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Tempo é salvação: economista cria solução que acelera tratamento de câncer

Anna Gabriella Antici, candidata ao Prêmio Inspiradoras 2022 na categoria Inovação  - Julia Rodrigues/UOL
Anna Gabriella Antici, candidata ao Prêmio Inspiradoras 2022 na categoria Inovação Imagem: Julia Rodrigues/UOL

Colaboração para Universa

09/08/2022 07h45

A economista Anna Gabriella Antici, 55 anos, teve câncer de mama duas vezes. Em ambas, pode contar com um atendimento ágil, tanto no diagnóstico quanto nas cirurgias e na quimioterapia. E, na luta para tratar a doença, o tempo tem grande importância. Foi por isso que, ao saber que a funcionária de uma amiga teria de esperar seis meses para começar a se tratar, Gabriella ficou profundamente comovida e decidiu que faria algo para aliviar o sofrimento de pessoas que, ao contrário dela, não têm acesso a um serviço de saúde muito ágil.

Fazer alguém esperar muito tempo pelo tratamento de câncer é desumano. Anna Gabriella Antici, economista

Nem bem a economista desligou o telefone com a amiga, e a ideia da iniciativa já se desenrolava em sua cabeça. Assim nasceu, em junho de 2018, o Instituto Protea, uma organização sem fins lucrativos que atua para acelerar o acesso a diagnóstico e tratamento do câncer de mama.

O nome da ong vem do grego Proteus, uma divindade com poder de metamorfose. A palavra também denomina uma flor originária da África do Sul, que tem a capacidade de se adaptar em condições inóspitas. Uma metáfora para a força das mulheres durante o tratamento do câncer de mama. Por essa iniciativa, a economista é uma das finalistas do Prêmio Inspiradoras na categoria Inovação em câncer de mama.

Filantropia como base

O modelo que Gabriella desenvolveu se baseia em parcerias com instituições filantrópicas que atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) e deveriam ser custeadas por ele. "O SUS, porém, não consegue pagar todo o gasto. Cobre apenas entre um terço e 40% do custo. Além disso, os valores não são reajustados há mais de uma década!", afirma.

Por causa das dificuldades financeiras, o Hospital Santa Marcelina, na zona leste de São Paulo, estava prestes a diminuir a capacidade de atendimento de pacientes por causa dos custos, quando firmou uma parceria com o Protea, em outubro de 2018. O acordo permitiu que a instituição mantivesse as 20 vagas mensais para receber novos casos (ia reduzir para 16), além de adicionar outras duas a cada mês.

Hoje, o hospital recebe 30 novas pacientes mensalmente. Do início da parceria até junho, 1.072 mulheres receberam tratamento, o que resulta em um aumento de 50% em relação ao número que a instituição tratava antes. "O Protea nos deu energia. É como se o hospital estivesse entubado e voltasse a respirar sozinho", diz Grasiela Benini, coordenadora do Serviço de Mastologia da instituição.

O Protea se mantém com doações de pessoas físicas. É possível doar mensalmente a partir de R$10 reais ou fazer uma doação única com o mesmo valor. Em 2018, a economista injetou R$500 mil de recursos próprios para começar a ong. Já entre 2019 e 2021, arrecadou mais de R$7 milhões.

"Quero que o Protea seja o Médicos Sem Fronteiras, que tem 600 mil doadores no país", diz Gabriella.

No Hospital Santa Marcelina, a parceria também acabou com outros gargalos no atendimento. A ong passou a encaminhar pacientes para fazer mamotomia - exame que utiliza um sistema de corte a vácuo para biópsia - em um laboratório particular. Com isso, o hospital, que não realiza o exame e usava o centro cirúrgico para biópsia, teve uma redução de 30 dias na fila de cirurgia. Até junho, 151 mulheres tiveram acesso ao exame.

