'Meu marido levou um choque e parou de andar 1 mês após o casamento'

Eu tinha 16 anos quando conheci o Alexandre; ele tinha 17. Ao me ver na escada da escola, pediu meu telefone para uma amiga. Era 11 de março de 2014. No dia seguinte, demos nosso primeiro beijo nessa mesma escada. Depois de oito anos, nos casamos, em 11 de março de 2021, em Nova Iguaçu [Baixada Fluminense]. Foi maravilhoso! Quando entrei no salão, o Alexandre desabou a chorar. Passamos por muitos desafios no relacionamento, principalmente financeiros.

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Fazer uma festa de casamento era um sonho alto, mas conquistamos com muito esforço e suor. Parcelamos o total em 24 vezes e tínhamos começado a pagar em 2019. O Alexandre, que era soldado da força aérea, estava vestido de farda e dançamos a canção "Um Sonho a Dois", na voz de Roberta Sá. Parecia um sonho mesmo.

Mas um mês depois, tudo mudou. o Alexandre não lembra do casamento.

Ao tentar hastear uma bandeira do Brasil na varanda de casa, ele sofreu um choque quando encostou em um fio de alta tensão. Era a manhã do dia 3 de maio de 2021. A vizinha da frente avisou meu pai que o fio estava pegando fogo e, quando chegou lá, viu o Alexandre caído no chão. Eu ainda estava na cama, me levantei e corri para a sala. Ele estava sem respirar. Como sou técnica de enfermagem, fiz uma massagem para que ele voltasse. E voltou. Meu pai o levou para um hospital referência em queimados. Ele chegou roxo. Depois foi transferido para o hospital da aeronáutica, na Ilha do Governador.

Por causa do choque, ele teve uma parada cardiorrespiratória de 20 minutos. Os médicos já estavam desistindo de reanimá-lo, mas uma médica falou para continuar porque ele era muito jovem. E ele voltou. Foi um milagre de Deus. Os médicos achavam que ele não resistiria à primeira semana.

O Alexandre teve muitas crises convulsivas e edemas cerebrais. Ele ficou internado por 24 dias, entubado e sedado, no Centro de Terapia Intensiva. Como estávamos em plena pandemia de covid, só podia receber visita dia sim, outro não. Mas eu ia vê-lo diariamente. Eu tinha certeza que ele me sentia. Após 15 dias, ele começou a abrir os olhos, mas logo em seguida teve infecção hospitalar e precisou ficar mais tempo tomando antibióticos. Depois foi transferido para o quarto e ficou mais dois meses.

Quando ele recebeu alta, mal falava e enxergava. Ele tem uma cegueira cortical, não definitiva, mas agora já enxerga cores, vultos, luzes e a nossa cachorrinha. Outra sequela é a memória. O acidente foi tão forte que afetou suas lembranças recentes. Não sabemos se um dia ele vai recuperar as memórias do casamento. Ele não se lembra de nada. Às vezes, ele me pergunta em que ano estamos, mas nada fora do normal. Ele sabe de tudo, entende tudo. A parte motora também foi afetada, porque ficou muito tempo acamado e o corpo não responde da mesma forma. Mas já tem melhorado com a fisioterapia.

No começo o Alexandre não falava, a gente não conseguia conversar. Ele ainda estava no hospital quando disse a primeira frase: "Bom dia, família linda", em uma sessão com a fonoaudióloga. Hoje em dia a gente conversa, expõe nossos problemas, como qualquer casal. Ele já toma banho e escova os dentes sozinho, e eu ajudo nas refeições. A parte mais difícil é subir e descer as escadas de casa com ele. Mas ele tem cooperado muito e cada dia é um progresso.

Antes do acidente eu trabalhava como técnica de enfermagem em dois hospitais, um em Botafogo, e outro em São João do Miriti. Mas deixei os empregos para poder cuidar dele. Ele me agradece todos os dias. Fala que me ama o tempo todo. E eu digo para ele que o meu amor só aumentou. Agora cuido dele de outra forma. Não só com meu amor de esposa, mas também com um amor de mãe. É outro afeto e nos unimos ainda mais.

"Acordei com 20 mil seguidores"

Durante os dois nesses em que fiquei com o Alexandre no hospital, fui fazendo vídeos para acompanhar sua evolução. Porque os médicos não acreditavam quando eu falava que ele tinha levantado a mão, por exemplo. Comecei a gravar. Num sábado, fiz um vídeo no Reels do Instagram para os amigos e familiares verem que ele estava bem e voltei para casa para descansar, estava exausta. Fui dormir com 1400 seguidores e acordei com 20 mil, em julho de 2021. E não parou mais de crescer.

Acho que foi Deus, porque a gente precisou muito das pessoas. Fiz uma vaquinha virtual para ajudar no tratamento dele e para comprar as medicações. Muitos famosos me repostava também. Eu me questionava: "Será que a gente merece esse carinho todo?" Ainda fico receosa. Tem pessoas que param a gente na rua para tirar foto e dizem que somos inspiração para eles e me elogiam por estar sempre com um sorriso no rosto, apesar de toda tristeza que passamos. Fico sem acreditar. O Alexandre fica todo bobo, ele adora tirar foto. Hoje virei digital influencer e ganho mais do que o dobro do que quando era técnica de enfermagem. Apesar disso, ainda moramos com meus pais, não temos casa própria.

Mês que vem vamos passar a nossa lua de mel nas Maldivas. A [cantora] Ludmila fez um concurso em que escolheu cinco casais para concorrer a uma viagem com tudo pago em um hotel que ela foi com a mulher, a Brunna Gonçalves. O casal mais votado ganharia a viagem. Nossos seguidores votaram muito e ganhamos. Iremos no dia 8 de setembro. As pessoas agora nos chamam de "casal Maldivas". Estamos muito animados, só com medo do voo, porque nunca viajamos de avião.

Daqui a alguns anos a gente pensa em ter filhos. É o sonho do Alexandre. Mas só depois de curtimos mais. Filho dá muito trabalho. E agora eu sei disso. O Alexandre foi meu bebê gigante. Os médicos até liberaram para termos relações, mas fico com medo. Acho melhor a gente esperar um pouco. Sinto falta, mas acho que temos outras prioridades agora. Alexandre é do candomblé e eu não tenho uma religião concreta, mas acredito muito que Deus quis que ele estivesse ao meu lado.

Quando o Alexandre voltar a andar, vamos nos casar de novo. O salão que fizemos nosso casamento acompanhou a nossa história e nos presenteou com uma nova festa. Estamos com expectativa de que até o final do ano que vem ele esteja andando. Também pretendemos viajar. Quero conhecer a Disney e ele é doido para ir para a Bahia."

Vanessa de Carvalho (@vanesscarvalho_/), 25 anos, é produtora de conteúdo e mora em São João do Meriti, na Baixada Fluminense