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Melhem rebate acusações de assédio de atriz: 'Tentativa de criar narrativa'

Marcius Melhem publica vídeo de pouco mais de 1 hora, rebatendo acusações de Carol Portes - Reprodução/Youtube
Marcius Melhem publica vídeo de pouco mais de 1 hora, rebatendo acusações de Carol Portes Imagem: Reprodução/Youtube

Colaboração para Universa, em São Paulo

24/04/2023 20h57Atualizada em 24/04/2023 21h56

O ex-diretor do Núcleo de Humor da TV Globo Marcius Melhem publicou em seu canal do YouTube um vídeo onde rebate as acusações de que teria assediado sexualmente a atriz Carol Portes.

A atriz falou sobre a situação pela primeira vez em entrevista a Universa publicada na última quinta-feira (20).

Assim como Carol, outras sete mulheres relataram episódios de assédio, que teriam sido cometidos por ele, ao Ministério Público.

Acusação

De acordo com Carol, Marcius Melhem a beijou à força apenas de toalha em 27 de novembro de 2014, em um encontro dos integrantes do programa "Tá no Ar".

O vídeo em que ele rebate as falas da atriz tem pouco mais de uma hora, e Melhem menciona a acusação no final. Diz que tudo que aconteceu naquela noite foi consensual, assim como também relatou a Universa.

Defesa

O humorista acusa o UOL de tratar o caso divulgando apenas matérias que o acusem. "Põe uma manchete bem legal contra ele e põe no ar", diz.

Nas palavras de Melhem, o UOL fez "uma análise tosca, mentirosa e sem metodologia alguma, pois toda análise de dados precisa ter um fundo científico e uma metodologia que fique claro para quem está vendo" para sustentar a tese de que a atriz foi diminuída no "Tá no Ar" por não ceder às investidas dele. Não diz, porém, quais são essas metodologias.

Errata em aparições e cenas diminuídas

Melhem começa sua defesa rebatendo a análise sobre a minutagem das cenas de Carol Portes ao longo das temporadas do "Tá no Ar".

"É um material só sobre Carol, que não faz comparação da Carol com outros atores e ignora a gênese do 'Tá no Ar' e a importância das cenas sem falas. Existiam cenas geniais sem falas. Não era ter fala ou não ter fala que indicava se uma atriz estava bem. Mas vamos assumir essa metodologia sem método", inicia.

Para Juliana Dal Piva, no entanto, o diretor havia admitido, em nota, que houve perda de espaço "por um processo natural de qualquer programa", em que "atrizes que vão se destacando mais vão ganhando mais espaço". Ele se recusou a gravar entrevista em vídeo.

No vídeo de seu canal no YouTube, ele aponta como Carol apareceu mais na segunda temporada do que na primeira.

O ex-diretor aponta uma "barriga", jargão jornalístico relacionado a um erro: o nascimento da filha da atriz aconteceu na quinta temporada, e não na quarta, como informado na primeira versão do texto.

Tão logo o erro foi percebido, a reportagem foi corrigida. O UOL não errou a data do parto da filha de Carol como Melhem menciona em vídeo.

Ele justifica, então, que ela apareceu menos na 5ª temporada por ter se afastado das gravações para dar à luz. Mas a redução se verifica desde a 3ª temporada.

Agradecimento da atriz

Mais adiante no vídeo, Melhem cita ainda que "sentou pessoalmente" com a editora do programa quando Carol se afastou devido à gravidez, para tentar encaixar as poucas cenas que ela conseguiu gravar antes.

"Eu dizia pra pôr episódio por episódio, mudava a estrutura do programa, pra ela poder aparecer em todos. Ela só não aparece no último porque não dá, porque o último é um especial que a gente sempre grava depois", diz.

O humorista exibe no vídeo ainda um trecho de uma entrevista concedida por Carol, em janeiro de 2019, onde a atriz agradeceu o cuidado de Melhem de deixá-la "ativa" no programa mesmo com ela afastada.

"É verdade, a gente cuidou para que ela aparecesse na temporada que ela saiu para dar à luz", diz.

Teatro

Na sequência, Melhem se aprofunda no ponto de Carol ter deixado o teatro para se dedicar ao "Tá no Ar".

"Eles se confundem sobre a saída da Carol do teatro e colocam na primeira temporada. Ela diz que não precisava ter saído do teatro. Isso só mostra que a saída da Carol do teatro para se dedicar ao 'Tá no Ar' surtiu efeito, o contrário do que é dito, porque se ela grava na primeira 10 minutos e 45 e na segunda grava 24 minutos e 38 é porque o fato de ela ter maior disponibilidade pro programa resultou numa maior participação dela", aponta.

