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Acusado de assédio sexual, Boaventura diz que ex-aluna agiu por vingança

O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos - Deivyson Teixeira/Divulgação
O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos Imagem: Deivyson Teixeira/Divulgação

Adriana Negreiros

De Universa

12/04/2023 10h35

O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, 82, acusado de assédio sexual por três ex-alunas do CES (Centro de Estudos Sociais) da Universidade de Coimbra, disse que as denúncias são "um ato miserável de vingança". Ele afirmou que uma das autoras do artigo que o acusa de assédio, a belga Lieselotte Viaene, foi expulsa do CES por "comportamento incorreto e indisciplinado". Acusou-a de ser "indolente".

As afirmações foram feitas em texto enviado aos alunos, ex-alunos e funcionários do CES na manhã desta quarta-feira, por e-mail. Boaventura de Sousa Santos é diretor emérito da instituição. No "Diário de uma difamação 1" —como intitulou o texto—, Boaventura afirma que irá apresentar uma queixa-crime por difamação contra as autoras — além de Viaene, a portuguesa Catarina Laranjeiro e a norte-americana Myie Nadya Tom. Ele afirma nunca ter se reunido com estas duas, que "concluíram seus doutoramentos com a nota máxima".

No e-mail, Boaventura de Sousa Santos critica a editora Routledge, responsável pela publicação do artigo —e de alguns livros do próprio— por ter dado "a lume um texto tão ardiloso, tão mentiroso", que mistura "quadro teórico sólido, retirado da literatura que foi produzida no seguimento do movimento Me Too", a "referências anônimas, boatos e incidentes não identificados e não provados".

Ele também se defende das acusações de que teria promovido encontros após as aulas em um restaurante de Coimbra —apontado como o Casarão—, com o objetivo de criar intimidades com as alunas.

"Que perversidade pode transformar uma convivência no mais puro espírito acadêmico em manipulações de consciência e em rituais de fidelidade", escreveu. "Convido todos e todas a irem ao restaurante ver os quadros de azulejos com os nomes dos estudantes de doutoramento que ao longo dos anos partilharam bons momentos de conversa, leitura de poesia e música. Diz-me o dono do restaurante que ainda hoje vêm estudantes do Brasil mostrar aos seus filhos os quadros onde estão os seus nomes quando eram aqui estudantes".

Uma outra acusação contra Boaventura feita pelas ex-alunas --além do assédio sexual-- foi a de que só conseguia escrever tantos textos e livros porque explorava pesquisadores. Segundo as denúncias, jovens investigadores trabalhavam para o professor sem receber créditos pelo que produziram. "Obviamente que me apoiaram na investigação porque foi para isso que foram contratados", defendeu-se. "Escrevi muitos livros porque trabalho incessantemente e nunca tive férias, porque amo o meu trabalho e porque tenho uma secretária e uma assistente de revisão de texto, duas pessoas maravilhosas e excelentes profissionais que há várias décadas me acompanham".

Nos grupos de WhatsApp de alunos do CES - nos quais predominam os estudantes brasileiros --, o clima é de expectativa pelo que irá ocorrer com Boaventura. Boatos de assédio sexual envolvendo alunos e professores da instituição correm entre os estudantes há anos. Os muros da tradicional Universidade de Coimbra já chegaram a ser pichados com frases contra o professor. Uma das pichações dizia: "Fora Boaventura. Todas sabemos".

Este fato inspirou o título do artigo das três autoras: "As paredes falaram quando ninguém se atrevia".