Brasileira é premiada por foto da 'Penélope de BH'; veja as vencedoras

O prêmio internacional "Female in Focus" divulgou as vencedoras deste ano. Foram escolhidas 20 imagens individuais e duas séries, que serão exibidas em duas exposições: uma em Londres, em outubro, e outra nos Estados Unidos, em 2023. Uma das fotos é de Verônica Alkmim França, fotógrafa de Diamantina (MG), que vive em Estocolmo, na Suécia.

A premiação, organizada pelo British Journal of Photography e sua editora 1854 Media, foi criada para defender o trabalho de fotógrafas e combater a desigualdade de gênero na indústria.

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"Globalmente, 70% a 80% dos estudantes de fotografia são mulheres, mas representam apenas 13% a 15% dos fotógrafos profissionais -e isso deve mudar. A chamada para inscrições deste ano foi centrada no tema do lar", observa a 1854 Media em material de divulgação das vencedoras.

Os trabalhos foram julgados por Karla Guerrero, fundadora da Femgrafía; Katy Barron, presidente do Conselho de Administração da Photofusion; e Jekaterina Saveljeva, fundadora da femLENS, entre outras.

As imagens, segundo a promotora do concurso, trazem "histórias de resiliência, liberdade e alegria" e atravessam "assuntos que incluem mudanças climáticas e doenças, identidade e o significado do lar".

Veja abaixo as vencedoras, com uma descrição escrita pelas autoras. A lista completa pode ser vista aqui.

Verônica Alkmim França

Esta imagem foi feita na periferia de Belo Horizonte, em Minas Gerais, no Brasil, para um projeto que visa destacar a essência e a espontaneidade de uma pessoa simples, genuína, que não tem muito contato com a cidade e a tecnologia e vive uma vida mais espontânea. Essa condição é o mundo, o universo, a casa dessas pessoas, que também é uma tradição social. Aqui, esta mulher lembra Penélope que na mitologia grega espera o marido, tecendo durante o dia e durante a noite desfiando o que havia tecido."

Kristina Varaksina

Joanne é uma jovem incrivelmente forte e sábia de ascendência nigeriana. Ter albinismo e uma visão muito ruim nunca a impediu de acreditar em si mesma e apreciar seu próprio corpo. "A essência da beleza é ser, ser quem você é. Vivemos em um mundo que nos incentiva a criticar constantemente nossa aparência e nos faz sentir que não somos o suficiente como somos. A verdade é que a beleza não pode ser restrita. Beleza é simplesmente ser você."

Sonali Ohrie

Esta é uma imagem da minha mãe sentada em seu vestido de noiva, pós-divórcio. Uma série contínua documentando a jornada de minha mãe; explorando uma vida de liberdade e voltando para casa para si mesma. Ao crescer em uma família estritamente hindu-punjabi, minha mãe não tinha permissão para explorar o mundo até que ela estivesse em um casamento 'seguro' e 'seguro'. Agora, após seu divórcio de um casamento arranjado, ela finalmente pode explorar o mundo que era considerado perigoso demais para uma mulher solitária enfrentar, entender sua identidade como mãe solo e aprender o que o lar significa para ela depois que ele se partir ao meio."

Stefanie Langenhoven

Avatãra é uma série pessoal sobre a gravidez do meu segundo filho, que aconteceu durante a pandemia. Ele foi concebido depois que tive vários abortos. O aborto espontâneo é um tipo muito específico de perda. Você se conecta com uma alma e a perde sem realmente encontrá-la. A essência parecia tangível, mas eu nunca conseguia senti-los fisicamente. Uma consciência cresceu em mim desse aspecto sobrenatural de trazer crianças para este mundo, uma conexão com esse 'outro' reino. Eu criei esta série para fazer este reino parecer mais real para mim. Senti que estava honrando essa alma sabendo que o trauma dos abortos me deixou sem saber se a gravidez seria bem-sucedida. Foi uma maneira de processar a enormidade de sentimentos que acompanham a gravidez, especialmente depois de sofrer uma perda e enfrentar uma pandemia. Fiquei impressionada com a notável capacidade do meu corpo para abrigar, formar e desenvolver um bebê e a maravilha dessa alma encarnando em ser."

Julia Gunther

Miss July, Xola, é da série Calendar Girls. O concurso de beleza Miss Calendar Girl foi fundado em 2015 por Chedino, uma mulher trans cuja transição de afirmação de gênero eu tenho documentado desde 2012. Chedino queria criar um evento onde meninas trans pudessem se sentir mais à vontade para entrar e participar. Semelhante aos bailes apresentados no [filme] Paris is Burning, concursos como Miss Calendar Girl fornecem aos membros normalmente 'à margem' da sociedade sul-africana um ambiente seguro, uma rede de apoio e, acima de tudo, um senso de comunidade. Inspirado no filme As Aventuras de Priscilla, Rainha do Deserto, levei algumas das participantes do concurso para uma sessão de fotos em uma salina fora da Cidade do Cabo, onde passamos um dia tirando fotos. Todas as roupas e maquiagem foram desenhadas e aplicadas pelas próprias garotas do calendário, e seriam usadas durante o concurso de beleza Miss Calendar Girl alguns dias depois."

