Fui até a casa dele e tivemos um sexo ótimo! Transamos várias vezes e começamos a estabelecer uma relação de submissão no sexo, onde eu era a submissa. Adorei.
Passamos a nos ver com certa frequência, sempre para transar. Entre os encontros nos conhecemos. Contei sobre mim e ele contou que adorava transar, que não conseguiria estar em um relacionamento fechado e que adorava ter relações sexuais com casais. Falou que tinha decidido deixar isso muito claro para as pessoas com as quais ele se relaciona. Entendi o recado e continuamos nos vendo. Gustavo manda muito bem na cama e eu adoro transar com ele e brincar de puta submissa, a minha brincadeira predileta.
Num certo sábado à noite, Gustavo me mandou um flyer a respeito de um Sarau Erótico perguntando se eu gostaria de ir. Explicou que ia com uma outra amiga, mas que ela não poderia ir e ele pensou em me convidar. Senti um misto de medo, curiosidade e pensei: 'quando vou ter um outro convite como esse?'. Aceitei e recebi a ordem (eu sou a submissa): esteja na minha casa em meia hora para irmos juntos.
Corri para o banho, pensando em qual roupa vestir. Meu guarda-roupa não é exatamente crente, mas faltam decotes, roupas curtas e justas. Comecei a pensar, então, em uma roupa que sugerisse uma disponibilidade para o sexo, mas não muita. Optei por um macacão soltinho de malha, fácil de tirar, se fosse preciso.
Enquanto me arrumava, fui colocada no grupo privado do Sarau, onde constava uma breve descrição sobre o que se tratava o evento: uma noite de fantasias e sadomasoquismo, já que muitos dos convidados são adeptos. E as regras: tudo o que acontece, é acordado entre quem participa, se você estiver em um ambiente onde estiver acontecendo algo que te deixa desconfortável, mude de ambiente, não é porque você está vendo algo acontecer que você pode fazer parte, pergunte antes e a famosa 'não é não'.
O bolo gozou, mas eu não
Cheguei atrasada na casa do Gustavo que já ameaçava não ir, mas fomos. Ao chegar no local, encontramos um ambiente que conjugava sala e quarto, um corredor, uma cozinha e um quintal. Passamos em direção ao quintal e, no percurso, já presenciamos uma mulher em uma sessão de sadomasoquismo: uma pessoa a masturbava, enquanto outra batia na bunda dela com pequenos soquinhos. Paramos no quintal, nos apresentamos para as pessoas ali, bebemos um pouco, e ficamos por ali, tentando nos enturmar e verificando as possibilidades de transar.
A certa altura, todos se reuniram na sala para a leitura de poemas e contos, que relatavam experiências sexuais, algumas casuais e outras, cheias de afeto. Percebi que a maioria das pessoas ali já se conhecia, o convite para a festa só era feito para quem de fato já conheciam alguém do grupo. A certeza disso veio quando todos fomos convidados a cantar parabéns a um dos participantes que estava de aniversário, em torno de um bolo de chocolate. Após o parabéns, todos se serviram, a festa seguiu e o bolo escorregou sozinho. Nesse momento, alguém falou: 'o bolo gozou'. Risos gerais.
Limpeza do chão feita e alguns submissos, respondendo ordens, comeram pedaços do bolo caído e logo foram recompensados por seus dominadores com masturbação, chupões, sexo oral, penetração e também pequenos castigos. Em algum momento, uma mulher se aproximou do Gustavo, eles trocaram poucas palavras e começaram a se pegar. Eu estava do lado deles e fui convidada por ela a entrar na transa. Ensaiei, beijei e toquei a menina, beijei o Gustavo, mas resolvi que não queria participar e os dois transaram sozinhos. Inclusive, entreguei uma camisinha ao casal. Gustavo respeitou minha decisão, mas disse que gostaria que eu tivesse participado.