A ong custeia ainda o pagamento de dois médicos para atuar no atendimento ambulatorial. Antes disso, as pacientes passavam pela consulta, mas precisavam esperar até 45 dias para fazer a biópsia. Agora, ao serem atendidas, realizam a mamografia e, se o exame aponta a necessidade de biópsia, são encaminhadas no mesmo dia para realizar o procedimento. "O diagnóstico demorava até dois meses, agora sai em cerca de 15 dias", diz a mastologista Grasiela Benini.

Foi o que aconteceu com a confeiteira paulistana Fabiana Vicente Fernandes, de 39 anos. Em 2019, ela fez a biópsia no mesmo dia em que a mamografia apontou um tumor na mama direita. Fabiana teve câncer na mama esquerda 13 anos antes. Daquela vez, foram seis meses para ter o diagnóstico e começar o tratamento.

"Senti que tinha algo, mas os médicos do posto de saúde diziam que não havia necessidade de exames por causa da minha idade. Achavam que fosse apenas um cisto", conta. A moça, então, pagou um ultrassom particular e descobriu que o nódulo tinha 11 milímetros. Depois de muito peregrinar, chegou ao Santa Marcelina e, quando fez a biópsia, o tumor já estava com cinco centímetros.

"Descobrir que está com câncer é desesperador, mas perceber que não há acesso ao tratamento é ainda pior. Dessa vez, fiquei mais tranquila porque sabia que o Protea estava atuando no hospital e que eu não ia esperar tanto tempo para fazer os exames e começar a tratar", diz.

Diagnóstico precoce

Este ano, a ong fechará parceria com outro hospital, na Bahia. Mas, além de agilizar o atendimento, a organização tem dois projetos com foco no diagnóstico precoce. Um deles, realizado em parceria com o Instituto Tellus, quer mapear a jornada da mulher, desde a primeira consulta no posto de saúde até a chegada ao hospital.

O projeto, chamado Cuida Mama, já foi realizado em Cotia, cidade da região metropolitana de São Paulo, que está implementando melhorias para diminuir o tempo de espera da paciente. Outras duas cidades também receberão consultoria. "Muitas pacientes chegam para tratar o câncer em estágio avançado, quando já não há chance de cura. Temos de mudar isso", afirma Gabriella.

O outro projeto envolve inteligência artificial. O Hospital do Amor, em Barretos, interior de São Paulo, foi escolhido para testar uma ferramenta desenvolvida pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) e o Mass General Cancer Center, ambos dos Estados Unidos.

A novidade permite a leitura de mamografias com mais precisão, possibilitando diagnosticar o alto risco de desenvolver um tumor na mama em até cinco anos. Agora, a tecnologia também chegou ao Santa Marcelina, que recebeu a doação de um mamógrafo digital.

"Queremos mostrar que dá para descobrir os casos mais cedo e tratar com mais economia e menos sofrimento. Essa ferramenta pode ser um divisor de águas, fazendo com que a mortalidade por câncer de mama caia", finaliza Gabriella.

Sobre o Prêmio Inspiradoras

O Prêmio Inspiradoras é uma iniciativa de Universa e do Instituto Avon, que tem como missão descobrir, reconhecer e dar maior visibilidade a mulheres que se destacam na luta para transformar a vida das brasileiras. São 21 finalistas, divididas em sete categorias: Conscientização e acolhimento, Acesso à justiça, Inovação, Informação para a vida, Igualdade e autonomia, Influenciadoras, Representantes Avon. Para escolher suas favoritas, basta clicar na votação a seguir. Está difícil se decidir? Não tem problema: você pode votar quantas vezes quiser. Também vale fazer campanha, enviando este e os outros conteúdos da premiação para quem você quiser. Para saber mais detalhes sobre a votação, basta consultar o Regulamento.

O Prêmio Inspiradoras é uma iniciativa de Universa e Instituto Avon, que tem como missão descobrir, reconhecer e dar maior visibilidade a mulheres que se destacam na luta para transformar a vida das brasileiras. O foco está nas seguintes causas: enfrentamento às violências contra mulheres e meninas e ao câncer de mama, incentivo ao avanço científico e à promoção da equidade de gênero, do empoderamento econômico e da cidadania feminina.