Fernanda Nobre: 'Não ser mãe hoje é mais opressivo que a não-monogamia'

Convidada do "Desculpa Alguma Coisa", videocast de Universa com Tati Bernardi, Fernanda Nobre fala a respeito da não-maternidade.

A atriz comenta sobre como se sente julgada em relação ao tema. "Não consigo dizer que não quero ser mãe. Sei que hoje não quero ser, mas morro de medo de fazer essa escolha. Acho muito difícil. Eles reduzem nossa existência à maternidade. Sinto isso na pele quando me perguntam."

"Outra coisa que é horrível são as mães que falam: 'Você não sabe o que é amor'. Não é verdade, se não, não teriam crianças abandonadas. É muito opressivo. Acho o não ser mãe hoje até mais opressivo que a não-monogamia", ela diz.

Fernanda Nobre conta que teve infância difícil: 'Quase morri, não podia rir porque tinha asma'

A atriz fala sobre ter sido criada de forma restrita devido a problemas de saúde. "Eu fui uma criança muito doente, quase morri duas vezes. Eu tinha uma asma muito séria, até os 10 anos eu tive 12 pneumonias e três internações. Então eu fui criada de forma muito restrita, não podia andar descalço, não podia rir. Foi uma infância bem restrita e fui pra TV com oito anos, eu cresci na televisão."

Fernanda Nobre conta como foi decisão de abrir relação e por que não conta regras

A atriz fala de seu relacionamento não-monogâmico com o marido, o diretor José Roberto Jardim. "Eu estava estudando muito feminismo e o Zé estudando muito também, a gente começou junto essa troca. E aí eu li sobre isso [...] E aí fui perceber que tem outra forma e outra maneira. Mas não é assim, do nada, demora. A gente faz parte de uma geração que não existia essa pergunta, esse questionamento. E a gente sempre soube que os homens heterossexuais tinham a permissividade da sociedade e a gente sofrendo, sempre duvidando. Não quero mais isso. Mas isso só é possível porque é com o Zé. Não sei se, caso eu me separe dele amanhã, se vai ser desse jeito. Tenho que me sentir muito segura. [...] Ser não-monogâmico é muito mais difícil porque ser monogâmico já tem uma cartilha. A gente não tem nenhum modelo."

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Fernanda Nobre conta como se tornou feminista: 'Via relatos de assédio e só chorava'

Fernanda conta como seu primeiro casamento, aos 21 anos, a levou de encontro ao feminismo. "Eu fui criada doente. Era uma criança frágil, não podia pisar no chão, rir, cair na piscina, viajar sozinha. Comecei a ser atriz numa época em que não tinha crianças fazendo TV. Enfim, era o pacote perfeito pra eu ser abraçada pela sociedade. Casei muito cedo e era um casamento pra casar e ter filhos, e por acaso algo me dizia que não era isso que eu queria, eu ficava enrolando. Era novíssima, um medo de errar, que é a estrutura feminina, nós somos criadas pra isso. Fui criada nesse escopo e eu comecei a questionar, não sabia que existia feminismo, o que significava. Quando começou a hashtag 'meu primeiro assédio', eu só chorava lendo aquilo, não conseguia colocar em palavras. Ali eu comecei a estudar e eu gosto de estudar, me encontro nesse lugar. Tenho ambição pelo saber."

Fernanda Nobre conta de amigo manipulador: 'Tenho talento pra atrair gente tóxica'

A atriz também fala dos relacionamentos tóxicos que teve durante a vida e conta de rompimento difícil. "Eu tenho um talento pra atrair gente tóxica, uma permissividade enlouquecedora, principalmente pra amigo. Começa a me manipular, me suga, fala coisas que me magoa e acho que eu que estou errada. Sofri um grande rompimento ano passado, amigo de muitos anos, um cara que foi apontado por mulheres por muitos anos como tóxico, abusador. Eu dei razões a elas, mas falei que não era reacionária, e ele dizia que queria mudar. Mas fui percebendo que ele me envolvia, manipulava, falava coisas tóxicas pra mim e depois ria. Coisas que ele sabia que iam me machucar. Até que teve um ápice, uma briga homérica onde nem percebi, mas expus pra todos o abuso que ele estava cometendo com a parceira dele. Foi um rompimento muito forte."

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Fernanda Nobre diz por que decidiu falar sobre não-monogamia: 'Não percebia que podia escolher'

Fernanda abre o jogo e diz o que a motivou a falar sobre a não-monogamia. "Eu fui uma das primeiras pessoas a falar sobre isso publicamente, em 2020, na pandemia. Estava todo mundo fazendo live, falando. E eu sou de uma geração que se é atriz, tem que ser misteriosa, porque é cafona mostrar sua vida, etc. Só que fui assim a vida toda. Quando chegou a pandemia, pensei: 'Estou uma velha jovem, vou falar'. Eu não fazia stories, não aparecia minha cara. Eu falei: 'Por que estou me levando tão a sério? Não me levo tão a sério na vida'. E aí pensei: 'O que quero falar?'. Coisas que nos aprisionam, o que você reproduz sem perceber. Porque eu fiz isso a vida toda. Eu não estava percebendo que estava caladinha, sem falar, porque não queria errar. Não percebi que podia escolher ter ou não filho, eu tinha que ter. Lembro que com 23 anos eu mudei de analista e lembro que fui pra nova analista falando: 'Não gosto de mim. Não me acho interessante. Não gosto de quem eu sou'. Eu sentia mas não conseguia compreender o que era. Eu estava presa no que os outros queriam sobre mim."

Fernanda Nobre diz o que aprendeu com Fernanda Young: 'Me modificou completamente'

Fernanda Nobre se emociona ao falar da morte da roteirista e atriz Fernanda Young. "A gente ia estrear uma peça em sete dias. Ela viajou pra decorar o texto. A peça era eu e ela. Ela viajou porque a gente estava enlouquecido com a estreia, tudo muito intenso. Ela foi viajar pra focar, decorar. Nesse dia que ela faleceu, ela estava com asma, e a gente passou o dia se falando, da peça, do que tinha que resolver. [...] Conviver com a Fernanda como eu convivi, que foi de uma forma muito intensa, ela me modificou completamente. Acho que a voz que eu passei a ter, sem medo, a coragem de falar... Não posso creditar tudo ao que eu vivi com ela, mas aquela mulher, aquela força, até o jeito que a gente a perdeu, me ensinou a ter voz, a falar, a não ter medo de colocar o que eu penso pra fora. Ela me credibilizava muito. Ela me modificou, sou muito grata a vida dela. Foi muito modificador pra mim."

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Fernanda Nobre responde a nove perguntas e meia de amor

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