Após a transa dos dois, eu e Gustavo conversamos e eu expliquei que estava à vontade, mas tímida. Precisava conhecer um pouco mais as pessoas para me soltar. Ele perguntou se tinha gostava de alguém na casa, eu disse que sim e apontei um cara branco, de barba rala, corpo de homem que me atraiu porque achei bonito e charmoso. Logo Gustavo falou: 'vou fazer esse meio de campo'.
Ele foi, mas voltou pouco tempo depois fazendo propaganda de outros dois caras: um negro, de dreads, corpo atlético e definido, e outro branco, alto, olhos claros e engraçado. Os dois, muito gente boa. O primeiro a se aproximar foi o branco. Ele perguntou há quanto tempo eu e Gustavo nos conhecíamos, se eu era solteira, falei que estava tímida, que era minha primeira vez ali. Ele contou de uma conversa com um conhecido na qual falou que ir numa suruba ou sarau erótico não significa que você tem que transar a noite toda e ter altas performances. Falamos sobre os apetrechos disponíveis ali para as brincadeiras: diferentes chicotes, vibradores e consolos, entre outros. E ele falou: 'tenho um vibrador que vibra de acordo com a música'. E eu apenas consegui dizer: 'que legal'.
Nisso, Gustavo se aproxima e começa a fazer propaganda dos meus dotes na cama, falou sobre como eu transava bem e que meu sexo oral estava no top três dele. Fiquei ainda mais constrangida e desconversei. O moço se afastou e Gustavo perguntou se eu não tinha gostado do moço, falou que ele estava a fim de mim, assim como o negro sarado, que eram duas pessoas que iam me satisfazer, que eu deveria dar uma chance? E eu continuei tímida e reservada.
Aí, uma mulher que estava fazendo sexo oral do outro lado da sala se aproximou e ela e Gustavo começaram a se pegar e transaram. Eu continuei por ali, observando, tentando achar alguém para conversar e já pensando em ir embora. Voltei para o quintal e encontrei meu outro candidato a transa. Conversamos sobre faculdade, atividade física e música. Até que surgiu o assunto do sexo.
Ele contou algumas aventuras e arrematou: 'nunca gozei com sexo oral'. Me dei conta de que Gustavo tinha passado por ali e falado das minhas competências. Fiquei sem graça. Pensei em achar Gustavo, que continuava transando com a moça. Ele logo apareceu e eu disse que iria embora. Ele pediu para eu esperar mais um pouco para irmos juntos, afinal, chegamos juntos e ele iria embora comigo.
Continuei circulando e procurando gente para conversar, Gustavo seguiu transando. Quando ele aparecia, me perguntava se eu não havia gostado de nenhum daqueles caras, que ele apostava que eles transavam bem, que o moço do qual eu havia gostado, estava entretido com uma das dominadoras da festa... Eu respondi que não estava me sentindo confortável para transar com nenhum dos dois, não dei muita bola para a segunda informação. Gustavo me propôs darmos uma volta pelo segundo andar da casa para ver se estava rolando alguma brincadeira da qual gostaríamos de fazer parte. Não estava.
Descemos, resolvi ir embora, que ele poderia ficar, mas ele disse que ia comigo. Nisso, fomos interrompidos pelos outros, que nos avisaram que não nos deixariam sair antes de tomarmos um café da manhã, prestes a ser servido. Fomos para a cozinha, onde a refeição estava sendo preparada por pessoas vestidas a caráter: aventais de couro com aberturas estratégicas na frente e nas costas, sutiãs vazados, cuecas e lingeries. O buffet tinha cuscuz, pães, manteiga, café e frutas. Tomamos o café, nos despedimos e fomos embora.
Gustavo, incrédulo com o meu comportamento, me olhava com espanto enquanto voltávamos já com o sol raiando. Neste mesmo dia, à tarde, ele me convidou para uma transa a três com uma amiga dele. Mas essa é outra história.
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