Marisol Mendez

A morenada é uma das danças mais populares da Bolívia. Retrata escravizados africanos forçados a trabalhar nas minas de prata de Potosí ou a esmagar uvas nos vinhedos das Yungas, durante o período colonial. Os Ñaupas (quechua para 'antigos') retratam as mulheres escravizadas mais velhas. O chacoalhar de suas matracas imita o das correntes que prendiam as pernas dos escravizados. Esta imagem pertence à série Madre. Juntando memórias do passado e observações atuais, o projeto explora a influência da raça e da religião na formação da percepção e representação das mulheres bolivianas. Através dele, me esforço para desafiar as estruturas machistas-patriarcais e celebrar a diversidade e a complexidade da minha cultura através do retrato de suas mulheres."

Gala Semenova

Misha foi diagnosticada com câncer de mama em 2021 e sua batalha a levou à necessidade da quimioterapia. Como resultado, ela perdeu seu cabelo longo e bonito. Sua filha queria apoiar Misha durante esse difícil processo e elas rasparam o cabelo uma da outra.

Sophia Spring

Na primavera de 2020, o mundo ficou livre —todos os nossos rituais de normalidade foram removidos no contexto de uma pandemia global. E assim, com pouco mais a fazer, nos aventuramos em nossos parques locais para nossa dose única de exercício diário. Foi aqui que encontramos consolo no mundo natural encontrado à nossa porta. Durante esse tempo, meu amor pelos parques de Londres se aprofundou. Em um mundo cada vez mais motivado pelo lucro e pelo status, o parque é um espaço que simboliza a democracia; espaços gratuitos e comunitários para todos em uma das cidades mais caras do mundo. Os retratos desta série capturam a diversidade de pessoas cujas vidas são enriquecidas por esses extraordinários espaços verdes. É minha esperança que essas imagens transcendam o tempo em que foram feitas. Embora esses espaços tenham sido uma tábua de salvação para os moradores da capital durante o isolamento, sua importância precede esse momento e se estenderá além dele. Em suma, Parklife é minha carta de amor para os londrinos e seus queridos espaços verdes."

Jennifer Blau

O que acontece com seu senso de identidade quando você perde a memória? E como aparecemos para os outros? Linda, elegante e engajada, Patricia desafiou o estereótipo de mulher aos 90 anos antes de desenvolver demência. Peço que consideremos como na cultura ocidental consideramos, retratamos —e muitas vezes tornamos invisíveis— os idosos, especialmente quando eles declinam. Como podemos respeitar e celebrar sua beleza e humanidade em todos os estados de ser? Da minha série O Quarto da Patricia."

Persia Campbell

Quando a guerra contra o cartel começou em Ciudad Juárez [México], em 2006, muitos de nós nos refugiamos em nossos espaços privados (nossas casas e quartos). Diante dos espaços públicos tomados pelo terrorismo e pela violência, fizemos das nossas casas um porto seguro, um santuário onde passamos a maior parte do tempo, dado que fomos submetidos a um confinamento involuntário. Esta imagem representa dualidade e contraste. O interior é totalmente decorado em tons pastéis em representação da nossa estética fronteiriça, que se baseia significativamente no intercâmbio comercial com os Estados Unidos. Assim, esta decoração torna-se simultaneamente uma metáfora da vida fronteiriça e do sonho americano, uma vida superficialmente perfeita. A violência, os espaços públicos e a guerra às drogas são exibidos na televisão colocada na sala, retratando o papel ativo da mídia nas estratégias de terrorismo que afetaram todos os que vivem nesta cidade."

Sujata Setia

'Eu nunca fui fotografada assim antes — com todas as minhas cicatrizes, quero dizer', Catrin me disse. Ficamos pensando sobre o limite das cicatrizes. Quanto podemos ver? Estamos nos tornando parte do mundo onde as cicatrizes também precisam parecer 'bonitas'? Apenas o suficiente para que possamos usá-las para nos lembrar de que nossas vidas são melhores? Mas não muito... para que possamos suportar olhar para elas? Catrin estava voltando de uma viagem de esqui nos alpes franceses quando os freios do ônibus falharam e o acidente aconteceu: 96% de seu corpo sofreu queimaduras de terceiro grau, deixando-a com uma chance em 1.000 de sobrevivência. Após três meses em coma, 200 cirurgias e quatro anos de reabilitação, Catrin desafiou o destino."