Ela fez a primeira temporada inteira da peça, e eu a convenci de que poderia fazer o 'Tá no Ar', mesmo estando no teatro. Na segunda temporada, a gente apontou que o pessoal tinha 12 meses de contrato e o 'Tá no Ar' gravava três, então era um pedido para que eles estivessem livres nesses três meses. A Carol abriu mão. Marcius Melhem

"Quando ela abre mão, eu pergunto se ela está em paz com essa decisão e ela diz que sim. E, de fato, ela tem [na segunda temporada] duas vezes e meio o tamanho que ela tem na primeira temporada", ele completa.

O humorista aponta, então, que "não se justifica" o argumento dela de que "foi pressionada" a sair do espetáculo.

Narrativa e grupo de WhatsApp

Melhem diz que lhe foi atribuído um padrão de comportamento dele para criar uma narrativa, como elogiar o corpo das mulheres que o acusaram e as encurralar nos corredores.

O ex-diretor aponta ainda que há incoerências na história de Carol ao comentar que existe um grupo de WhatsApp com as atrizes e que o comportamento dele deveria ter sido assunto.

"Essas pessoas não se falavam? Não tem nenhuma mensagem, nem da Dani [Calabresa, a primeira a acusá-lo de assédio]. Não tem nenhuma mensagem dessas mulheres entre elas. Elas não tinham intimidade? Não era todo mundo amigo?", diz.

Elas tinham um grupo de WhatsApp delas. Imagina se tem cinco mulheres no programa que estão sendo agarradas pelos corredores. Isso não seria assunto num grupo? E mais, em 2018, uma dessas mulheres se apaixona por mim e esquece tudo isso e mesmo quando tá com raiva de mim e despeja coisas, é um assunto que não vem à tona. Porque nunca existiu. Marcius Melhem

O humorista volta a falar das mensagens trocadas com Carol e afirma mais uma vez que elas foram feitas "em tom de brincadeira", pois eles já possuíam intimidade.

"É uma narrativa que a advogada tenta vender pessoa por pessoa, mas não cola, porque é muita gente para combinar", aponta, referindo-se à advogada Mayra Cotta, que representa as mulheres que o denunciam.

Em nota a Universa, Cotta respondeu as colocações de Melhem.

"Os ataques do investigado são uma lamentável tentativa de intimidar e silenciar qualquer mulher que ouse defender as vítimas e denunciar o agressor. Trata-se de um ataque não somente a mim, mas a todas as demais mulheres advogadas do Brasil que após lutarem muito pelo direito de atuar na profissão em equidade, continuam a conviver com inúmeros episódios de opressão, machismo e injustiça", diz em nota.

Trabalhos extras durante o "Tá no Ar"

Melhem também rebate as afirmações de Carol de que não fez outros trabalhos enquanto gravava o "Tá no Ar". Ele aponta que, em sua entrevista a Universa, a atriz afirma que "todo mundo" fazia coisas enquanto gravava o "Tá no Ar", menos ela.

"A narrativa das outras é que eu não liberava. Então eu te agradeço, porque você está dando um testemunho de que as outras pessoas faziam coisas quando eram convidadas. Agora você também fazia, Carol. Você fez três filmes enquanto fazia o 'Tá no Ar'", pontua Melhem.

Ele diz ainda que a atriz fez parte de "Filhos da Pátria", que não estava nesse projeto e ele a indicou, por estar preocupado com a autoestima de Carol.

O ex-diretor mostra um print de uma mensagem enviada em 2019 sobre isso, onde pede que Carol seja considerada para a série.

"Que pessoa é essa que quer prejudicar e pede uma coisa para a atriz se sentir melhor? Ela nunca soube. Eu queria que ela achasse que tivesse entrado lá pelo talento dela e não porque eu pedi", pontua, afirmando que isso derruba a tese de que fazia coisas para que as atrizes se sentissem gratas.

Ele também mostra uma mensagem a Bruno Mazzeo, onde sugere que Carol seja cogitada para integrar o elenco do "Cilada.com".

Marcius exibe uma conversa com ela, em que lamenta que o trabalho com Bruno não tenha dado certo e diz para ele relaxar quanto ao seu contrato, pois ele estava "cuidando" disso.

Ele rebate a acusação de que teria lutado para renovar o contrato de Carol para "acalmar" ânimos. "Ou eu sou o cara que boicota ou o que tenta abafar os ânimos, os dois não dá. Isso é pra colocar qualquer ato meu sob suspeita. Vão ter que suar muito para encaixar", diz.

