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'Piercing após os 15, tatuagem só aos 18': mães comentam acordos com filhos

A astróloga paulista Sil de Oliveirah, 54 anos, enfrentou não só o pedido pelas tatuagens, como também a vontade de colocar piercings e alargadores, vindo de seus dois filhos, Harion e Larah Imagem: Arquivo pessoal

Glau Gasparetto e Thaís Lopes Aidar

Colaboração para Universa, de São Paulo

08/08/2022 04h00

Tatuagens, piercings e alargadores: tem idade certa para liberar os filhos de fazer esses tipos de intervenções? A astróloga paulista Sil de Oliveirah, 54 anos, ouviu esses pedidos dos dois filhos, Harion e Larah, antes do que imaginava. Ele, com 14 anos à época, e ela, com 12, mostraram interesse pela perfuração e pediram autorização. Após uma conversa em família, como não se tratava de uma intervenção tão definitiva, receberam o "sim" para os brincos mas dali alguns anos: só aos 15 anos e com acompanhamento de um dos pais.

Quando o pedido foi fazer uma tatuagem antes da maioridade não teve acerto. Ficou decidido que só aconteceria após os 18 anos —e aconteceu mesmo, pontualmente! "A tatuagem do Harion, a palavra 'Maktub' nas costas, foi feita na semana da maioridade. Foi um evento! Eu o acompanhei e aproveitei para refazer a minha. Demorou seis horas, passamos a tarde toda lá. Nove anos após essa experiência ele já fez outras, assim como a irmã, que é vegana e na época tatuou uma couve", conta a mãe.

E por que não liberar o desenho logo que os adolescentes manifestaram interesse? Sil conta que ela e o marido sempre cobraram responsabilidades na formação dos filhos e a espera cumpriu esse parâmetro.

Deixar ou proibir?

Antes de tudo, genitores devem questionar os filhos sobre o motivo pelo qual eles querem colocar adereços, lembrando-os que pode ser algo da moda, passageiro. "É fundamental propor uma reflexão junto aos filhos, de modo que eles possam repensar sobre o desejo que estão manifestando, analisando os prós e contras de tal decisão", orienta a psicóloga Lucy Carvalhar, especialista em Terapia Centrada na Pessoa e Terapia Cognitiva Comportamental.

Com um diálogo aberto e claro, os responsáveis devem mostrar as consequências de tais procedimentos, que deixarão marcas definitivas, mesmo que pequenas.

Dizer 'não' logo de cara?

Ainda segundo ela, não é adequado que os adultos reajam logo dizendo "não" ou proibindo que os filhos façam o que desejam, pois tal conduta só serve de estímulo para que queiram ainda mais adotar os adereços ou tatuagens.

Isso ocorre pois os adolescentes tendem a se sentir contrariados, uma vez que esse momento da vida é um período de descobertas e, principalmente, de desafios. Logo, a conversa é sempre a melhor alternativa.

Para a psicóloga Lucy, é "essencial haver uma orientação sobre não ser a fase ideal e certeira para escolhas definitivas, pois o cérebro ainda está em formação e o adolescente pode se arrepender com as decisões".

"Os pais também devem orientá-lo que toda decisão deve ser realizada com reflexão e não de modo impulsivo ou influenciável pelos amigos, grupos ou modismos, a fim de estimular a independência emocional e protagonismo do filho. Impulsionar a autoestima desse jovem também é preciso, assim, ele trabalhará a autoaceitação", recomenda Lucy.

Mostre alternativas

Já que dar uma negativa logo de início não é o mais indicado, os pais podem usar de manobras para chegar a um consenso com o filho. A princípio, vale mostrar alternativas que, de algum modo, supram a vontade dele, mas que não sejam permanentes.

Para isso, a especialista sugere a tatuagem de henna, que permite a vivência da experiência e é temporária. E, quanto aos alargadores, o brinco pode entrar como uma sugestão válida por deixar marcas bem menores —às vezes, quase nenhuma.

Com isso, o jovem pode experimentar na pele e no corpo aquilo que pediu, entendendo como é conviver com as artes ou adereços. De quebra, tem condições de refletir se faz sentido, se é aquilo que ele realmente quer. Afinal, ainda dá tempo de voltar atrás. Caso suas expectativas não sejam atendidas, poderá haver uma desistência —ou adiamento— no pedido.

