Amamentar não é intuitivo: 13 dicas para facilitar a prática

Durante a gestação o corpo já se prepara para amamentar, as mamas crescem, os mamilos ficam mais sensíveis e as aréolas mais escuras, mas engana-se quem pensa que é só colocar o bebê no peito que ele vai mamar.

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Amamentar não é intuitivo, precisa ser aprendido tanto pela mãe quanto pelo bebê. Só colocar o bebê no peito para mamar pode acontecer sem intercorrências, mas a experiência precisa ser vivida e aprendida. Nina de Almeida, médica pediatra da Casa Curumim, doutora em desenvolvimento infantil e especialista em amamentação pelo IBLCE (International Board of Lactation Consultant Examiners)

No início as famílias podem ficar com dúvidas e um pouco perdidas, o que é normal. Embora muitas mulheres se sintam responsáveis pelo "sucesso ou não" da amamentação é preciso entender que existem dois protagonistas nesse processo: mãe e bebê. "Não existe "supermulher" que tem que dar conta de tudo. Para a amamentação funcionar bem a balança tem que ser boa para os dois lados", diz Tiemi Yoshida, médica pediatra e neonatologista da Casa Curumim, também especialista em amamentação pelo IBLCE.

Bebê não é robô ou relógio, ele não mama a cada 3 horas

Geralmente as principais dificuldades estão relacionadas ao manejo da amamentação, ou seja, como posicionar o bebê no colo para mamar e como realizar a pega adequada, ou o que fazer quando aparece uma rachadura no peito, por exemplo. As más práticas estão associadas a tudo o que atrapalha a amamentação sob livre demanda, como fazer mamadas controlas por horário e a introdução de chupeta.

"Existe uma fantasia de que o bebê mama a cada 3 horas e dorme o restante do tempo, o que não é verdade. O bebê não é um robô ou um relógio, ele não mama a cada 3 horas. Ele mama no peito durante o dia e à noite em média dez vezes em 24 horas, podendo ser mais do que isso", afirma Tiemi.

Outros fatores, como cirurgias nas mamas realizadas pelas mães, prematuridade, disfunção oral, freio curto dos bebês, também podem prejudicar a amamentação.

Amamentar é um aprendizado: 13 dicas para aumentar as chances de sucesso

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Imagem: Amanda Caroline da Silva/Getty Images
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Segundo a pediatra Nina, seria maravilhoso se tivéssemos um caminho que desse certeza as mães que vai dar tudo certo, mas como amamentar é um aprendizado, o início pode ser difícil. Com o passar do tempo, as coisas tendem a se ajustar. A seguir, veja algumas dicas:

  1. Colocar o bebê em contato pele a pele com a mãe imediatamente após o nascimento e iniciar a amamentação o mais rápido possível aumentam as chances de sucesso no processo;
  2. Alimente o bebê em livre demanda, mas não espere ele chorar para dar de mamar. O choro é um sinal tardio de fome, ou seja, ele já está desesperado. Observe os sinais de fome: o bebê coloca a linguinha para fora, as mãos na boca para sugar (reflexo de busca), estala os lábios, roda a cabeça de um lado para outro e chora;
  3. Sempre que possível, ofereça as duas mamas na mesma mamada. Isso ajuda a manter a produção de leite;
  4. Atenção à pega adequada: o bebê abocanha a aréola e não apenas o mamilo;
  5. Não ofereça outros bicos ou chupetas que podem confundir o bebê levando à uma pega inadequada e mamada não efetiva. Ele mama menos, ganha menos peso, fica irritado e chora mais. Ter uma criança chorando pode ser angustiante;
  6. Entenda os sinais de saciedade. O bebê solta o peito espontaneamente e fica completamente largado;
  7. Procure ajuda se perceber que algo não está bem, uma pequena rachadura no bico do peito pode significar que a pega não está adequada e isso pode se tornar um grande problema se não for resolvido;
  8. Estudos mostram que exercícios no bico do peito, passar cremes ou bucha nos mamilos não ajudam e podem até atrapalhar o aleitamento materno;
  9. Tenha ajuda em casa nas primeiras semanas e respeite o seu descanso. Amamentar exige tempo e presença. Você deve estar bem cuidada para cuidar do seu filho. Nesse sentido é importante ter alguém que alguém faça as tarefas domésticas, cozinhe, lave a roupa para que você possa descansar;
  10. Não ofereça outros líquidos ou alimentos ao bebê até os seis meses de vida. O leite materno possui todos os nutrientes que ele precisa;
  11. A mama é uma glândula secretora, o que a mãe ingere vai em maior ou menor parte passar para o leite. Álcool, cannabis, tabaco e outras drogas não devem ser utilizadas durante a amamentação pois podem impactar no desenvolvimento da criança. Medicamentos devem ser ingeridos somente quando forem prescritos pelo médico;
  12. A dieta da mãe deve ser balanceada e priorizar alimentos naturais e saudáveis, não se deve fazer restrição alimentar;
  13. Se informe sobre amamentação, participe de grupos e troque ideias com outras mães.

