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Dá pra transformar hobby em negócio? Empresária que fatura milhões dá dicas

Florencia Jinchuk, fundadora da The Chemist Look - Divulgação
Florencia Jinchuk, fundadora da The Chemist Look Imagem: Divulgação

Caroline Marino

Colaboração para Universa, de São Paulo

11/07/2022 04h00

A empresa de cosméticos The Chemist Look foi fundada em 2016 no Uruguai por Florencia Jinchuk, 32. No final do ano passado, decidiu abrir também no Brasil. E o resultado já é promissor: para 2022, a estimativa é que o faturamento chegue a R$ 20 milhões.

A área que hoje a torna uma empresária de sucesso entrou em sua vida como um hobby. Há oito anos, sem saber em que carreira seguir, começou a escrever em um blog. Lá, analisava e compartilhava com as leitoras suas impressões sobre produtos de beleza, dos mais variados. O diploma em um curso de ciência cosmética aumentava a credibilidade dos posts. "Eu funcionava como uma detetive da indústria", diz. As análises seguiam a linha: "faz sentido usar creme para olhos ou é a mesma formulação de um para o rosto?", ou então "devo pagar US$ 500 em um hidratante ou ele tem a mesma fórmula de um de US$ 20?".

Em paralelo, Florencia começou a criar seus próprios produtos, pois sentia que havia um gap entre a inovação e os itens que as pessoas podiam comprar. "Normalmente, o processo pode demorar em torno de cinco anos", diz. O blog cresceu e, como muitas leitoras pediam indicações de produtos, ela decidiu vender os que fabricava. "Poderia recomendar coisas no mercado, mas sabia que era possível criar fórmulas mais direcionadas às demandas", afirma.

Esse foi o início da The Chemist Look. Hoje, o negócio está presente, além do Brasil e do Uruguai, na Argentina e no Chile, e há mais de 40 mil clientes cadastrados em sua base. Em 2021, foram vendidos mais de 70 mil itens, como boosters, ácidos renovadores, emulsões de limpeza facial e hidratantes.

As vendas são feitas pelo site e, no Brasil, diferentemente de outros países, podem ser realizadas em seis lojas físicas da Drogaria Iguatemi. "O consumidor brasileiro é muito exigente e gosta de 'ver' o produto com as mãos, sentindo cheiros e texturas. O nosso objetivo com a parceria é proporcionar essa experiência para quem sente a necessidade de estar em contato com o produto antes da compra", conta Flopi.

Bons contatos abrem portas

A estruturação da empresa foi um processo natural. Como vem de uma família de empreendedores e sua mãe tem um negócio no setor da saúde, Flopi usou essa estrutura para começar. "Não é na área de cosméticos, mas tinha todas as regulações que eu precisava e a parte financeira. Assim, eu podia focar nos produtos", diz. Com o tempo e o negócio crescendo, ela foi em busca de ajuda e parceiros, usando seu networking para abrir portas. Ao lado do amigo Santiago Campo, que tinha uma consultoria, ela montou o plano de negócio e preparou a expansão da marca, já que as clientes estavam em outros países também.

Depois da expansão para Argentina e Chile, Flopi, que já teve como mentor Alessandro Carlucci, ex-CEO da Natura, começou a vislumbrar mais crescimento. Ela decidiu conversar com o executivo sobre a empresa e seus planos. Carlucci investiu no negócio e foi assim que a The Chemist Look veio para o Brasil. "A entrada do Alê foi a chave para essa expansão, pois ele conhece e tem vasta experiência no mercado brasileiro", afirma.

Antes desse investimento, Flopi já havia conseguido aporte de Sérgio Fogel, cofundador da dLocal, primeiro unicórnio uruguaio que estreou na Nasdaq em 2021 com avaliação de US$ 11 bilhões e, recentemente, entrou para a lista da Forbes como um dos maiores bilionários do mundo.

'Crescer leva tempo e paciência é fundamental'

A empreendedora ressalta alguns pontos importantes para ter sucesso. O primeiro, que pode até parecer clichê, é a paixão pelo negócio. "Se você não tem essa paixão, se não ama o que você faz e não crê em seu propósito, é muito difícil seguir. Momentos desafiadores acontecem o tempo todo e você tem de acreditar, quase de uma maneira maluca, no que faz", aconselha.

Outro pilar é ter paciência e não atropelar os processos. "Quando empreendemos, é normal pensar: 'vou fazer a empresa crescer'. E queremos tudo logo: as informações, os resultados, a expansão. Mas tudo tem seu tempo e, para um negócio bem feito e de sucesso, é preciso profundidade e maturação", afirma.

Tão importante quanto esses pontos é o time. "Você não tem nada sem uma boa equipe", diz. Segundo ela, as pessoas que trabalham com você são seus primeiros clientes e é essencial "vender a empresa a eles". "É preciso encantá-los com o negócio para que compartilhem do mesmo propósito e sonho que você. Assim, tudo flui com mais naturalidade", explica.

'Autocuidado é essencial'

Flopi destaca, ainda, a importância de cuidar da mente e do corpo. "Às vezes, trabalhamos 20 horas por dia, temos de viajar, fazer inúmeras reuniões, pensar na estratégia e em tantas outras coisas. Porém, é essencial encontrar o equilíbrio e prestar atenção à vida pessoal para não adoecer e ter um burnout, por exemplo. E os únicos que podem colocar esses limites somos nós mesmos."

Segundo ela, sempre vai haver muita pressão sobre o fundador. "Você pode ter o melhor time, mas, no final do dia, a pressão que tem em seus ombros é muito grande. Quando as coisas acontecem, você ouve que é incrível; mas se algo dá errado a cobrança por uma solução rápida é enorme", diz.

Hoje, ela tenta separar bem as coisas, ter tranquilidade e nunca pensar de forma extremista. "Não podemos nos sentir as melhores quando o negócio vai bem, nem um fracasso quando algo dá errado", finaliza.