A pedagoga Suzana Falango concordou que seus dois filhos se tatuassem aos 16 anos e o processo foi resolvido entre a família Imagem: Arquivo pessoal

Tatuagem aos 16

Embora alguns pais e responsáveis se mantenham contrários à ideia e proíbam, explicando a decisão conforme as orientações da psicóloga, também existem adultos que não veem problema no pedido e permitem a realização dos procedimentos. Ainda assim, é importante refletir e dialogar bastante. Do mesmo modo que a proibição não deve vir logo de cara, a permissão também precisa de tempo para amadurecer.

Foi o que fez a pedagoga Suzana Falango, 49 anos, de São Paulo. Seus dois filhos tatuaram aos 16 anos e o processo foi bem tranquilo e resolvido entre a família.

Como ela e o marido têm tatuagens, ela conta que, desde pequenos, os filhos perguntavam sobre os desenhos. Com o hábito de conversarem sobre todos os assuntos na casa, a mãe respondia tranquilamente às dúvidas sobre as tattoos, sempre expondo os prós e os contras de tê-las.

"Thiago, hoje com 20 anos, manifestou vontade de colocar brinco aos sete anos. O pai também usava e deixamos. Era o único da sala que tinha, mas isso nunca afetou sua opinião. Hoje em dia, ele tem as duas orelhas furadas. Com relação à tatuagem, aos 15 anos já tinha a arte decidida. A única coisa que eu opinei foi que ele deveria começar com uma menor para ter noção de como seria a dor", conta Suzana.

Os pais passaram pelo mesmo processo com o outro filho, Diego, hoje com 16 anos. Assim como o irmão, ele tem a orelha furada, mas só quis fazer isso aos 10. Quando pediu, teve o desejo acatado. Com tattoos, também seguiu os passos do mais velho: com 16 anos, também já sabia que queria uma tatuagem e qual arte seria. A concessão aconteceu novamente.

Segundo o psicanalista Gregor Osipoff, pós-graduado em neurociência e psicanálise, entender as motivações desse desejo é um bom começo. Isso porque a sociedade vive sob muitas influências, inclusive de modismos, e os adolescentes tendem a ser bastante suscetíveis.

Por isso, essa manifestação costuma estar relacionada à identificação e aceitação. Algo como: "se todos estão fazendo, por que eu não posso?", capaz de gerar até certa exclusão do grupo social.

"O posicionamento de deixar não está em ser mais ou menos liberal, mas em trazer sempre para uma reflexão do quanto isso pode impactar na vida e da importância que este ato tem para o filho. Isso serve para que a atitude não seja feita por impulso e vire arrependimento futuro. É importante pensar bastante no que vai ser tatuado e, se possível, tendo a participação dos pais como orientadores", salienta o profissional.

Portanto, se a ideia for permitir a tatuagem ou os piercings e alargadores, está tudo bem desde que essa decisão tenha sido pensada, ponderada e refletida, sobretudo em família. A dica de Gregor é: o diálogo é sempre o caminho mais positivo. "Ouvir, falar e pensar permitem entrar no universo dos filhos. Lembre-se também de trazê-los à compreensão dos adultos", aconselha.

"Para as mães que têm dúvida, meu conselho é sempre conversar abertamente, mostrar os dois lados e deixar que eles tomem a decisão. Não me arrependo de ter deixado. As tatuagens deles mostram bem seus caráteres e tenho muito orgulho dos homens que eles estão se tornando", acrescenta Suzana, sobre as artes dos 'meninos', que homenageiam a família, a crença e também seus hobbies.

O que diz a legislação

Antes de conseguir ou não a permissão dos pais ou responsáveis para se tatuar enquanto for menor de idade, vale saber se a própria lei permite isso. De acordo com o advogado Felipe Luiz Faustino, sócio do escritório Yuki Faustino e Teles Sociedade de Advogados, não existe uma legislação federal específica que trate do tema.

Ou seja, não há uma lei que vigore no país todo sobre isso. Contudo, há legislações estaduais sobre essa permissão, em que alguns estados proíbem a realização em menores de 18 anos.

"Há estados que permitem que o procedimento seja feito em adolescentes acima de 12 ou 16 anos, mediante autorização expressa e acompanhamento dos pais ou responsáveis. Vai depender de cada lugar. Em São Paulo, por exemplo, tatuagens e perfurações são permitidas apenas após a maioridade", comenta Felipe.

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