Amamentar consome mais de 500 calorias por dia; conheça benefícios:

A amamentação é um processo fisiológico que traz muitos benefícios. Para a mãe, libera ocitocina, o que diminui o risco de sangramento pós-parto; facilita o retorno ao peso ideal após a gravidez (amamentar consome mais de 500 calorias por dia); fortalece o vínculo mãe-bebê; diminui o risco de câncer de mama e de ovário; reduz a chance de desenvolver diabetes tipo 2, colesterol alto e hipertensão, e aumenta o intervalo entre as gravidezes. Durante a amamentação são liberadas endorfinas que trazem a sensação de prazer e felicidade para a mulher.

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Para o bebê, ajuda a proteger contra diarreias; infecções respiratórias (pneumonia); otites; alergias; síndrome da morte súbita; melhora o desenvolvimento da região orofacial e dentição. Diminui o risco de desenvolver hipertensão, colesterol alto, diabetes tipo 2, obesidade. O aleitamento materno contribui ainda para o desenvolvimento cognitivo, melhor desempenho escolar e QI.

A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de vida do bebê. Após a introdução alimentar, a recomendação é que a amamentação seja mantida até os dois anos ou mais.

E será que o meu leite é suficiente?

Segundo as especialistas ouvidas pela reportagem, as mulheres podem se deparar com algumas angústias, uma delas é se o leite é suficiente para nutrir o bebê e para auxiliá-lo no desenvolvimento e ganho de peso.

"O sentimento de responsabilidade pelo bem-estar do filho causa muita angústia na mãe. O fato de não ver com os olhos o quanto ele está mamando, o comportamento natural da criança solicitando contato e colo, e o fato das pessoas ao redor sempre questionarem as mulheres se o leite está sendo suficiente fragiliza a mãe em relação à sua capacidade de amamentar", pondera Tiemi, que junto com Nina, é uma das fundadoras do Instituto Ery, que ministra cursos de amamentação para profissionais da saúde.

Na avaliação da médica, está tudo bem passar por dificuldades ou até mesmo sentir que não quer amamentar.

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Não se sinta culpada. Conseguir ou não amamentar não a torna pior ou melhor mãe e não mede o amor pelo seu filho.Tiemi Yoshida, médica pediatra e neonatologista da Casa Curumim, também especialista em amamentação pelo IBLCE

De acordo com a pediatra Nina, quando a criança nasce muitas vezes é necessário adaptar as expectativas que se tinha na gestação. "Nunca é o que se esperava. O bebê que a mãe idealizou durante a gravidez precisa dar lugar ao bebê real", diz.

Amamentar em público não é [mas deveria] ser natural

Para Tiemi, a amamentação em público ainda é um assunto que gera polêmica.

"É frequente as mães serem constrangidas a se cobrirem para amamentar seus filhos e elas mesmas sentem os olhares de reprovação. A sexualização do corpo feminino e o ato de amamentar não ser natural são fatores que contribuem para esse tipo de preconceito. Pessoas enxergam no ato de amamentar em público algo pecaminoso, o que não é".

Na mesma linha, Nina diz que em algumas culturas, incluindo a nossa, os seios são considerados objetos sexuais. "Ver um bebê sugando o seio causa muito desconforto em pessoas (em homens, mas também em mulheres) que têm essa imagem impregnada na mente", afirma.

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Na opinião das médicas, as mães devem receber o apoio necessário e se sentirem seguras para alimentar seus filhos sempre que for necessário independentemente de onde estiverem. Elas defendem que a naturalização da amamentação precisa ser estabelecida na sociedade.

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