Mensagens

O humorista também cita e mostra prints no vídeo de mensagens de agradecimento enviadas a ele por Carol em 2017.

Ele também exibe mensagens trocadas entre os dois em 2018, onde Carol o convida para visitá-la em São Paulo e conhecer sua filha, nascida havia pouco tempo.

Marcius também mostra mensagens em que Carol e Georgiana Goés — outra das atrizes que o acusam de assédio — o convidam para jantar.

"A gente desenvolveu uma amizade. Ela e Georgiana me chamam pra jantar, a que tinha medo de me dar carona, a que não queria me dar carona, e as duas me chamam pra jantar", diz, exibindo a mensagem.

O ex-diretor coloca no vídeo ainda uma mensagem com áudio, onde incentiva Carol após, segundo o print, lhe contar que fez um teste para uma novela das 19h e uma onde lhe agradece por um presente de casamento.

Há também no vídeo mensagens de uma situação em que Marcius diz que o plano da Globo cortou o complemento de leite de Carol durante a amamentação de sua filha e ele ajudou a resolver a situação.

Carona

O ator diz ainda que não desviava o caminho para uma eventual carona com ela.

"É o contrário do que ela conta. Ela diz que ela tinha um flat na praia e um apartamento na Avenida das Américas. Eu só pegava carona com ela quando eu ia ver meu pai, que morava no mesmo condomínio. Ela não tinha que desviar o caminho pras Américas pra me deixar, é o contrário. Eu só pegaria carona se fosse pra lá", diz.

Carol contou na entrevista a Universa que se sentia constrangida de estar com Marcius no mesmo carro.

Programa novo

O humorista critica ainda uma fala da atriz na entrevista, onde diz que o momento em que "caiu sua ficha" foi ao ver uma notícia a respeito das denúncias de Dani Calabresa, que também acusa Melhem.

"Não foi na denúncia, foi na nota, na nota que fala de assédio moral. Essa é a questão. A primeira nota que sai, sai como assédio moral. A Dani não fala na nota. Ali ela lê uma nota de assédio moral e pensa: Tô assediada sexualmente", diz.

Em sua entrevista a Universa, contudo, Carol não cita qual foi nota sobre a acusação de Dani Calabresa, nem se a mesma falava apenas sobre assédio moral.

Ele pontua ainda que Carol procurou Georgiana Goés. "Por coincidência, as duas atrizes que não foram para o programa nova", aponta.

Melhem diz, então, que a mágoa da atriz veio porque não estava no programa novo do humorista, que tinha grande parte da mesma equipe.

"Ela queria de qualquer maneira estar lá. Ela diz que todos os amigos dela estavam lá, menos ela. Não é verdade. Dos 11 do 'Tá no Ar', quatro atores não foram. Um terço. E era pra ser só metade, no máximo", diz o ex-diretor.

"Se ela passou seis anos chorando, por que ela queria ir para o programa novo com a mesma pessoa no comando? É masoquismo? Não, é porque ela passou seis anos sorrindo, felizes. Ela queria estar no programa que ela não está e aí começa toda uma narrativa, inclusive de dizer que pensou se renovaria o contrata ou não. Não pensou, isso era uma preocupação dela e minha", acusa.

Carta

Melhem fala sobre uma carta que escreveu no grupo do "Tá no Ar" em que citava também os membros que não continuariam trabalhando com ele no novo programa.

Na entrevista, Carol diz ter se sentido exposta por ele ter dito que o motivo não era "falta de talento".

"Como eu dizer que o motivo não é falta de talento é agressivo? Se eu dissesse que era, aí sim era agressivo! Mas não foi. O que eu quis dizer foi óbvio: que todo mundo tinha talento, mas quando você vai montar um programa, você tem questões a resolver", se defendeu.

"É normal trocar elencos quando você troca de programas e de séries", reforçou Marcius, pontuando ainda que Carol sempre teve problemas com autoestima.

Negação das acusações

Ele finaliza o vídeo negando as acusações de assédio sexual.

É óbvio que tenho frases que não cabem, comportamentos que revi, já falei isso várias vezes. A gente aprende. Mas posso garantir que não assediei a Carol, não cometi nenhum tipo de crime e que tudo que a gente viveu naqueles 5 minutos naquele quarto foi consensual e não há nenhuma demonstração de que não foi. Não há nenhuma mensagem dela pra mim ou pra ninguém dizendo que a agarrei naquela noite. Marcius Melhem

"Todas as lembranças dela são deturpadas", completa.