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Eleições 2022: ataques a mulheres jornalistas aumentaram 250% em setembro

As jornalistas Amanda Klein, Juliana dal Piva e Nina Lemos sofreram ataques no mês passado  - Montagem/UOL
As jornalistas Amanda Klein, Juliana dal Piva e Nina Lemos sofreram ataques no mês passado Imagem: Montagem/UOL

De Universa, em São Paulo

11/10/2022 11h38

Nos debates, em entrevistas ou no acompanhamento das agendas de políticos: a cobertura das eleições foi marcada por agressões contra mulheres jornalistas. Apenas em setembro, houve 28 registros de ataques às profissionais, um aumento 250% em comparação com o mês anterior. Quase um caso de agressão por dia. O número representa um terço do total de casos contra comunicadoras registrados em todo o ano e um aumento de 47,7% em relação a setembro de 2021.

Os dados são de um monitoramento da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), que levanta ataques gerais e de violência de gênero contra jornalistas. A organização destaca que a maioria dos ataques está relacionada ao período eleitoral: 64,3% dos casos estavam diretamente conectados à cobertura eleitoral e metade das agressões tiveram a participação de agentes políticos e estatais.

No dia 6 de setembro, a jornalista Amanda Klein recebeu tratamento machista do presidente Jair Bolsonaro (PL) durante sabatina no "Jornal da Manhã", da Jovem Pan. O presidente, que concorre à reeleição, mencionou a vida pessoal da jornalista ao ser questionado sobre os imóveis adquiridos por seus familiares com dinheiro vivo. Depois do episódio, Klein passou a sofrer ataques de apoiadores de Bolsonaro nas redes sociais.

Em entrevista a Universa, a jornalista disse que ataques online são comuns, mas vindo de pessoas em cargos públicos, especialmente de tamanha importância havia sido a primeira vez. "Com uma autoridade com o cargo alto como o dele, nunca havia acontecido. Talvez eu já tenha recebido uma resposta ríspida de político, mas que eu me lembre, foi dentro das regras do jogo", disse. "Fiz meu trabalho."

A violência verbal foi o recurso mais utilizado para desmoralizar e descredibilizar comunicadoras ao longo do mês. Em 67,9% dos episódios identificados em setembro, as vítimas sofreram com discursos estigmatizantes. O papel das redes sociais nesse quadro de violências fica claro com este dado: 64,3% do total de casos teve origem ou repercussão no ambiente online.

Foi o que aconteceu com a jornalista Nina Lemos, colunista de Universa que também foi atacada no mês passado. As agressões aconteceram depois que Nina publicou uma coluna de opinião sobre a presença da primeira-dama Michelle Bolsonaro no funeral da rainha Elizabeth. O título dizia: "Michelle Bolsonaro confunde funeral da rainha com desfile de moda". Os ataques ganharam força depois que o deputado federal Eduardo Bolsonaro compartilhou uma piada menosprezando a jornalista em suas redes sociais. A partir daí, grupos bolsonaristas direcionaram suas agressões e ameaças às redes sociais da colunista. Militantes bolsonaristas passaram a enviar mensagens e imagens da campanha do presidente Bolsonaro diretamente para o seu WhatsApp - em número que não havia sido divulgado. "Fiquei muito assustada", contou a jornalista.

O levantamento da Abraji aponta ainda que 21,4% dos alertas que vitimaram mulheres em setembro de 2022 foram classificados como casos de ameaça, intimidação e/ou violência física — como o caso da repórter Lais Alegretti, da BBC Brasil, que foi uma das profissionais hostilizadas ao cobrir a visita do presidente Jair Bolsonaro a Londres para o funeral da rainha Elizabeth II.

Dos casos que vitimaram mulheres em setembro, 39,3% foram classificados como situações de transfobia, homofobia e comentários ou comportamentos explicitamente machistas também foram registrados. Dois deles foram considerados episódios de violência sexual, com importunação sexual e ameaça de estupro.

A jornalista Alana Rocha, de Riachão do Jacuípe (BA), foi atacada por um vereador de sua cidade dentro da Câmara Municipal, durante a cobertura de uma sessão legislativa. No mesmo episódio, ela foi vítima de transfobia.

Em geral, houve crescimento das agressões contra jornalistas, meios de comunicação e imprensa. A Abraji identificou 84 casos em setembro, o que representa aumento de 50% em relação a setembro de 2021. De janeiro ao fim de setembro deste ano, há o registro de 418 ataques.